quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Passado Presente


Participando da Blogagem Coletiva Momentos de Inspiração - 16ª Edição. Blog da M@myrene.

      Quinze anos e parece que foi ontem. Valmir, meu irmão querido, tão jovem e que fez o desfavor de ir antes de nós.

      Me lembro dessa foto perfeitamente, quando ele, insistentemente, nos fez ir até o matagal que ficava atrás da casa só para tirar uma foto de recordação. Ele queria fazer um poster e colocar na sala de visitas. Um sonhador, um romântico, um batalhador e talentoso em tudo que pusesse a mão para fazer.

      Tá certo que tinha aquele maldito temperamento de querer saber de tudo, e sabia de muita coisa mesmo, era topetudo demais para ficar calado quando algum assunto, seja qual fosse, era tema nas rodas de amigos ou de familiares. Estávamos tão acostumados a ele que nem precisávamos procurar respostas em lugar nenhum, ele sabia na ponta da língua. Uma das poucas coisas que não conseguia guardar era o dia do aniversário de mamãe.

      Certa vez, nós todos almoçando para comemorar o aniversário de mamãe, ele chegou e nem percebeu a festança ao redor da mesa. Pratos especiais, vinho branco, carne assada - raramente tínhamos carne assada - e um bolo confeitado que estava em cima da geladeira. Mesmo vendo toda essa algazarra não percebeu do que se tratava. Teve que perguntar, atitude rara, e receber nas fuças uma bronca de todos sobre seu esquecimento. O sabichão ainda teimou dizendo que não era aquele dia não, que seria no próximo sábado! Outra bronca nossa, alguns tapas nas costas, na cabeça e um empurrão na cadeira, para ver se ficava sentado e em silêncio. Nesse dia todos ganharam dele. Mas como era gente da paz levou tudo na brincadeira, disfarçando dizendo que estava testando todo mundo. Mais uma chuva de tapas na cabeça desse inconformado em perder algo, mesmo que fosse no par ou ímpar.

      A última foto que ele tirou de minha irmã mais nova e eu está num lugar especial, na estante da sala. Somente ela e dois solitários com rosas cor de rosa, um em cada lado do porta-retratos. A última foto expressa exatamente como Valmir era: ousado, mandão, destemido e talentoso. Só não contava que nosso pai estava atrás tirando uma foto dele tirando nossa foto. Essa foto especial está no quarto de mamãe, no criado-mudo, sobre uma toalha branca de crochê, do lado de um abajur e de um copo d'água.  Antes havia uma vela sempre acesa, mas com o passar dos anos, convencemos mamãe a colocar a vela num local menos perigoso. Com muito custo ela concordou. Nem sempre está acesa, pois quando ela está dormindo ou quando sai de casa, apagamos a vela. Nunca se sabe o que pode acontecer com uma vela acesa. Mas basta mamãe voltar para reacendê-la e fazer suas orações.

      A saudade dói demais e o tempo não a cura, não a arranca de nosso peito, apenas sobrevivemos sem Valdir na esperança de um dia nos reencontrarmos e matar toda essa agonia e sofrimento.

      Faz quinze anos, mas ainda sentimos sua presença pela casa, dando ordens, resmungando, cuidando de todos nós com muito carinho.

      Ele está num bom lugar. Temos certeza!

      Fim.


terça-feira, 29 de outubro de 2013

Minha Carta Para Deus


Cliquem AQUI, vamos participar?

Coincidência ou não, Deus, esses dias estava pensando se aí, do lado do Senhor, seria melhor do que aqui onde estou. Seria melhor?

Tem dias que viver dói... É sofrido... Mas agradeço todos os dias em que acordei de bom humor, que sorri com a alma leve, que não pensei em problemas e que passei bem o dia.

Sabe, Deus, a cabeça da gente é um mistério. Tenho vontade de fazer tantas coisas e acho que não vai dar tempo. O corpo não acompanha mais. Mas olhando para trás só tenho a agradecer por tudo que fiz. Faria tudo de novo e de novo! As oportunidades que tive foram bem aproveitas e caprichei em tudo.

Acho que o destino fica zombando com a minha cara, Deus, coisas do passado ficam sapateando na minha frente e outras coisas chatas não desgrudam de mim de jeito nenhum! Mas quem sabe esse sapateado é para eu sapatear junto? E quem sabe esse passado que não quero mais ter é para me lembrar sempre de que mereço muito mais do que já tive? Obrigada, meu Pai!

