quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Rabit


Participando da Blogagem Coletiva do Blog A Vitrine dos Sonhos - 1ª Edição - Era Uma Vez.
Quem vem junto? Gostam de contar histórias?

      Era uma vez, uma menina que vivia no Castelo Mindus, em Jordão, um pequeno vilarejo.  Rabit era uma menina tímida, filha de uma mucama que ajudava a princesa Sophia, filha da rainha Ester. O rei, Leopoldo, havia falecido há pouco e como não tinham filhos homens, Sophia era a responsável pela boa ordem no Vilarejo.

      Rabit vivia pelos cantos, espiando todos os passos de Sophia e ficava imitando-a nos trejeitos, andando nas pontas dos pés, como se estivesse de salto alto. Pegava uns trapos e amarrava-os na cintura, imitando vários saiotes, como os de Sophia. Com uns restos de pergaminho, recortou com todo o cuidado, colou pedrinhas e fez uma coroa, que colocava majestosamente em sua cabeça e desfilava pelos corredores vazios do Castelo Mindus. Não podia ser vista, pois temia represália de sua mãe.

      Rabit cresceu, ficou linda e aprendeu a ler e a escrever. Porém, não tinha recursos para ter roupas e sapatos maravilhosos e brilhantes como os de Sophia. Continuava observando a princesa, pelos cantos, e imitava-a, toda orgulhosa. Seus cabelos ruivos e cacheados caíam majestosos sobre os ombros, descendo como cascata até à cintura, como se fossem molas se abrindo e fechando. Ainda tinha a coroa feita com pedaços de pergaminho, que guardava com todo o cuidado num lugar secreto.

      Um dia, Sophia percebendo o olhar curioso de Rabit, chamou-a até seu quarto, abriu seu armário, tirou alguns vestidos e deu-os a ela. Depois pegou um par de sapatos de salto alto, todo cravejado de pedras brilhantes e também deu-o para Rabit. Ela não aceitou, claro, mas seus olhos brilharam tanto ou mais do que aquelas pedras. Inconformada pela desfeita, chamou a mãe da moça, sua mucama, e disse que aceitasse as roupas, como presente, para Rabit. A mãe sem jeito, sempre de cabeça baixa, também disse que não podia aceitar, pois eram roupas caras e sua Rabit não tinha o costume de usar tanto luxo. Sophia juntou tudo e colocou nos braços de Rabit e disse que era presente e não podia recusar, pois era a princesa do castelo.

      Rabit e sua mãe, encantadas, saíram do quarto de Sophia, mal fecharam a porta e correram para os aposentos da mucama. Rapidamente Rabit se despiu e experimentou um a um os vestidos e colocou os sapatos brilhantes.

      Como não tinha o costume de usar saltos andou com dificuldade, mas depois de muitos treinos conseguiu desfilar elegantemente nos corredores vazios do castelo. A coroa não mais lhe cabia, o que a deixou triste, mas as roupas lhe fizeram formosa, e os sapatos lhe levavam às alturas. Imponente, linda e bem-vestida. Estava pronta para frequentar os bailes do Castelo Mindus e arrumar um pretendente. Já estava na idade de formar sua própria família.

      E foi o que aconteceu, Rabit foi ao baile, muitos olhos curiosos querendo saber quem era a moça ruiva com cachos em forma de cascata e logo foi cortejada por um príncipe de um outro vilarejo. Se encantaram um pelo outro, se casaram e Rabit foi ser a princesa do Castelo de Duane, com seu príncipe encantado.

      O Castelo de Duane não era tão formoso como o de Sophia, nem tinha corredores desertos e nem centenas de quartos ou salão de festas. Rabit não teria o luxo de ter sua mucama e nem condições de encher os aposentos com lindos vestidos e sapatos brilhantes, mas Robert, seu príncipe, era um príncipe apaixonado e tratava-a como como uma rainha. E viveram felizes para sempre.

      Fim.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quando eu Crescer


Participando da Blogagem Coletiva do Blog M@myrene - 20ª Edição.

      Muito a contragosto, dona Mafalda sempre arrastava Fabrícia para que lhe ajudasse com as tarefas de casa. A pequena não gostava nada. Na verdade, dona Mafalda não queria desgrudar os olhos da filha, que não parava quieta e aprontava muito. Então o jeito era arrastá-la para todos os lados e para não ficar emburrada a mãe lhe contava histórias.

