quarta-feira, 10 de julho de 2013

O Bebedouro Mágico


      Judith, mais uma vez teve que correr com a pequena Beatriz até o posto médico de seu bairro. A pequena acordou com crise de asma e rinite alérgica. Todo inverno é essa tortura para a mãe e para a filha que fica bem apática com a alergia nesse tempo seco.

      Judith conseguiu um encaixe nas consultas do dia, mesmo tendo que esperar algumas horas, ficou satisfeita e aliviada. Se não fosse a boa intenção das gentis atendentes, teria que pegar condução e ir até o outro lado da cidade, no Pronto Socorro. Ela evitava ter que levar Bia até lá, pois sempre voltava pior do que estava, devido a grande circulação de pessoas e seus vírus e bactérias.

      Um senhor cedeu lugar para que sentasse e colocasse Bia no colo. Só estando adoentada para que a pequena ficasse quieta e não disparasse seus olhares para todos os cantos em busca de algo interessante para ser desbravado. Bia era comportada, educada, mas como toda criança de cinco anos, era muito curiosa e inteligente.

      Enquanto estava quieta no colo da mãe, Bia viu algo brilhar diante de seus olhos. O bebedouro d'água.

      - Mãe, eu quero água - pediu com voz rouca.

      - Fique aqui sentadinha que eu vou buscar - respondeu, ajeitando a doce Bia na cadeira.

      Pegou um copo descartável, encheu-o pela metade e levou para a filha. - Bebe devagar, amor - disse carinhosamente para Bia.

      Ela pegou, bebeu aos poucos e enquanto isso olhava instigada aquele bebedouro estranho. Era novo e por esse motivo não o tinha visto das outras vezes que fora ao posto médico. Bebeu toda a água, esperou uns minutos e pediu mais à mãe.

      - Tá com sede? Vou pegar, espera!

      - Não, mãe, eu pego!

      E lá se foi Bia, passando no corredor longo, entre as cadeiras, até chegar naquele objeto inusitado. Havia um senhor enchendo o copo e Bia ficou observando como se fazia para encher aquele copinho branco e barulhento. Sim, o copo descartável fazia um barulho interessante e Bia o apertou tanto que rachou do lado. Não tinha noção de que a água viria como um jato, então chegou ao bebedouro, ficou na ponta dos pés para poder alcançar aquele botãozinho mágico e se esforçou para encher o copo. A água não saía. Tentou de novo e um jato veio de uma vez respingando em seu rosto. Mais que depressa Bia deixou que a água lhe enchesse a boca. Não sabia se ria ou se bebia a água. Judith vendo a cena de longe, se levantou e foi ajudar a filha.

      - Bia, você não pode se molhar, querida, deixa eu colocar água pra você.

      Ao pegar o copo, viu que estava rachado e pediu para que a pequena curiosa fosse até o balcão e pegasse outro. Ah, mas era assim que funcionava? Ficou contente por ter descoberto o grande segredo da água. Foi e pegou outro copo, novinho, dentro daquela embalagem com um monte de outros copos, todos novinhos.

      - Mãe, por que tem muitos copos lá?

      - São copos que a gente bebe a água e depois joga o copo fora, querida. - respondeu Judith.

      Bia pediu para a mãe que ela que gostaria de encher seu copo. Judith foi lhe explicando e Bia conseguiu a proeza tão esperada. Encheu o copo pela metade. Antes mesmo de voltarem ao lugar em que estavam sentadas, Bia bebeu toda a água e jogou o copo fora. Depois se sentou no colo da mãe e ficou observando algumas pessoas repetindo o gesto de pegar o copo, encher de água, beber e depois jogar o copo no lixo.

      - Mãe, minha barriga ainda tá com sede.

      - Tá bom, vai lá e coloca só um pouquinho de água - Judith orientou a filha.

      E mais uma vez Bia, toda orgulhosa de ter aprendido o processo da água mágica, pegou o copo, esperou sua vez, colocou só um pouco de água, bebeu e jogou o copo fora. Voltou e se sentou no colo da mãe.

     - Mãe, quero fazer xixi.

     Judith levou a pequena ao banheiro. Voltaram e antes de se sentarem, Bia correu para o balcão, pegou outro copo e repetiu tudo de novo, encantada com aquele bebedouro sem cor, mas que esguichava água só apertando um botão. Voltou para o colo da mãe. Agora nem se lembrava mais da asma e nem da alergia. O trajeto ela fazia correndo, sacudindo os cachos loiros, como molas grandes que, quando quicam no chão, ficam num sobe e desce sem se desgrudarem de sua base.

      Depois de muitos goles d'água e copos descartáveis no lixo, Bia nem se dava ao trabalho de voltar até à mãe. Ficava por ali mesmo, quem sabe auxiliando alguma outra criança que não soubesse como funcionava aquele brinquedo gigante e mágico.  

      Uma das atendentes, vendo a farra das crianças no bebedouro, foi até o balcão, retirou o pacote de copos descartáveis e o guardou num lugar mais alto, onde os pequenos não mais teriam acesso. Bia, inconformada, foi até a moça e perguntou o por quê ela teria colocado os copos lá em cima.

      - Tem muitas pessoas ainda que vão chegar e se os copos acabarem, vão ficar com sede. - respondeu para Bia, com um sorriso no rosto.

      Bia devolveu o sorriso e voltou para o colo da mãe. A mãe perguntou o que ela estava conversando com a moça e a pequena curiosa contou. Judith deu um beijo em sua bochecha e a apertou ainda mais em seus braços.

      Pelas contas de Judith, só mais duas pessoas estavam à sua frente para serem atendidas. E Bia, mesmo continuando a observar as pessoas a repetirem todo o processo de como beber água naquele bebedouro mágico, não mais pediu água. E o abatimento e cansaço que ela estava quando chegou ao posto médico, praticamente haviam sumido. Menos mal, pensou Judith.

      Fim.

7 comentários:

  1. As crianças sentem sede exatamente pra poder fazer essa operação toda,rs beijos,chica

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  2. Criança é assim mesmo...
    Beijos
    Lita

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  3. Clara Lucia adorei seu relato sobre a aventura da pequena Bia diante de um bebedouro. Eu invejo as crianças por terem esse poder da curiosidade frente à tecnologia. isso as leva a abrirem suas mentes para o novo e não para o medo! Bacana! Um abração!

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  4. Assim é a curiosidade da criança...Belo conto!
    Beijos

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  5. Ah essa curiosidade infantil é encantadora!
    Gostei muito do barulho do copo descartável! Muito bem lembrado.
    Beijo

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  6. Adorei...jeito encantador de falar da curiosidade e genialidade das nossas crianças!!! Abs.

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