Meu Deus, sei que dinheiro não tráz felicidade, mas tá difícil, viu? Tantos planos que tenho e sei que não posso perder tempo, mas me falta o capital, a grana... Tudo tem que ter a grana, Deus! Mesmo assim com tanta dureza eu agradeço por cada grão que tenho em minha casa, cada pão, feijão, doce, água, enfim, nunca me faltou nada! O Senhor seja louvado!

Sei que fiquei um bom tempo "em coma", com depressão, pânico... E esse tempo perdido não volta mais. Era um tempo precioso que eu deveria ter feito muita coisa útil. Mas não deu. As pessoas se afastaram e cheguei à conclusão de que somos solitários no Universo. O Universo é imenso, né? Esse tempo sei que foi necessário para o meu crescimento, para dar valor ao que realmente tem valor, a apreciar o simples e viver com o que tenho. As pessoas que se afastaram não me fazem falta nenhuma. Outras pessoas apareceram e me reergueram. Isto é obra Sua, Deus? Obrigada!

Olhando por aí vejo que a Terra está judiada, acabada, suja... Confesso que já ajudei a destrui-la, mas hoje faço minha parte. E tenho a sorte de morar numa casa boa, com água, energia elétrica, esgoto, tudo o que um ser humano precisa para viver dignamente. Obrigada, meu Deus!

E agora eu quero agradecer de coração, meu Pai, os filhos lindos que o senhor me deu! Me deu? Sim, eu cuido deles, sou a mãe deles, oriento, educo, amo, então são meus sim! Mas não são minha propriedade. Eu consegui, Deus, fazê-los gente de bom caráter, educados, estudiosos, lindos, saudáveis, alegres... Nós conseguimos, Senhor! Louvado seja!

E quero agradecer também que apesar de tudo, de todos os choros, todas as dores e sofrimentos, nunca me faltou o bom humor, o sorriso, a compaixão, a gentileza, a educação, o respeito, enfim, EU SOU UMA PESSOA ABENÇOADA E FELIZ!

Amém!!!


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Hoje é Tempo de Ser Feliz


A vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez seja por isso que a idéia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver.
Viver é plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa existência as mais diversas formas de sementes.

Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe...

Para cada dia, o seu empenho. A sabedoria bíblica nos confirma isso, quando nos diz que "debaixo do céu há um tempo para cada coisa!"

Hoje, neste tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça, os amores que você ama, tudo será determinante para a colheita futura.

Felicidade talvez seja isso: alegria de recolher da terra que somos, frutos que sejam agradáveis aos olhos!

Infelicidade, talvez seja o contrário.

O que não podemos perder de vista é que a vida não é real fora do cultivo. Sempre é tempo de lançar sementes... Sempre é tempo de recolher frutos. Tudo ao mesmo tempo. Sementes de ontem, frutos de hoje, Sementes de hoje, frutos de amanhã!

Por isso, não perca de vista o que você anda escolhendo para deixar cair na sua terra. Cuidado com os semeadores que não lhe amam. Eles têm o poder de estragar o resultado de muitas coisas.

Cuidado com os semeadores que você não conhece. Há muita maldade escondida em sorrisos sedutores...

Cuidado com aqueles que deixam cair qualquer coisa sobre você, afinal, você merece muito mais que qualquer coisa.

Cuidado com os amores passageiros... Eles costumam deixar marcas dolorosas que não passam...

Cuidado com os invasores do seu corpo... Eles não costumam voltar para ajudar a consertar a desordem...

Cuidado com os olhares de quem não sabe lhe amar... Eles costumam lhe fazer esquecer que você vale a pena...

Cuidado com as palavras mentirosas que esparramam por aí... Elas costumam estragar o nosso referencial da verdade...

Cuidado com as vozes que insistem em lhe recordar os seus defeitos... Elas costumam prejudicar a sua visão sobre si mesmo.

Não tenha medo de se olhar no espelho. É nessa cara safada que você tem, que Deus resolveu expressar mais uma vez, o amor que Ele tem pelo mundo.

Não desanime de você, ainda que a colheita de hoje não seja muito feliz.

Não coloque um ponto final nas suas esperanças. Ainda há muito o que fazer, ainda há muito o que plantar e o que amar nessa vida.

  Em vez de ficar parado no que você fez de errado, olhe para frente e veja o que ainda pode ser feito...

A vida ainda não terminou. E já dizia o poeta "que os sonhos não envelhecem..."

Vai em frente. Sorriso no rosto e firmeza nas decisões.

Deus resolveu reformar o mundo e escolheu o seu coração para iniciar a reforma.