      Fabrícia ficava observando e fazia perguntas sobre o que a mãe contaria. Muitas vezes ela mesma criava personagens e terminava as histórias. Um momento que seria chato para uma garota que acabara de aprender a ler se tornava prazeroso com a criatividade da mãe.

      Um dia, dona Mafalda estendendo roupas no varal, antes de começar a contar mais uma história, perguntou para a pequena o que ela gostaria de ser quando crescesse.

      - Jogadora de futebol, mamãe - respondeu prontamente.

      - Jogadora, filha, por que? - perguntou curiosa, dona Mafalda.

      - Não gosto de bonecas e o papai não me deixa nunca brincar no campinho com os meninos. As meninas são muito chatas e só gostam de brincar de coisas que eu não gosto. Não tem graça ficar sentada no chão brincando. Não gostam nem de apostar corrida. Jogar bola é que é bom. - concluiu a pequena Fabrícia.

      Espantada, dona Mafalda terminou rapidinho de estender as roupas e correu para dentro de casa. Não sabia que atitudes tomar quanto à filha, pois meninas são delicadas, mimosas e nunca soube, pelo menos naquela cidade, de meninas jogando futebol. Onde será que Fabrícia viu garotas nesse esporte?

      Pegou uma vela e foi ao oratório pedir para Santo Antônio cuidar de sua menina, tão pequena, tão meiga e já querendo chutar o mundo por aí. Não suportava futebol. Seu marido só sabia assistir futebol na TV e agora mais essa, ter que aceitar a filha jogando futebol.

      - Santo Antônio do céu, pelo amor de Nosso Senhor, arranca essa ideia da cabeça da menina, por favor, por tudo que é mais sagrado! Onde já se viu uma mocinha indefesa querer jogar futebol com os meninos, Santo Antônio, eu estou certa, não estou? Tenho que preservar minha filha, sua integridade e seu futuro. Então, meu santinho amado, desvie essas ideias tortas da cabecinha avoada dela, tá bom? No seu dia eu prometo doar cinquenta pãezinhos para serem distribuídos para os pobres. Sua bênção, amém!

      Dona Mafalda não via a hora do marido chegar e contar a novidade. Teria que ser sem Fabrícia escutar, pois o tanto que o pai gostava de futebol era bem capaz de gostar da ideia e incentivar a pequena.

      - Melhor me agarrar com Santo Antônio. Este sim, não me falta nunca!

      Fim.



   

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mulheres Sem Prazo de Validade


Uma querida amiga, Pauline, fará o lançamento do livro Mulheres sem Prazo de Validade.

Livro que terá lançamento carioca, na Livraria Argumento, no Leblon.
Dia 29 de novembro de 2013, às 19h.

Livraria Argumento - R. Dias Ferreira, 417 - Leblon
Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2239-5294


Apresentação do livro:

Difícil tarefa: olhar-se e ver. 
Quando estamos de frente para o espelho não vemos as costas. 
Logo nossa visão é parcial sobre nós mesmos. 

Já diria Glorinha Khalil, uma de nossas musas da elegância, que é preciso colocar um espelhinho para nos ver de costas e aí saber se o visual está realmente “ok.” 
Boa ideia, também podemos colocar um espelhinho em diversos outros lugares.

Esconderijos, onde enfiamos a cabeça para não ver aquilo que está na cara – nós mesmos. 
Aquele ser que conhecemos mesmo antes de nascer. 

Mentir para si por quê? Melhor descobrir-se, e já. Não para ficar com a “bunda de fora”, mas por que não adiantam as justificativas, nem fingir que não viu. Todo mundo vê o outro de forma tridimensional. De frente, de trás (como diria Rita Lee “eu te amo cada vez mais...”), somos nós mesmos. E vermos aquilo que somos sem mais rodeios faz parte do nosso caminho rumo à autoestima e à falta de medo diante do que quer que seja. 
Poder dizer: “sou eu – está bom ou quer mais?” 
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Veja tudo o que apronta essa moça, se não é uma grande mulher, admirável!

Nasceu no Estado do Rio de Janeiro e mora há 15 anos em São Paulo.
É formada em Ciências Políticas e Sociais pela PUC – RJ e em Psicologia pela Universidade São Marcos – SP. 

Durante 16 anos foi Redatora e Diretora de Criação em diversas agências do Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo, tendo recebido inúmeros prêmios por seus trabalhos em nível nacional. 

Escreveu dois musicais para crianças: “Bom Dia Alegria” produzido no Rio de Janeiro e encenado no Teatro da Galeria e “A Lâmpada Flutuante”, baseada na travessia de Amyr Klink, produzido no Rio de Janeiro e encenado no Teatro Ipanema e em São Paulo no Teatro do Vento Forte, todos dois aclamados pela crítica e pelo público. 

