quarta-feira, 24 de abril de 2013

Momento Roubado - Conto Sensual


      Sarah caminhava distraidamente pelas ruas da grande São Paulo, com fones de ouvido num som alto, neutralizando o barulho infernal dos carros. Estava num dia tranquilo pois não fora trabalhar devido a um compromisso particular e tirou o dia para caminhar um pouco. Gostava de andar ouvindo músicas e prestando atenção na selva de pedra, no topo dos edifícios, nos últimos andares e ficava imaginando quem estaria naqueles andares, o que faziam naquela hora e vez ou outra apertava os olhos, como se fosse míope, para tentar decifrar a imagem minúscula de alguém que aparecia por trás das janelas.

      Entrou numa ruela para cortar caminho para chegar até sua casa. Do outro lado avistou aquele homem que tanto lhe chamara a atenção em seu local de trabalho. Ele caminhava no sentido contrário ao seu, com as mãos no bolso e de cabeça baixa. Coincidência? Sarah não acreditava em coincidências. Quando ele atravessou a rua, que era transversal a que Sarah estava, olhou para a ruela e também avistou Sarah. Voltou e olhou de novo para confirmar se era ela mesmo. Ela gelou... Nem sabia seu nome. Era um prestador de serviços terceirizado que a empresa contratou por tempo determinado. Mas chamou tanto a sua atenção que agora vendo-o pelas ruas, mal conseguia respirar de ansiedade. Continuou andando, tentando ser normal, mas sabia que demonstrava um certo incômodo em cada passada. Abaixou a cabeça, começou a cantarolar em voz baixa e continuou. Ele a esperou no final da rua, parado com as pernas abertas e com os braços cruzados. E claro, com um sorriso matador.

      Sarah foi se aproximando, não conteve os lábios e devolveu o sorriso. "Oi", cumprimentou-a. "Oi", respondeu Sarah constrangida por não saber seu nome. "Me desculpe, como é mesmo seu nome?", quebrou o gelo, estendendo a mão para cumprimentá-lo. "Camilo", respondeu apertando a mão de Sarah. Ficaram se olhando sem largar as mãos; ele foi chegando perto, sorrindo, ela arregalou os olhos, assustada, mas ansiosa por imaginar o que viria dali para frente.

      Camilo segurou em sua nuca, passou o polegar pelo seu rosto e foi chegando perto de sua boca. Sarah ficou paralisada olhando aqueles olhos castanhos escuros, totalmente hipnotizada. Camilo deu-lhe um beijo na boca, intenso, molhado, longo, deixando-a bamba e sem conseguir sequer levantar os braços para abraçá-lo. Correspondeu ao beijo, assustada. Os lábios macios e grossos de Camilo envolviam toda sua boca, que ora pegava o lábio superior, ora voltava para o encaixe em sua boca e ora apenas passava os lábios delicadamente sobre os seus. Sarah se entregou totalmente nem se importando que estava numa rua pública, numa ruela com pouco movimento onde as poucas pessoas que passavam por eles, olhavam de lado, incomodadas com aquela cena explícita de um beijo apaixonado.

      Enquanto beijava Sarah, Camilo encostou-a na parede, segurou-a por trás e encostou seu corpo no dela. Desceu uma das mãos, até sua coxa, levantando-a. O beijo deixou sua boca e foi para o pescoço, fazendo com que Sarah arrepiasse e gemesse bem baixinho. Sarah ainda estava imóvel, sem entender aquela delícia e onde tudo isso iria parar. Que não pare nunca, pensava ela, com aquele corpo encostado no seu e aquela boca carnuda, macia e lhe devorar o rosto e o pescoço e a saborear sua boca, como um néctar dos deuses.

      Quando Camilo percebeu o estado em que ficou Sarah, foi se afastando aos poucos, deixando-a respirar, segurou seu rosto com as duas mãos, fixando seu olhar nos olhos dela que permaneciam fechados e a boca entreaberta ansiando por mais uma sessão de beijos. Beijou-a de leve, alisou seus cabelos e sorriu. Sarah abriu os olhos e corou de vergonha, por ter se entregado assim tão facilmente a um homem que vira poucas vezes, mas o desejo tomou conta de seu juízo, de seu bom senso, que deu prioridade aos anseios, esquecendo completamente os bons modos aprendidos desde sempre.

      Camilo lhe disse que desde a primeira vez que a vira, teve vontade de beijá-la. Ela sorriu, tímida. Mas que naquele momento precisava ir para terminar o que tinha começado na empresa em que ela trabalhava. Tirou um cartão do bolso e lhe entregou, dizendo que esperaria por um telefonema para se encontrarem à noite. Deu-lhe mais um beijo e se foi.

      Sarah, ainda hipnotizada, continuou encostada na parede. Respirou fundo, passou as mãos nos cabelos e só conseguia dizer "meu Deus, o que é isso?"

      Olhou para um lado, para o outro, olhou as horas, tirou os fones dos ouvidos e continuou a caminhada, ainda se apoiando na parede, com as pernas bambas e um sorriso besta na cara, que teimou em permanecer até à noite, quando ligou para Camilo, toda trêmula, ansiosa por aquela boca, aqueles braços, aquele corpo, o perfume, o olhar, enfim, por aquele homem que a deixou sem ar, que lhe roubou alguns minutos de sua tarde que parecia comum, mas que foi surpreendida por uma emoção que jamais imaginaria ter por um desconhecido. Saberia sobre ele logo mais, quando finalmente olharia em seus olhos e desvendaria todo aquele mistério.

      Mas esse assunto é para outro conto.


10 comentários:

  1. Bom Dia Clara

    Muito bom o conto uma dessa não acontece comigo uma pena rsrsrsrsrs.

    Um otimo dia para você.

    Janaina

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    1. Quem sabe um dia, Jana... alguém te pega assim e... quem sabe?

      Beijos

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  2. Uau!!!Que pegada essa,rs... De tirar o fôlego! Lindo e inspirado conto! beijos,chica

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    1. Uma pegada e tanto, Chica... de tirar o fôlego e o sossego, isso sim! rsrsrs

      Beijos

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  3. Agora quero resto Clara! Fiquei sem fôlego também! Um Camilo não atravessa meu caminho e olha que ando pelas ruas de Sampa exatamente como ela: de fones de ouvido, curtindo uma boa música, apreciando a paisagem urbana...Só falta ELE aparecer! kkk
    Bjs

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    1. Cadê esse Camilo que não te vê pelas ruas, Roseli? Isso é uma injustiça!!!
      Mas ele vai aparecer, em breve!

      Beijos

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  4. Vc tem que parar de escrever a meu respeito!!!!

    ahahahahahahhahahhahahhahahhahahha..

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

    KK

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  5. Muito bom Clara, otima criatividade, estrutura perfeita para o leitor ficar preso à trama e cheio de curiosidades.
    Parabens amiga, fez bem feito.
    Um abração.
    Bjo

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  6. Muito bom, continuação por favor.

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