Isso prova que Ele ainda acredita em você. E se Ele ainda acredita, quem sou eu pra duvidar... (?)


Padre Fábio de Melo

Eu precisava muito ler isso... Tem dias que é tão difícil que a gente perde um pouco as esperanças e se esquece dos sonhos. 
Decisões que tomamos que são tão doloridas que perdemos a capacidade de raciocinar o que é bom e o que é mau pra nossa vida, mesmo que tudo esteja escancarado na nossa frente.
A razão tem sempre razão, mas o coração chora quando entra em contradição.
O tempo não muda nada... Nunca nos esquecemos do que passou, das decisões que tomamos, das dores que sofremos e ainda ficamos imaginando se tivéssemos tomada outra atitude, como seria.... Como seria?
Não seria porque ninguém sabe. 
Acredito que tudo tem um propósito e tudo realmente acontece na hora em que tem que acontecer.
Nós é que somos teimosos e brigamos com essa razão que insiste em ficar enraizada no subconsciente. Pro nosso bem. 
O jeito é tentar não ficar pensando no que passou. Passou!
Vida que segue... 
Amém.

Clara Lúcia



quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Vivendo o Momento - Um Conto Sensual

Participando da Blogagem Coletiva - 15ª Edição - Blog da M@myrene. Gosta de escrever? Venha participar!

      Mal começou a primavera e o calor já estava infernal. Ruth simplesmente detestava o calor... Se acostumou com o clima europeu, frio, e gostava de se vestir com casacos, botas, luvas, enfim, mesmo ainda sendo uma jovem mulher gostava de se vestir elegantemente.

      Eduardo aguardava-a na portaria do hotel em que se hospedara para o casamento de um primo de segundo grau, um dos poucos de sua família que ela mantinha contato. Depois que se casou com um milionário e se mudou de país se afastou de todos no Brasil. A intenção era não voltar mais, porém ficou viúva repentinamente e se sentiu muito sozinha por lá. Fez as malas e voltou.

      Morava num flat pois não queria ter preocupações com empregados e nem com chaves, que ela sempre perdia por onde andava. Dois anos já havia se passado e Ruth não tinha vontade de se relacionar com mais ninguém. Ainda sofria pela falta do marido e não tinha olhos para mais homem nenhum. Até que contratou Eduardo, o motorista particular.

      Algo nesse rapaz a encantara profundamente. Era educado, discreto, perfumado, tinha as mãos macias - assim ela imaginava quando ele a tocava para ajudá-la a sair do carro - um olhar penetrante e lindo, muito lindo. Sempre quando estavam indo a algum lugar, ele olhava-a discretamente pelo retrovisor. Isto fazia-a corar e de certa maneira despertara os mais bandidos pensamentos. No começo ficava sem graça, mas depois se perdia nas fantasias de se entregar para Eduardo, parando em qualquer rua deserta e convidando-o para se sentar ao seu lado, no banco traseiro do luxuoso carro.

      Para disfarçar seus pensamentos pervertidos, Ruth encostava a cabeça, fechava os olhos e imaginava aquele homem cheiroso acariciando seu rosto, beijando sua boca sedenta e molhada que implorava lhe arrancar o fôlego e depois ressuscitando-a, percorrer as mãos macias pelo seu corpo quente que tremia de desejo e paixão... Um corpo imaculado por dois anos, virgem temporariamente, e que implorava explodir debaixo daquele corpo másculo, pele branca e quente, que arrepiava com o toque de sua boca...

      O ar condicionado ligado não era suficiente para que se refrescasse de seus pensamentos secretos e seus desejos cada vez mais intensos... Gemia baixinho, passando os dedos em seus lábios, imaginando a boca de Eduardo tocando a sua... Gemia, suspirava e se assustava com a ousadia de seus gestos. Abria os olhos e olhava para Eduardo que tranquilamente continuava seu trajeto. Era bom motorista, cauteloso e delicado.

      Não satisfeita, Ruth mais uma vez se entregou aos pensamentos e trouxe Eduardo para cima de seu corpo. Deitou-a no banco macio, de couro preto, se encaixou entre suas pernas, segurando-as com as mãos, fazendo com que vibrasse e gemesse mais alto.

      Assustada mais uma vez, Ruth abriu os olhos e se viu quase deitada no banco, com as pernas abertas e suas mãos a lhe percorrer a intimidade. Eduardo, tranquilamente, continuava a dirigir. Sentiu-se corar, se ajeitou, respirou fundo e pediu para que ele andasse mais rápido, pois queria estar em casa antes de anoitecer.