Frequentou por dez anos os seminários do Colégio Freudiano do Rio de Janeiro, aprendendo os conceitos de Lacan e também da Nova Psicanálise. 

Estudou Ecossistemic Family Therapy no Roberto Clemente Center, Gouvernuer Hospital, NYC, e trabalhou como Activity Therapist e Case Worker no Sylvia Del Villard Day Hospital Program. Hoje atualiza sua formação no seminário semanal do Psicanalista Rubens Molina, e atende em consultório particular.

Leitura mais que obrigatória. 
E não é só para mulheres não. 
Homarada também é bom de ler, para entender melhor o mundo das amigas, companheiras, mães, namoradas, filhas...

Post copiado do querido amigo Mauj Alexandre, do blog Lost In Japan. Querem conhecer o Japão via internet? Conheçam o blog dele!

"Livro bom me deixa contente, feliz mesmo.
Neurônios vibram com uma boa leitura.
Fora todo o aprendizado, o crescimento interior, a cultura...
Mundo bom que só um livro te traz.

Quantos livros não reúnem toda uma vida de estudos, pesquisa, suor, acertos, erros, fracassos... experiências de seus autores?
Tudo materializado em um tomo, prontinho pra gente pegar e digerir tudo. Facinho, facinho.
Coisa melhor que isso, existe? Claro que não!"

Mauj Alexandre Imamura

Sabor de Arco-Íris



Martha Medeiros nos conta uma experiência fascinante nesta crônica.
Claro que não lida todo dia com esse monte de crianças. 
Aí não seria fascinante mas atordoante!

Sabor de Arco-Íris


O assunto em pauta é literatura.
Semana do livro, Bienal do livro, lançamento de livros.
Aleluia!
Um dia a turma que não lê vai descobrir o que está perdendo.

Pois entre tantos eventos para incentivar a leitura, fui convidada a participar de uma que me deixou ligeiramente aflita: conversar com alunos de um maternal.
Eu já havia estado no colégio Anchieta conversando com a turma da minha filha mais velha, que tem 10 anos.

Agora o convite era para falar com a turma da minha filha mais nova, de 5, no Amiguinhos da Praça.
Fiquei imaginando como seria ficar cercada por um monte de baixinhos que mal sabem escrever o próprio nome.
Que perguntas fariam? Quantos segundos levaria para eles perderem o interesse nas minhas respostas?
Perigo: crianças!

Mas não amarelei. Chegando lá, sentei no chão, numa rodinha. Vários pares de olhinhos me examinavam. Não saí correndo. A tia perguntou se alguém queria fazer uma pergunta. Oba, vou ganhar tempo até um deles criar coragem, pensei. Todos levantaram o dedo. To-dos!

A partir daí foi uma festa. Passei meia hora na Terra do Nunca, bombardeada por um afeto e uma espontaneidade que me tornaram consciente de tudo o que a gente perde quando vira adulto.
Alguém perguntou se era verdade mesmo que o papel vinha da árvore. Se eu já tinha escrito um livro sobre dinossauros. Como é que eu fazia para dormir depois de ler uma história de terror.

Se era eu mesma que juntava as páginas para montar o livro. De onde vem a palavra certa. Por que meus livros não têm desenhos. Se dava para jogar futebol e ser escritor ao mesmo tempo. Qual o chiclete que eu mais gostava. Tu conhece a Disney? Meu pai é engenheiro. Meu pai não tem emprego. Minha mãe te adora. A minha faz macramê. Eu gosto de livro de amor e livro de monstro. Tenho 2 irmãos. Eu, 2 pais.

Ainda durante aquela tarde, ouvi minha filha dizer que pirulito tem sabor de arco-íris. E um menino, malandro, me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. E eu lá quero crescer?

