quinta-feira, 11 de julho de 2013

Momentos de Inspiração - 1ª Edição


Participando da Blogagem Coletiva da Irene Moreira, do Blog Mamyrene. Vamos participar?


Uma Carta no Tempo

      Selma, aproveitando o sol da manhã de primavera, observava Luna a correr na grama verde e fresca. Reparou que a pequena havia tirados os sapatos e se deliciava passando os dedinhos no tapete verdinho que cobria todo o pátio que ficava nos fundos de sua casa. Vez em quando se abaixava e pegava algum bichinho e deixava que andasse em seu braço rechonchudo até quase chegar ao cotovelo, mas pelas cócegas, ela ria e o tirava rapidamente daquele lugar, lascando-lhe um tapa de leve. Selma se divertia com a filha cheia de vida.

      Ouve um barulho e enxerga o carteiro a colocar cartas na caixa do correio. Selma avisa à filha que vai até o portão mas que volta já. Luna só dá uma olhada para a mãe e continua a correr em roda, imitando os movimentos de um avião tentando pouso. Selma sorri para a pequena e vai recolher as cartas.

      Olha uma a uma e se surpreende com uma delas. Volta ao banco de madeira envelhecida e com a pintura de verniz bem gasta pelo tempo, coloca as demais sobre o assento e fica uns minutos olhando essa carta misteriosa. A curiosidade é grande, do mesmo tamanho ou mais do que o medo de ler o que estaria por vir. Cria coragem e abre. Ela solta uma exclamação, coloca a mão na boca e olha para Luna que se assusta com a atitude da mãe, e corre até ela para ver o que tem em mãos.

      - Que isso, mãe? - pergunta a pequena, curiosa, mas sem ter noção do que está escrito, pois ainda não era alfabetizada.

      - É só uma carta, querida, volta a brincar a sim?

     Luna, sem pensar duas vezes, volta a correr pela grama, cantarolando e rindo das borboletas que pousam nas flores.

      Selma então abre a carta e começa a ler. Não acredita que ele teve o disparate de aparecer, mesmo que em poucas linhas, depois de tudo o que havia acontecido. Era do pai de Luna, Fernandez, um espanhol que enfeitiçou seu coração e simplesmente desapareceu depois que soube que seria pai.

      Selma, trêmula, continuou a ler e a balbuciar pequenos xingamentos, mas no fundo, bem no íntimo, um tremor tomou conta de seu corpo, as mãos gelaram e lágrimas lhe saltaram dos olhos, desobedientes e atrevidas, assim como fora Fernandez, quando estivera no Brasil há cinco anos. Sedutor, romântico, galanteador, cavalheiro, envolvente... E envolveu Selma de uma maneira que a fez acreditar em príncipes em cavalos brancos, castelos medievais e amor eterno. O amor seria eterno com a chegada de Luna, mas o amor era somente de Luna e de mais ninguém.

      Como ele teve coragem de se pronunciar, pensava Selma, revoltada e eufórica, inconformada e extasiada. Até pelas poucas palavras era visível sua paixão por aquele Don Juan espanhol. Como conseguia dominá-la mesmo de longe, depois de tanto tempo? Selma não sabia explicar e tinha medo de fraquejar e se perder em seus braços, seus carinhos, seus beijos... E depois o canalha sumir no mundo de novo.

      Releu a carta e aí que foi prestar atenção nas poucas palavras. Sim, ele estava no Brasil e queria vê-la. Pediu desculpas, confessou que estava errado e que queria conhecer a filha e, se possível, registrá-la com seu nome e ajudar a criá-la. Disse que depois que foi embora, deixando-a sozinha, não teve um dia sequer de paz. Parecia um castigo por ter abandonado mãe e filha. Despediu-se, deixou o endereço do hotel em que estava hospedado e que esperava resposta. Não sairia do Brasil enquanto não tivesse a resposta de Selma.

      Ela encostou a carta ao peito e chorou. Ficou comovida com as lindas palavras e com o modo gentil com que descreveu os momentos em que passaram. O amor ainda existia e isso Selma não se conformava. Não conseguia lutar contra um coração traiçoeiro e dono de si. Como pode um órgão dominar tanto um corpo inteiro? 

      Selma ficou olhando a filha brincando com as borboletas e a correr na grama. Suas bochechas estavam vermelhas e um suor já escorria de sua testa, de tão inquieta que Luna estava.

     Selma não sabia o que fazer, e ao mesmo tempo sabia que Luna tinha todo o direito de conhecer o pai. O medo maior era não resistir aos encantos de Fernandez e mais uma vez ficar magoada e abandonada. Não podia pensar nisso, pois o interesse agora era Luna com o pai. Não podia ser egoísta ao ponto de um capricho amoroso abalar a vida da filha que, com certeza e com o tempo, cobraria essa resposta da mãe.

      Sim, Selma já havia resolvido. Iria ao encontro de Fernandez. Primeiro sozinha para que pudessem conversar, e depois levaria Luna para se conhecerem. Era uma obrigação de mãe. O coração que se aquiete e que não dê vexame nesse tempo em que Fernandez ficaria no Brasil. Selma levantou a cabeça empinando o nariz e desafiou o amor. Vamos ver quem é mais forte, pensava, decidida e segura.

      E Luna, toda feliz, brincava e rolava na grama, livre, como uma borboleta.

      Fim.

13 comentários:

  1. Vai dar seguimento à história, certo? Fiquei em pulgas... Quero saber como vai ser esse encontro...
    Beijinho e um doce fim-de-semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  2. Clara,
    a ideia era escrever a partir da imagem? Achei que seu texto foi bem fiel à atmosfera sugerida pela imagem. Gostei ;)

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  3. Que linda história e acho que esse conto merece uma continuação !
    Parabéns Clara! Você sempre nos encantando com seus escritos.

    Espero contar com você na próxima edição.

    Beijos

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  4. Quantas Selmas, Lunas, Fernandez mereciam esta oportunidade da vida ou mesmo das pessoas!
    Um lindo e emocionante conto.
    Parabéns! Bj

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  5. Gostei muito, mas concordo com os demais. Deveria haver uma continuação!

    Surpreendente a cada crônica!!

    Continue. Sempre assim!!!

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

    KK

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  6. Oi, Clara!!
    Ah, você vai ter que continuar...
    Selma e Fernandez terão uma nova chance?
    :)
    Beijus,

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  7. Clara,vc é demais,menina!Conta histórias como ninguém!Cadê seu romance?bjs e boa semana,

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  8. E Luna toda feliz brincava livre como uma borboleta....

    Adorei ,Clara. Condizente com a imagem e agradável de ler.
    Merece uma continuação. Ficarão mesmo juntos para sempre?

    Lindos dias para você.
    Bjs.

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  9. Olá, querida Clara
    Finalmente cheguei em casa depois de 12 dias fora...
    Conheci uma história assim há pouco tempo...
    Tomara que tanto a sua como a que soube, tenham um final feliz para TODOS!!!
    Fique bem!!!
    Bjm de paz

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  10. Muito linda tua participação,Clara! bjs praianos,chica

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  11. Emocionante, parabéns.
    Tenha uma ótima semana.

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  12. chemical substances are dangerous

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  13. Olá hj é um dia especial, deixo aqui
    uma frase pela bela amizade que temos
    Agradeço sempre seu carinho.


    Pode ser que um dia nos afastemos...
    Mas, se formos amigos de verdade,
    A amizade nos reaproximará.

    (Albert Einstein)

    Bjusss
    Rita!!!!

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