      Eduardo, olhando-a pelo retrovisor, apertou os olhos, sorriu e acenou com a cabeça.

      Ruth pegou sua agenda e começou a verificar os compromissos da semana tentando se controlar e pensando nas tarefas que faria quando chegasse em casa. Mas antes sorriu, também discretamente, se sentindo viva e livre do luto de dois anos.

      Eduardo era um ótimo motorista e não queria estragar a relação de respeito que tinham. Pelo menos por enquanto...

      Fim.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ela me Enxergou

Dia desses estava eu com minha filha, andando pela rua, de volta para casa. Depois nos lembramos de que havíamos esquecido um objeto no local em que estávamos. Ela se prontificou a ir sozinha, então fiquei esperando, sentada numa mureta. Era sábado à tarde e não havia movimento na rua.

Uma senhora se aproximava, falando sozinha. Eu olhei, mas depois abaixei os olhos para não demonstrar ser uma pessoa curiosa com o que a senhora estava falando.

Ela parou na minha frente, ficou em silêncio e me olhando... Mas me olhando tão profundamente que também fiquei em silêncio encarando aqueles olhos cansados, que investigavam meu rosto todo, parecendo procurar pelos meus olhos. E realmente ela estava procurando por meus olhos.

Sem entender nada lhe perguntei se ela estava precisando de alguma coisa. Ela ainda em silêncio, mas olhando meu rosto todo, sorriu e disse que se ela tivesse um carro ela estaria dentro dele. Eu ri e concordei com ela. E lhe disse que caminhar também era bom, que devagar ela chegaria em seu destino. Ela me respondeu que não poderia ficar andando sozinha na rua pois tinha catarata nos dois olhos e tinha medo de atravessar ruas. Eu disse que não tinha movimento naquela rua e que ela atravessasse devagar, com calma, que tudo daria certo.

Mais uma vez ela ficou me olhando... Olhando... Sabe quando encontramos alguém que estávamos com muita saudade e ficamos olhando para ver se matamos a saudade? Foi essa a sensação que tive daquela senhora me olhando. Mesmo ela não enxergando nitidamente meus olhos, ela me olhou tão profundamente que parecia ler meus pensamentos.

Tem gente que é assim mesmo, que desnuda nossa alma com os olhos, que lê nossos pensamentos através do olhar, que sabe como estamos apenas com uma troca de olhares... Estranho... Gente que lê a alma, que decifra nossos mais secretos segredos, que sabe de onde viemos e para onde vamos, gente que sabe qual a missão que temos, apenas com um olhar. Coisas de Deus.

E a senhora continuou seu trajeto, caminhando calmamente e conversando com ela mesma. Quer companhia melhor? Na falta de tu vai tu mesmo!

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Um pouco de poesia na voz maravilhosa do querido Mauj Alexandre, direto do Japão. Cliquem AQUI e se percam nas lindas palavras... Em homenagem ao nosso poeta maior Vinícius de Moraes.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Uma Imagem 140 Caracteres - 23ª Edição

Como é mesmo aquela frase que o cara falou? Tão boa pra usar nos meus contos e agora não me lembro... Ô cabeção de ameba!

 Participando da Blogagem Coletiva do blog Escritos Lisérgicos. Vamos, gente, participar?



Despedida

 Uma crônica de Martha Medeiros.

Existem duas dores de amor:
A primeira é quando a relação termina e a gente,
seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro,
com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,
já que ainda estamos tão embrulhados na dor
que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel.

A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços,
a dor de virar desimportante para o ser amado.
Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:
a dor de abandonar o amor que sentíamos.
A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre,
sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou.
Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.
É que, sem se darem conta, não querem se desprender.
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,
lembrança de uma época bonita que foi vivida…
Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à qual
a gente se apega. Faz parte de nós.
Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,
mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,
que de certa maneira entranhou-se na gente,
e que só com muito esforço é possível alforriar.

É uma dor mais amena, quase imperceptível.
Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’
propriamente dita. É uma dor que nos confunde.
Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos
deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por
ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos,
que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.

Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.
É o arremate de uma história que terminou,
externamente, sem nossa concordância,
mas que precisa também sair de dentro da gente…
E só então a gente poderá amar, de novo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Louco Amor


Participando da Blogagem Coletiva - Momentos de Inspiração - 14ª Edição - Blog da M@myrene.

      Depois de oito km pedalando, Armando achou onde descansar, refrescar a cabeça e encostar a bicicleta. Que ideia estapafúrdia de ir ver a namorada em sua cidade que fica a dez km da sua!