(Martha Medeiros em "Montanha Russa")

Recebi esse texto por email do amigo Roberto. Compartilho com vocês um pouco da ingenuidade e a inocência que perdemos tão rapidamente e nos esquecemos com o passar do tempo. Pena!



sábado, 23 de novembro de 2013

Bandido Celebridade

Foto veja.abril.com
"LÓGICA INVERTIDA
No Dia Mundial da Filosofia, seria bom que se pusesse fim a essa lógica invertida que parece dominar algumas cabeças "pensantes" por aqui: QUANTO MAIS LADRÃO, MAIOR A CONSIDERAÇÃO. Falei bobagem? Dá só uma olhadinha para a consideração que os mensaleiros estão tendo... Até parece que receberam uma honraria com a condenação. Se isso não é lógica invertida, então não sei o que é."
Um post do facebook, que a amiga Marli Soares Borges colocou para que pudéssemos opinar.
Esses dias estava conversando com minha filha a respeito de pessoas assim, que aprontam, mentem, roubam e mesmo assim ainda têm o seu valor, ainda são paparicadas, ainda têm atenção de todos e são até vistas como coitadinhas e vítimas da situação.
 Não sabia o que responder, então me veio à mente que pessoas assim precisam mais de ajuda do que os de bom caráter, íntegros. Isso é a pura lógica invertida sim, como disse Marli. É injusto, pois quem é bom caráter precisa de atenção e cuidados também. Por outro lado parece que quem é mau caráter é vítima de comoção, tanto boa quanto ruim, e é do ser humano querer ajudar de alguma forma, querer modificar a pessoa, transformando-a numa boa pessoa. Acho que isso é possível, se a pessoa aceitar a sugestão e mudar por livre e espontânea vontade. Não quer dizer que seus erros tenham que ser perdoados. Há um preço a ser pago e a justiça deve sim ser cumprida à risca. Mas a justiça no Brasil é cheia de falhas, de contornos e os advogados cada vez mais espertos para acharem brechas e modos de inocentar um grande criminoso. Privilégio para poucos, para endinheirados ou bandidos famosos, querendo pegar a carona da fama, mesmo que negativa, e assim ficarem na história.
Falando desse cidadão da foto e de mais alguns que, com certeza, não ficarão presos, a indignação é geral, mas mesmo assim, está ele todo pomposo com cara de paisagem, indo se tratar num hospital de elite. Alguém tinha dúvidas de que isso iria acontecer?
 A mídia ajuda muito a divulgar os podres de uns canalhas, mas atrapalha e muito! Um traficante poderoso que está preso não pode dar um passo que uma escolta gigantesca o acompanha. TVs do mundo inteiro ficam a postos à espera de um furo de reportagem e o assunto é discutido incansavelmente. 
 Me lembro daquele caso da garota Eloá que ficou cativa no apartamento sob ameaças do ex-namorado que não se conformava com a separação. A repercussão foi tão grande que vários programas de televisão queriam falar com ele por telefone e perguntar o porquê de sua atitude. Oras, bolas, porque é bandido, mau caráter, doente! Precisa perguntar? E depois umas das advogadas (sim, mesmo não tendo dinheiro suficiente, o indivíduo teve vários advogados), bem, uma das advogadas disse num desses programas que ele estava reclamando que tinha apanhado na prisão (...)
São tantos os casos que dá nojo, dá desânimo, revolta e estamos cansados de saber que quem faz as leis são eles que estão lá. Eles que aprovam, que escolhem, que redigem, enfim, o comando está nas mãos deles.
Na vida comum de gente comum também acontece o mesmo. Quantos filhos que são classificados como quietos e obedientes são esquecidos num canto enquanto o filhos problemáticos sempre têm a maior atenção da família? O que era para ser um incentivo para que, quem sabe, o problemático tome como exemplo o irmão quieto é um verdadeiro tiro pela culatra. Às vezes atitudes dos pais em ignorar o tímido, o normal, se preocupando mais com o outro está fazendo mal aos dois. Um por carência e indignação e o outro por ter a certeza de que para ter a atenção de todos basta aprontar muito, da pior forma possível.
Voltando aos políticos. Uma frase que também vi no facebook: "Político é funcionário público e deve ser tratado como um funcionário comum e não endeusado como de costume". É bem por aí mesmo, basta ser deputado, senador, presidente e lá vem o altar para subir. Sim, respeito é bom e todo mundo gosta, mas endeusar um político é a pior das atitudes de um cidadão.
Já me chamaram de alienada, que, por ser formadora de opinião (eu?), não poderia propagar certas coisas, mas tudo isso me dá nojo! Não tenho mais paciência para ficar escutando ladainhas e tudo virar a mesma bosta de sempre. Faço minha parte nas urnas, ensino meus filhos a pensarem, raciocinarem e só!
Não desejo o mal a eles. Sou cristã e por isso não me permito desejar o mal a ninguém. Eles mesmos se enforcam, se destroem. Talvez fiquem impunes na justiça dos homens, mas não sabemos qual o fim de cada um.
Então, continuo com o mesmo pensamento quando me chamaram de alienada: se não atingir a mim, minha pessoa, ou meus filhos e minha casa, que se danem todos! (Sei que atinge sim, já que roubam nosso dinheiro, mas acho que vocês entenderam o que eu disse).
Para aquela que me chamou de alienada, que briga tanto por um assunto que não a levará a lugar nenhum, lembro-a que dentro de sua casa tem gente que precisa de sua atenção, e que talvez por ela não ter tempo para prestar atenção e cuidar com carinho, ou mesmo ouvir e aceitar que nem todos pensam igual a ela, essa "gente" vai lhe escapando das mãos pela forma mais triste que existe. Falta de amor!
 
