quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Um Protetor


Participando do Momentos de Inspiração - 9ª Edição, do blog da querida M@myrene. Vem, gente, participar também!

      Anícia, agora sozinha em casa, pegou Diamante Negro no colo e começou a andar pela casa. Não sabia se conseguiria dormir, mas tentaria pelo menos fechar os olhos. Deixaria a TV e o rádio ligados, pois não suportava o silêncio. Sempre achava o silêncio muito barulhento.

      Seus pais haviam viajado, passariam o fim de semana fora e Anícia insistiu em ficar sozinha, pela primeira vez. Então os pais confiaram nela para cuidar da casa e de Diamante Negro, o xodó da família. Era um gato preto arredio, não gostava de colo e muito menos de brincar com Anícia. Os dois não se davam muito bem pelo temperamento forte de ambos, que gostavam de comandar o lugar onde estavam. Anícia sempre o expulsava da poltrona verde, que ficava perto da janela, na sala de visitas. Gostava de se sentar nela para ler seus romances mamão com açúcar. Uma contradição para quem era agitada, como dizia sua mãe, ler romances sonsos e depois sair por aí toda estabanada, derrubando tudo. Mas eram justamente esses romances que acalmavam Anícia, que viajava nas histórias e sonhava com os lugares mágicos, e, claro, inexistentes.

      Anícia era mesmo uma contradição em pessoa. Não se interessava pelos moços que se aproximavam e nem pelas baladas que suas amigas insistiam em levá-la. Preferia ficar em casa lendo ou assistindo a algum filme de terror. Morria de medo do silêncio mas amava filmes de terror. Nasceu com a avó atrás do toco, como dizia sua madrinha de batismo. Mesmo assim era adorável, educada, bem humorada e linda.

      Já passava da meia noite e Anícia ainda caminhava pela casa verificando se estava tudo em ordem e deixando todas as luzes acesas. Diamante Negro dormia na poltrona verde. Anícia chegou devagar e pegou-o no colo. Ele miou mas ficou quieto, ainda sonolento. Foram para o quarto e Anícia aninhou o gato debaixo das cobertas, bem perto de seu corpo. Não estava frio e Diamante tentava vez ou outra sair daquele calor. Anícia segurava-o com ternura, impedindo que ele saísse de perto dela.

      Na TV um programa de auditório que envolveu Anícia fazendo-a se esquecer de que estava sozinha. Cochilou. Acordou assustada e começou a olhar em volta, puxando as cobertas até à altura do nariz, imóvel, só mexendo os olhos. Diamante dormia tranquilo, perto dela, mas longe das cobertas.

      Anícia olhava as paredes cor de rosa, com alguns quadros de bailarinas e pierrôs e via olhos entre os quadros,. encarando-a. Fechava os olhos e abria de novo e os olhos da parede apareciam novamente. Puxou Diamante para mais perto de si e começou a cantarolar uma música de ninar, que sua mãe sempre cantava quando ela era pequena. Tentava se fixar na TV, mas a parede puxava seu olhar. Arrepiou... Aumentou o som da TV e virou para o outro lado. Fechou os olhos e começou a imaginar aqueles lugares lindos dos romances que lera. Adormeceu.

      Os raios do sol batiam em seu rosto através da janela de vidro, Diamante Negro miava e Anícia custou a despertar. Esfregou os olhos com as mãos, levantou a cabeça e olhou as horas. Já era tarde, mas não importava pois era sábado e não tinha horas para se levantar. Se lembrou dos olhos da parede, se assustou e se virou para olhá-la. Estava lá, cor de rosa, os quadros e sem nenhum olho a fitá-la. Suspirou aliviada, abriu um sorriso e deu um bom dia para o gatinho que ainda miava perto da porta, querendo sair; espreguiçou com vontade, se levantou e foi tomar seu leite com canela e açúcar como sempre fazia todas as manhãs.

      Foi até a janela onde estava a poltrona verde, puxou a cortina e deslumbrou o belo dia que fazia. Estava orgulhosa de ter passado a noite sozinha, tomando conta da casa e de Diamante Negro. Suspirou mais uma vez e pensou que nessa noite não dormiria em seu quarto. Iria para o quarto dos pais, junto com Diamante Negro. Se sentiria mais segura com o cheiro da mãe na cama fofa. Diamante só observava e parecia concordar com Anícia. O quarto era maior, mais arejado, com paredes brancas e uma TV maior. Não sentiria tanto calor debaixo daquelas cobertas em que Anícia insistia para que ele ficasse. Esperou Anícia sair de perto da poltrona e subiu, se aninhando num canto, com os raios de sol fazendo brilhar seus pelos negros, numa manhã ensolarada e preguiçosa.

      Fim.

13 comentários:

  1. Que lindo,Clara!!Adorei o nome dele:Diamante Negro,rs beijos,ótima participação, como sempre! chica

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  2. Clara, deu para sentir a ansiedade da menina, os temores da noite. Concordo com a Chica, Diamante Negro é um nome sedoso, exótico, cheio de charme!
    Criou um ambiente perfeito. Parabéns!
    Beijinho e um doce restinho de semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  3. Sempre escrevendo de forma muito bonita. Sua participação é ótima.
    Também gostei do nome Diamante negro. Você é muito criativa.
    Beijos.

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  4. Linda inspiração, Clara
    Parabéns!!
    Gostamos muito do Diamante Negro, viu?
    Beijinhos e nosso carinho de
    Verena e Bichinhos

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  5. Excelente!!!

    beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

    KK

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  6. Olá, querida Cara
    O nome do gatinho foi surpreendente!!! Parabéns!!!
    O enredo não ficou atrás...
    Vc sabe dar vida ampla às imagens incentivadora e fica show!!!
    Bjm de paz e bem

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  7. Claríssima,
    que ambientação perfeita! Uma naturalidade em tudo, especialmente na cadeira verde, no jeito estabanado da menina... Amei!
    ;)

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  8. Bom dia amiga Clara, que texto bacana. Conheço algumas pessoas iguais a esta Anícia, rsrsrsrs. Mas vai que o gato Diamante Negro seja um destes gatos de bruxas, rsrsrsrsrs. Brincadeirinha a parte, parabéns pelo texto.
    Ah, olha só que legal, sua amiga Jussara é daqui perto, uma cidade vizinha a minha.
    Abraços, saúde e paz interior.

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  9. Eu nunca vi olhos na parede do meu quarto... rsrsrs...
    Magnífico conto, gostei muito.
    Clara Lúcia, tem um bom resto de semana.
    Beijo.

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  10. Oi Clara!Adorei a sua inspiração!O romance mamão com açucar ficou divertido!...rss...e os olhos na parede tb me deram medo!Bjs e boa semana,

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  11. Clara!
    Lindo conto!
    Adorei o nome Diamante Negro, criativo.

    Desejo um final de semana abençoado !!
    Paz e muita luz!
    cheirinhos
    Rudy
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  12. Clara
    Linda história a da menina Anicia e adorei esse nome Diamante Negro.Caiu bem o nome e mebfez lembrar um chocolate que adoro.

    Beijos

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