      Se voltasse ficaria frustrado, se continuasse chegaria na casa de Rosana soltando as vísceras pela boca, de tão cansado. Enfim, descansaria um pouco e continuaria seu trajeto.

      "A gente fica apaixonado e fica besta, burro, cego e acha que é o super-homem, que aguenta tudo e mais um pouco", cochichava olhando para os lados com medo de uma cobra que pudesse estar no meio daqueles trilhos desativados. Não poderia nem se deitar para tirar um cochilo, por medo de escorpião que agradasse lhe picar as nádegas. Que vexame seria! Além de chegar morto na casa da Rosana ainda teria que correr para o posto de saúde para tirar o ferrão desse medonho ser traiçoeiro.

      "Acho melhor voltar pra casa", continuava resmungando. Mas a paixão era tanta que Armando não aguentaria esperar até o fim de semana para ver a amada, linda, baixinha, gordinha, com o sorriso mais iluminado que já vira. Sim, valia a pena qualquer sacrifício por ela.

      Armando, pedreiro de uma empresa multinacional, estava de licença por uns dias devido à fratura de seu dedo mindinho. E como era acostumado a se movimentar achou que seria fácil pedalar uns míseros dez km. A estrada era de chão batido, a paisagem deslumbrante, o barulho ensurdecedor das araras e dos pássaros que voavam em bandos passavam desapercebidos pelos olhos de Armando, que pedalava numa subida ingrata, desviando de pedregulhos e derrapando vez outra, quase se estabacando no chão de terra avermelhada.

      Depois de uns bons minutos descansando, Armando subiu em sua magrela e se foi, praguejando pela subida que ainda faltava até chegar na Restinga, onde Rosana se escondia. Cidade pequena onde o meio de vida era a lavoura nas fazendas ao redor. Rosana trabalhava em casa de família e pelo horário que Armando chegaria lá, ela estava de saída. Então se encontrariam na única praça onde ficava a igreja bem conservada, alguns pés de coqueiros e vários bancos de cimento, com propagandas do comércio local. Era nessa praça que eles passavam a maior parte do tempo em que namoravam, nos fins de semana, com o dinheiro já contado, separado do restante do salário, que era pouco, mas suficiente para o lazer.

      A ideia de comprar uma bicicleta era exatamente para economizar mais um pouco e assim poder programar um breve casamento com Rosana. Estava apaixonado e ele sabia que ela era a mulher de sua vida. Mandona, autoritária, brigona, mas era assim que Armando gostava, de alguém que o conduzisse pela estrada da vida. Era sossegado que só! Preferia obedecer a ter que tomar decisões, mas a decisão de se casar em breve era totalmente dele. E a decisão de se aventurar na estrada só para ver Rosana também era totalmente dele. E isso o deixava nervoso porque sabia que muitas de suas decisões eram completamente sem noção.

      O fato de estar apaixonado, de ter um futuro programado com uma mulher como Rosana, o alimentava diariamente e o deixava esperançoso de uma vida feliz, uma família para sempre, com samambaias, cachorros, filhos, netos e quem sabe bisnetos.

      Bem, isso se o pobre chegar inteiro em Restinga...

      Fim.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Fabrício Carpinejar

Um texto que gostei muito, de Fabrício Carpinejar. Querem conhecer o blog dele? Cliquem AQUI.