 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Meu Primeiro Livro

Blogagem Coletiva da Irene Moreira, Blog M@myrene
19ª Edição. Vamos participar?

   
      Indecisa e por insistência de sua mãe, Lucimara não sabia qual livro ler primeiro. Pegou o mais fino para não demorar muito na leitura. Deu uma folheada e não viu figuras, mas já estava bom, afinal achara esse livro no banco da pracinha, em frente a sua casa. Apenas um bilhete dentro: "este livro não foi perdido e nem esquecido. Ofereço-o a você para que leia e passe adiante. Ele faz parte do projeto BookCrossing, que está na sua 7ª edição."

      Achou interessante alguém compartilhar um livro pois sempre foi muito ciumenta com suas coisas e nunca teve o hábito de ler livros. Pegava os resumos na internet e fazia as provas sobre o assunto, enfim, sempre achou um tédio ficar lendo, lendo, lendo...

      Era um romance de José de Alencar, A Pata da Gazela. Lucimara nunca ouvira falar desse escritor. Começou a leitura e não mais parou até a última página. Simplesmente amou!

      Se encantou com o modo que o autor descreveu a história, as palavras usadas, a emoção, a descrição era tão real que chegou a entrar na cena e visualizar as personagens.

      Ainda com o livro nas mãos, abraçou-o junto ao peito, fechou os olhos e ficou triste por ter terminado de lê-lo. Foi tão rápido!

      Foi até a estante e pegou um outro livro, agora mais grosso, empoeirado e com as páginas amareladas. Muito tempo sem abri-lo, coitadinho, ficou velho! Era essa a sensação de Lucimara com os livros antigos de sua mãe que sempre deu o exemplo da leitura, mas ela nunca havia se interessado.

      As conversas na internet, os passeios à toa com as amigas e as sorveterias ficariam em segundo plano. Queria viajar por mundos descritos, lugares inventados, planetas habitados e distantes, queria conhecer um vasto universo onde as palavras, uma do lado da outra, descritas e bem encaixadinhas, faziam emocionar. Um mundo de fantasia e realidade, vidas escancaradas, gargalhadas escandalosas, moças desfrutáveis, meninos-homens e um cenário que só conheceria folheando algumas páginas escritas. E nem se importava se haviam figuras ou não. As figuras não dizem com tantos detalhes como os escritores descrevem. Sempre fica alguma coisa a ser observada e os escritores sempre observavam esse detalhe.

      Uma pilha de livros já estavam na espera para serem lidos. Lucimara, ansiosa, devoraria-os um a um.

      Fim.
     

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Camponês Infeliz

Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene, Momentos de Inspiração 18ª Edição. Uma delícia de blogagem. Vamos participar?

      O sol mal acabara de nascer e Hemily já estava sentada no parapeito de sua janela para saltar. Não tinha medo de altura e já fizera esta proeza algumas vezes. Cairia em cima de uma folhagem densa no formato de um muro que cercava toda a casa. Colocou mais dois saiotes para não se arranhar nos espinhos. A mala já estava escondida dentro desse muro verde que Hemily colocara no dia anterior, quando os pais estavam distraídos tomando o chá da tarde.

      O único perigo seriam os gansos começarem a berrar, mas Hemily estava acostumada, desde sempre, a brincar com os brancos desengonçados.

      Hemily era do tipo inquieta, muito além da época em que vivia, em pleno século XVIII. Não aceitava ordens e nem casamentos arranjados entre as famílias. Não suportava a ideia de conviver com um estranho e muito menos ter alguma intimidade com um homem porco e fedorento, como costumava descrevê-los.

      Com muita calma, olhou para o céu e vislumbrou os raios do Sol, espreguiçando e clareando o azulão da noite. Um dia que prometia muita agitação naquela mansão luxuosa da família Streiner.

      Hemily pensou em usar a charrete, mas faria muito barulho, então, com coragem, propôs fuga a um admirador camponês, somente para que ele carregasse sua mala. Depois o dispensaria na estrada, dizendo ter mudado de ideia. Mas cadê o moço que não aparece? Não seria fácil carregar uma mala grande e pesada tendo mãos suaves e finas de uma donzela princesa do castelo do rei malvado, como assim descrevia sua vida com seu pai enérgico e carrancudo.

      Caminhou pela estrada arrastando as saias e carregando a mala, bufando de cansaço. Não conseguiu nem chegar na porteira que daria para a estrada principal.

      Procurou uma sombra para descansar, se sentou em cima da mala e ali ficou esperando Rotsgarden, o camponês, aparecer. Não apareceu o infeliz. A sede apertava, a poeira da estrada e a ventania não seguravam seu chapéu na cabeça. Foi-se o chapéu. Uma prova importante para rastrearem e fossem procurá-la quando dessem por sua falta. Hemily estava tão exausta que nem se importou. Deixou que o chapéu tomasse seu rumo.

      Mas cadê aquele que se dizia apaixonado e que carregaria sua mala?

      Não apareceu o ingrato! Hemily, então, deixou a mala no pé de uma paineira e voltou para casa, resmungando, praguejando e chutando pedras que se atreviam a ficar em seu caminho.

      Chegou na casa grande e se lembrou que pulou a janela, portanto não teria como entrar na casa. Teria que esperar alguém abrir a porta e inventar uma desculpa qualquer para explicar como ela fora parar do lado de fora, assim de manhã cedo.

      Podia dizer que era sonâmbula, mas não acreditariam. Diria que caiu da janela, mas também não acreditariam porque perguntariam porque não chamou alguém para lhe socorrer. Diria que não sabia, que acordou do lado de fora, toda vestida e não tinha explicação, como se fosse uma amnésia momentânea. Reclamaria de dor na cabeça, subiria, dormiria o dia todo e ninguém a perturbaria.

      Se sentou na escadaria, cruzou os braços, o beiço ressaltado no lindo rosto angelical e esperou... Esperou... Esperou...

      A porta se abriu, seu pai, ainda em trajes de dormir, foi até Hemily, puxou-a pelo braço e arrastou-a até o quarto. As janelas já estavam trancadas e a porta também ficaria trancada por um bom tempo como punição por ela ter a ousadia de pensar em fugir. Chutz, o pai carrancudo, já sabia de toda a armação, pois o camponês havia lhe contado.
     
     Fim.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa

domingo, 10 de novembro de 2013

Mensagem Sem Resposta

No facebook:

Alguém comentou com um amigo muito querido que havia falado com Nilce na noite anterior, dizendo que ela estava cansada de viver e que já havia tomado vários remédios. Esse alguém mandara várias mensagens para Nilce, mas nenhuma fora respondida.

Tarde demais...

Não suportando a vida, os problemas, a solidão na multidão, Nilce se foi...

Espalhou tanto carinho, tanto afeto, sorrisos contagiantes mas sua vida real era dolorida demais para satisfazer e deletar suas dores... A vida pesava muito e fugir era a única opção que conseguia pensar...

Lá se foi Nilce para os braços do Pai...

Nilce Gibson, querida amiga virtual
 
Olha, não viemos a essa vida a passeio, temos sim um propósito de passar pelo que passamos, sofrer o que temos que sofrer, amar quem amamos, enfim, nada é por acaso.

Dores são individuais, assim como alegrias. Não dá para descrever os sentimentos de uma pessoa. Cada um sente de um jeito e de uma intensidade. Dores da carne geralmente se curam com medicamentos. Dores da alma, nem sempre conseguimos.

Às vezes o raciocínio é mais que um complô contra nós mesmos, querendo sair dessa zona de sofrimento, de angustia, nos levando a atos dramáticos contra a própria vida.

Não há o que fazer após esse gesto. Só oração, muita oração...

Mas há o que fazer enquanto se tem vida. Prestar atenção a quem está ao nosso lado, que convive conosco, as tristezas, os choros escondidos, o olhar perdido, as palavras estranhas... Saber ler nas entrelinhas, cuidar, ficar perto, dar atenção, carinho, ouvir, ouvir, ouvir... Sem julgar, sem tentar achar uma solução.

Não adianta tentar resolver o problema de quem sofre da alma doente. Não quer solução, quer atenção, quer gritar que está ali e precisa de algo, mesmo sem saber o quê.

Um abraço faz toda a diferença na vida... Coração com coração... E se puder, um beijo bem carinhoso, um afago nos cabelos, os polegares enxugando alguma lágrima pedindo socorro...