Amor Amor ou Vinícius de Moraes

Há uma ideia do amor exclusivo. Como se houvesse uma única chance na vida de amar. Ou é o amor eterno, ou era mentiroso. Ou acontece pela vida inteira, ou não funcionou.
E, quando acertamos um casamento, as opções anteriores são consideradas falsas – necessitamos apagar o passado. E, quando erramos um casamento, as opções anteriores são vistas como legítimas – desperdiçamos romances melhores.
Trata-se de uma visão limitada, de contar apenas com um endereço para o nosso coração.
Mas amor é cigano, amor é mambembe, amor é viageiro.
Mas amor é tentativa, amor é insistência, amor é rascunho, amor é esboço, amor é esgotar as possibilidades e se recriar diante delas.
Só porque você amou antes, não significa que não pode amar de novo. Ou, só porque você amou antes, não significa que o próximo amor é falso e está fingindo.
Só porque você se declarou a alguém, isso não compromete as próximas declarações.
Só porque você disse que era para sempre e terminou, não quer dizer que é um fingido.
Todos os amores podem ser verdadeiros. Todos podem ser influentes.
Haverá um maior, sim, um amor decisivo, um amor transformador, um amor real, honesto e justo: o Amor Amor.
O Amor Amor não é egoísta, não vai isolá-lo da convivência. Você se duplicará para os próximos. Passará a amar os amigos como nunca. Passará a amar a família como nunca. É tanto amor, que sobrará para muitos.
O que deve prevalecer no temperamento é não desistir, não se entregar para o ressentimento, não defender os sentimentos parados condenando os outros que permanecem em movimento.
Eu acredito que quem casa ou namora várias vezes não é carente. Quem casa e namora várias vezes não é desesperado. Está se moldando à alegria, a superar as diferenças, a se separar, a recomeçar, a sangrar sozinho, a entender as dores e as imperfeições. Apresenta mais chance de ser feliz. Pois a felicidade é maleável, é macia, é elástica. A felicidade é feita para quem tem coragem de sofrer.
Desesperado e carente é aquele que não tenta e vive reclamando, praguejando, amaldiçoando os demais. Desesperado e carente é aquele que se esconde tão bem, que não se encontra e não se dá de verdade.
Desesperado e carente é aquele que não namora ou não casa para não ter que trabalhar emocionalmente e não se decepcionar. Alimenta-se de sombras, de sobras, de rancores.
Amor não é uma vez, são várias vezes até encontrar a pessoa predileta. A pessoa necessária. A pessoa fundamental. A pessoa que supera sua idealização, que lhe devolve a vontade de atravessar suas idades e tempos.
Daí, você descansa por estar andando, como diz minha mãe.
Amor é descansar em estar andando. E andar de mãos dadas jamais cansa.
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AQUI uma crônica de Frederico Matos, sobre solidão. Muito boa também.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Vida de autor


E Perséfone se casou! E ficou linda vestida de noiva!

Depois de uma enxurrada de críticas ao autor da novela Amor à Vida, de Walcyr Carrasco, Rede Globo, 21 h, finalmente a gordinha rejeitada se casou. Contrariando a família do noivo, passando por cima das chacotas dos amigos, ela realizou o sonho de um conto de fadas. Agora só aguardar o que virá pelos próximos dias.

A vida de um autor não deve ser fácil. Todos os dias escrever mais de trinta capítulos, com muitas personagens, tudo interligado, e ainda por cima receber críticas e mais críticas, não é para qualquer um não.

Com a velocidade das informações pelas redes sociais, em questão de segundos um assunto vira polêmica. E a polêmica foi a personagem Perséfone, por ser gordinha, ser motivo de chacota por muitos.

Mas isso não acontece por aí? Talvez ninguém saiba, mas infelizmente ainda existe o preconceito. E não é só com gordinhos, mas qualquer coisa fora do padrão sofre preconceito. Falam sim, pelas costas, um para o outro, riem, criticam, e talvez nem a vítima fica sabendo. Mas quem nunca esteve numa rodinha de amigos e algum comentário maldoso foi o foco do assunto?

Na novela esquecem de que se trata de personagens e não de uma biografia de uma pessoa real. Novela nada mais é do que uma história, muitas vezes baseada em livros, visualizada.

Não acredito que se todos os gordinhos, ou todos os negros foram totalmente bem aceitos ou bonzinhos nas novelas, nas ruas e no dia a dia também serão. E não são só gordinhos e negros. Tem os magros, os loiros, os míopes, enfim, é da natureza humana fazer algum tipo de piada um com o outro. Acho que cabe a nós, se tivermos algum "defeito", e é claro que temos, sabermos levar numa boa, sem nos ofendermos. Mas caso a ofensa seja humilhante, aí é outra história, cabendo até processo por difamação.

Então, por que não deixar o autor montar sua história como ele imagina e nós apenas assistirmos ou não, caso não nos interessa?

Ainda sobre essa novela, e o casal de idosos que estão batendo as pestanas um para o outro? Quer coisa mais natural do mundo? O amor não modifica com os anos. A mesma emoção, o mesmo brilho nos olhos, o mesmo frio no estômago, enfim, como adolescentes, se entregam ao amor. Por que não?

Luthero e Bernarda - amor não tem idade



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Semana Interminável


Participando da Blogagem Coletiva - Momentos de Inspiração 13ª Edição. Da M@myrene.

      Com um feriado no fim de semana, as crianças já ficavam alvoroçadas. Sabiam que iriam à praia. Na terça feira já perguntavam se faltava muito tempo para chegar o sábado. Rodolfo não tinha muita paciência com os filhos, mas Judith entrava na algazarra e se transformava em criança também.