Olhar bem no fundo olhos e se fazer presente, de coração, de alma...

O ser humano é complexo e precisa ser observado, sempre.

Viver dói...

Pai de misericórdia, acolha essa alma sofredora, perdoe seus pecados e lhe dê um bom caminho espiritual.
Nossa Senhora, mãezinha querida, cubra com seu manto sagrado essa amiga que não suportou estar viva...
Amém!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O Pavor Que Cega


Esta semana eu estava trabalhando e o telefone tocou. Era uma ligação a cobrar.

Era minha filha, aos prantos, mal conseguindo falar palavra por palavra. Só consegui ouvir que ela tinha sido roubada.

Gelei! Comecei a chamar o nome dela: "Amanda, onde você está? Roubaram o quê, o celular?"

Ela soluçava e só dizia que tinha sido roubada.

Ao fundo ouvi uma voz de homem que mandou ela colocar a cabeça pra fora, pegou e telefone e começou a conversar comigo: "Alô, a senhora é o quê dela?", perguntou o rapaz. "É a Amanda que está chorando?", perguntei, já tremendo e mal conseguindo falar. "É, sim senhora, ela foi vítima de um assalto e reagiu. Então coloquei ela dentro do meu carro. Ela me deu esse número e disse que a senhora não ia deixar nada de ruim acontecer com ela. Meu problema, minha senhora, é financeiro..."

Num impulso desliguei o telefone. Em seguida ele tocou de novo. Não atendi. Não conseguia nem respirar, tremia muito e tive que me sentar. Me levantei em seguida e comecei a andar de um lado para o outro. Não conseguia raciocinar. Tinha que ligar para alguém, tinha que ligar para o celular de minha filha, mas não me lembrava do número. Peguei a agenda e não conseguia folheá-la. Não me lembrava de nada e a única coisa que pensava era na minha menina chorando dentro do carro de um desconhecido.

Com muito custo consegui abrir na página com o telefone dela. Liguei e ela não atendeu. Menos mal, se tivessem roubado o celular, já o teriam desligado. Liguei de novo: "Oi, mãe".

Sentei, respirei fundo, engoli o choro e perguntei se ela estava bem e onde estava. Estava na faculdade, estudando, como faz todos os dias.

Ainda fiquei um bom tempo tremendo e com medo da minha impulsividade de ter desligado o telefone. E se realmente ela estivesse dentro do carro do cidadão? E eu desligando o telefone será que fariam algum mal a ela?

Não que eu seja antenada, ligada em tudo, principalmente nos perigos e nos trotes que acontecem, mas depois de um tempo percebi que a voz não era de minha filha, que o choro não era como o choro dela, enfim, no pavor, a gente não pensa, não raciocina e qualquer pessoa pode cair em armadilhas desses pilantras que só querem vida fácil.

Imagina uma pessoa idosa com problemas cardíacos, que tem o raciocínio lento, atendendo um telefonema desse?

Passou, graças ao bom Deus. O pavor é imenso e coração de mãe deveria ter vários corações espalhados pelo corpo, caso algum falhe, tem outro para substituir.

Um horror!



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Não Tá Fácil Pra Ninguém

Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. 17ª Edição. Vamos participar?

      Querida Sofia,

      Sofia, hoje fui numa livraria comprar um livro de receitas pra dar de presente. Comecei um papo com o livreiro, que acho que é vendedor e lhe perguntei sobre os livros. Queria fazer uma pesquisa sobre como andam as vendas dos livros.

      Sabe o que ele disse? E acho que não estava brincando não, que livro de histórias, romances, não tem tantas vendas assim não, que nem os antigos famosos ele consegue vender. Me mostrou um monte de Machado de Assis. Depois me levou numa banca com os lançamentos e estavam todos lá. Ele disse que só os que saem na mídia é que são procurados e que o povo acha caro um livro custar vinte reais.

      Eu acho caro também, mas depois que comecei a escrever acho muito pouco. Quanto tempo temos que nos dedicar a escrever pro livro custar tão pouco? E olha, Sofia, que tinha livro pra caramba lá!

      Eu lhe disse que era escritora e que tinha alguns contos lançados numa coletânea, portanto nem era tão escritora assim. Ele disse que sim, que eu era escritora por ter lançado escritos meus, não importando como. Bem, se ele disse, quem sou eu pra contrariá-lo?