      Finais de semana na praia lembrava tanto sua infância que Judith fazia tudo exatamente igual a sua mãe, quando ela, sua irmã Jacira e seu irmão Juvêncio aguardavam ansiosos o passeio sagrado no dia das crianças. Entravam no carro e iam a viagem toda ajoelhadas no banco de trás, olhando a cidade sumir e os carros se aproximando, querendo ultrapassá-los. Apostavam se um ou outro carro seria mais rápido do que o que estavam.

      Hoje, vendo seus filhos fazendo exatamente o que fazia quando criança, se emocionava e se perdia nas recordações.

      Na sexta feira à noite já não dormiam mais. Acordariam de madrugada para poderem chegar ainda de manhã, com o sol nascendo, e vislumbrar o amarelo ouro sair de mansinho da imensidão azul, pingando um suor na água, provocando as ondas, até acordar de vez e brilhar imponente e quente. Para Judith não existia visão mais linda do Universo.

      Mal desciam do carro e as crianças, vestidas com roupas de banho, corriam em direção à espuma branca, ainda gelada, soltando gritinhos de alegria. Depois, fazendo uma concha com as mãos, enchiam com a água salgada e jogavam para cima, para que as gotas molhassem seus rostos e ardessem seus olhos. Riam compulsivamente sem se cansarem. Voltavam para a areia, se enfileiravam e corriam novamente, apostando quem tocaria a água primeiro.

      Ricardinho sempre ganhava por ser o mais ágil e o mais magro. Andrea era a última e sempre ficava emburrada, cruzando os braços e deitando o beiço até quase encostar no peito. Ana Luiza não conseguia correr muito porque morria de rir, então não sabia se ria ou se corria. Depois se jogava na areia, com os braços e pernas abertas, como uma estrela do mar e, olhando o sol, apertava os olhos e gritava. Era a liberdade de olhar o céu azul, sem nuvens, com algumas gaivotas sobrevoando a praia e o barulho mágico do mar que ia e vinha, incansavelmente.

      E assim passavam o dia. Voltavam para casa já à noitinha, com os três pestinhas com as cabeças pendentes para o lado, dormindo sentados e bem amarrados no cinto de segurança.

      O passeio seria o assunto da semana, ou então do mês, dependendo de quem tivesse paciência para ouvi-los contar a mesma história inúmeras vezes.

      Fim.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Meus Quarenta e Poucos

Blog Simples e Clara

Quase meio século. 48. Aí estou eu olhando para o espelho, procurando uma nova ruga ou um novo fio de cabelo branco. E sempre encontro algo novo que ficará até meus últimos dias. Daqui para frente será assim... Mudanças e mais mudanças.

Quando estamos jovens não reparamos tanto nas mudanças, mas bastou completar os 40 e tudo fica mais claro. As doenças corriqueiras se mostram, as consultas médicas são mais frequentes, enfim, o começo de ter consciência de que cuidar da saúde é muito importante.

Não tenho problemas com a idade, é só a carcaça que tem 48, mas a mente, deixa eu ver, acho que uns 30 no máximo. Não queria voltar no tempo não, com a cabeça de hoje, como muitos dizem. Voltar no tempo com a cabeça de 50 seria insuportável! Cada idade sua fase, seu encanto, seu aprendizado. Não passamos por situações por acaso ou por culpa nossa, mas porque temos que passar. Coisas de Deus que nos cuida como todo pai zeloso e amoroso. Ele nos quer bem, mas nem por isso vai passar a mão na nossa cabeça e aceitar tudo o que queremos ou fazemos. Para isso temos esse tempo de vida, para aprender e para se perdoar pelas burradas cometidas e impensadas. E se na maturidade temos essa consciência, o ensinamento foi bem feito.

Agora, perto dos 50, gente, quase meio século, o que mudou? Acho que nada! Continuo cuidando da saúde, me olhando no espelho, vendo coisas novas velhas aparecendo e a vida continua.

Antes comemorava os aniversários como mais um ano de vida, agora, um ano a menos. A certeza de que a morte pode estar perto ou não é mais frequente. Tenho a sensação de que nem tudo posso e nem tudo consigo. Tenho limitações físicas e isso me deixa frustrada.

Tantas coisas novas, tanta tecnologia, tanto que eu gostaria de fazer e não dá por não ser uma jovenzinha imortal. É uma ilusão, mas se quisesse, dá para fazer, com limitações. Eu é que sou impaciente, rápida, atropelo tudo pelo caminho. A tranquilidade é uma das coisas que tenho ainda que aprender, a fazer uma coisa de cada vez, com calma (calma?), com cuidado... Difícil, mas eu chego lá.