      Me mostrou algumas opções de livros que poderiam vender um pouco mais. Depois perguntei se eu lançasse um livro se ele compraria pra colocar na livraria. Ele disse que não podia fazer isso justamente porque não tinha saída. A única coisa que ele poderia fazer era pegar em consignação, mas que todos que ele pegou em consignação não vendeu nenhum! Então porque eu deixaria livro meu lá?

      Ele deu dois exemplos de livros que venderam muito: quando o Faustão faz a propaganda ou quando alguém do Big Brother lê e o país inteiro vê. Aí sim, vendem muito.

      Ele também disse que se for escritor da cidade, aí sim, que ninguém compra mesmo. Podem até se interessar, mas se for da mesma cidade, deixam o livro de lado e procuram outro. Que preconceito chato!

      Que coisa, heim, Sofia? Que banho de água fria que ele me deu! Será que no país inteiro é assim? Como é que vou me atrever a lançar um livro então?

      Sabe, Sofia, eu tenho essa vontade sim, de escrever um livro só meu, mas e se ninguém comprar? Vai ficar encalhado, assim como eu estou? Ninguém me quer e ninguém vai querer me ler também?

      O que eu faço. Sofia?

      Já sei! Vou escrever assim mesmo. Uma coisa de cada vez. Primeiro escrevo e depois procuro editora, depois sai a publicação e depois vou no Jô Soares com um cartaz imenso lançando meu livro lá! Será que pode? Será que o Jô é chato? O que você acha?

      Responde logo, por favor? Esse nosso hábito de escrever cartas é ótimo, mas fico muito ansiosa pra saber a resposta. Me responde no mesmo dia em que você recebê-la, tá bom?

      Como você está? Ainda namorando o Valdomiro? E o Antenor, ainda no seu pé?

      Me responde logo, certo?

      Beijos, saudades!


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Incesto

Mais uma polêmica de Walcyr Carrasco, Amor à Vida, Rede Globo, 21 h. 

Herbert é ou não é o pai de Gina?

Segundo Ordália, ele não é o pai de Gina, pois ele a teria abandonado, na juventude, e ela, descontrolada, começou a sair com vários homens sem ao menos saber quem eram. E eu pergunto: será que ela já não estaria grávida, sem saber, após ele a abandonar?

Veremos os próximos capítulos.

Mas fica aqui a polêmica. Por que tantos não conseguem sequer imaginar uma cena de incesto, ou de amor homossexual, ou de obesidade ou qualquer outra cena que foge dos padrões normais?

Vão dizer que novela influencia. Será mesmo? Será que uma pessoa muda assim, do dia para a noite, só porque assiste novela?

Quantas e quantas pessoas que sabem ou pensam que sabem suas origens quando na verdade não sabem? E se relacionam com alguém que poderia ser seu irmão, ou irmã, ou pai, como é o caso de Gina, existe o crime mesmo não sabendo?

Se procurarmos histórias em todos os cantos do planeta, certamente saberíamos de casos semelhantes. Pai com filha, irmão com irmã (isso já foi notícia), enfim, parentes próximos que se apaixonam sem saber suas origens.

E falar sobre esse assunto assusta sim, é polêmico, incomoda mas é a realidade, querendo ou não.

Não é comum, claro, mas existe incesto sim. E por que não falar publicamente sobre o assunto?

Pessoas nascem com a certeza de quem é a mãe, mas nem sempre com a mesma certeza de quem é o pai.

Um caso para se pensar na falta de responsabilidade de alguns em gerar um ser e sabe-se lá o que virá ou quem encontrará pela frente durante a vida. A vida dá voltas, nos surpreende, nos decepciona e o inesperado sempre acontece.

E fica a culpa. Que culpa se os envolvidos são inocentes?

É muito grave isso, não é?

Não condenem o autor, é corajoso o suficiente para debater esses assuntos que a sociedade abomina mas que é vítima tanto quanto.

É conversando que se chega a um denominador comum, é conversando e discutindo que leis são aprovadas, é se sentindo horrorizada que percebemos que o mundo é enorme, redondo, e tudo pode voltar a se encontrar nas situações mais inesperadas.

Conto uma história real: uma mãe sempre perguntava à filha com quem ela estava namorando ou se relacionando. Investigava tudo, nome e sobrenome, nome do pai, enfim, um segredo guardado a sete chaves. Para a menina era apenas uma preocupação e um interesse de mãe, mas para a mãe era uma bomba relógio que poderia explodir a qualquer momento, pois sabia que o pai que a filha acreditava ser seu não era o biológico. E aí? Será que a filha sempre falava a verdade para a mãe sobre seus relacionamentos?

É um horror, não é?