Muitas atitudes que tinha antes, sumiram. Opiniões mudaram e, apesar de um grau elevado de miopia, passei a enxergar melhor agora. As pessoas são como são e ninguém tem o direito de mudá-las. Pensando assim o respeito ao próximo é maior e as discussões bobas que antes eu fazia questão de ter, se tornaram insignificantes. Hoje eu prefiro ter paz do que ter razão.

Perder tempo numa fase dessa? Não dá! Realmente a vida é muito curta e beirando os 50 tenho a impressão de que não vai dar tempo de fazer tudo o que quero. Ideais não mais existem como antes, sonhos ainda sobrevivem, mas mudam de acordo com o agora, porque pensar no amanhã é frustrante.

Quanto tempo será que ainda tenho? Que bom que não sei... Então viver o hoje, ser feliz hoje, sorrir hoje, fazer o que quero hoje, com a incerteza de que amanhã talvez não exista, é bem melhor!

E o bom humor? Ah, esse se tornou um constante em mim. Sempre e sempre. Já ouviram falar que "idosos" têm a vantagem de falarem o que querem? Tá certo que não sou idosa, mas sou uma pré-idosa. E continuo falando pelos cotovelos, viajando na maionese, pensando na morte da bezerra... Mas rindo de mim mesma, sem constrangimento. Me aceito mais como sou e não me importo nem um pouco o que pensam ou falam de mim. Eu me conheço e isso me basta.

Daqui há 2 anos acho que não terei muitas mudanças. Eu queria ter sim, porque vidas sem mudanças acabam em rotinas. Rotinas são boas, mas rotinas de conforto são péssimas! Não mudar por não mais ter idade, ou não mudar por preguiça de começar de novo é morte em vida!

Uma das alegrias dos quase 50 é ver os filhos crescidos, saudáveis, bom caráter e em sintonia comigo. Adoro me divertir com eles, falar besteiras, discutir, ouvir, ouvir, ouvir... Conhecer os amigos... Mas não deixar de ser mãe.

Daqui a pouco vem os netos e aí, meu Deus, me ajude! Vão ter uma avó palhaça, que não sabe fazer bolo e que cozinha muito mal! Não basta meus filhos serem cobaias e depois os netos!

Coisas da vida. Enquanto estou por aqui, que venham as rugas de tanto rir, que venham os cabelos brancos para iluminar minhas ideias, que venham os ataques de pelanca de tantas besteiras ditas, enfim, que a vida seja vivida ao extremo enquanto a tenho.

É isso.


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Quem Entende a Arte?


Participando da Blogagem Coletiva da M@myrene. Vamos participar?

      - Será que se eu fizer só uns pingos coloridos, esse quadro valerá alguma coisa? - pensou Renata enquanto se sujava toda nas tintas coloridas.

      Depois de visitar uma exposição de quadros de novos artistas, Renata resolveu pegar seus pincéis e se aventurar em novos quadros.

      Sinceramente não entendia de arte e quadro bonito para ela era quadro com formas e cores definidas. Esses quadros com rabiscos ela apenas achava que eram rabiscos e nada mais. E sendo valiosos, por que não se arriscar nessa forma de arte? Será que alguém entenderia?

      - Vou ter que colocar uma história sobre a tela, no verso, para não me esquecer. Como vou criar uma história com rabiscos? Coisa de mestre mesmo. - pensava em voz alta enquanto trocava de pincel e da cor da tinta.

      Ficaram até bonitos, coloridos, disformes, manchados, mas ela olhava e gostava. Isso era o que importava.

      Bastaria fazer mais alguns, esperar secar e procurar um local adequado para expô-los.

      - Internet! Sim, é só procurar na internet que vou achar alguém que tenha interesse. - disse, esperançosa.

      Num mesmo dia Renata fez cinco quadros. Todos muitos parecidos um com o outro. Por fim deixou de lado e foi assistir a TV. Estava passando um filme antigo que ela não assistia há tempos.

      Outro dia pensaria nos quadros.

      Renata era assim mesmo, hiperativa, inteligente, ousada e não gostava de perder tempo com nada. Se queria algo logo lutava e conseguia. Era ajuizada, mas às vezes extrapolava na ousadia.

      Antes de terminar o filme, adormeceu. Acordou de madrugada e foi se deitar na cama. E no caminho até o quarto já pensava no que faria de manhã, com o Sol já queimando a pele alva e sardenta dela.

      Coisas de Renata. Renatinha para os mais chegados.

      Fim.