quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Minha Propriedade


Pessoa ciumenta demais, que se torna possessiva ou obsessiva


      Lara, uma moça linda, inteligente, culta e que acabara de sair de um relacionamento de dois anos, com muitas intrigas, brigas, idas e voltas, choros e sofrimentos, provocados por um sentimento de posse, de ciúme excessivo e obsessão. Até que o rapaz, Carlos, não aguentando, terminou o namoro e se mudou de cidade. Não tinha como continuar na mesma cidade que Lara, pois ela não admitia o fim de um romance que já dava por certo ser eterno até que a morte os separassem. E era isso que ela repetia todas as vezes que Carlos mencionava em terminar. "Se você me deixar, eu me mato!".

      No começo, tudo eram flores e novidades. Essa fase de se conhecerem e se adaptarem foi muito boa, até que cada um começou a conhecer os defeitos de cada um. Carlos até que tentou aceitar o ciúme excessivo de Lara, mas às vezes era insuportável conviver em sociedade com uma pessoa grudada o tempo todo, como se fosse um sombra, ou até mesmo o ar que se respira.

      Por fim, Carlos abriu mão de algumas coisas que amava fazer, só para contentar Lara, que no começo era um doce de pessoa, mas se transformou num estorvo, para não falar numa mala sem alça. Não tinha mais amizades de futebol, nem de cerveja ou churrasco às sextas feiras e muito menos levar os sobrinhos, que amava tanto, para um passeio no shopping. Não tinha paz quando resolvia fazer tais programas. Mesmo Lara dizendo que tudo bem, não demorava dez minutos e ela aparecia, dizendo que estava morrendo de saudades e que só queria participar da vida do namorado. Ele achava graça e aceitava, mas com o passar do tempo, isso começou a ficar incômodo.

      Por hábito, sempre que se levantava, o primeiro gesto de Lara era ligar para Carlos para saber como estava, onde estava, onde ia, com quem falaria e a que horas voltaria. Como ele morava sozinho, vez ou outra ela dormia em sua casa. Mas era um tormento sem tamanho! Esperava ele ir tomar banho para mexer em todas suas coisas, pegar celular e fazer uma varredura de tudo o que acontecia, acessava seu computador até descobrir alguma coisa, que mesmo não sendo nada, era motivo de briga, com alguns tapas que ela lhe dava nos ombros. Isso foi ficando chato e Carlos não tinha mais tanto entusiasmo em ficar prisioneiro de uma mulher linda, mas maluca de pedra.

      Carlos era um rapaz tranquilo, bonito, independente financeiramente e fiel. Não dava motivos para Lara desconfiar de nada, mas mesmo assim, não era suficiente. Era como se ela quisesse entrar em seu corpo e tomar conta do trajeto do fluxo sanguíneo com medo de que algum glóbulo saísse do lugar e extrapolasse por aí, achando um outro corpo mais interessante do que o dela.

      Com isso ela foi se tornando agressiva, ameaçando Carlos com facas, tesouras, pedras, ou o que ela achasse à mão para poder lançar-lhe, castigando-o por nada. Carlos tinha medo dessa atitude doentia e até procurou ajuda psicológica, mas Lara achava que isso era desculpa para ele poder ficar mais tempo longe dela. Também recorreu à família de Lara, sem sucesso, pois todos diziam que ela era assim mesmo e não iria mudar. Mas nada faziam para tentar ajudar nesse quadro psicótico. Para eles, a filha era normal. Só era ciumenta demais. Não percebiam que era doente e precisava de tratamento. "Ela sempre foi assim com os outros namorados também", repetia a mãe de Lara, na maior tranquilidade.

      O estopim que fez com que Carlos tomasse essa atitude drástica de mudar de cidade foi quando Lara, num dia de semana, chegando na casa dele, o viu no carro com uma prima, ao qual ia levá-la para sua casa, pois ficara sem condução naquele dia, e precisava correr para chegar a tempo na faculdade, onde faria uma prova importante. E como ela trabalhava próximo à casa de Carlos, pediu para que ele a levasse para casa. Pronto! O terror lançado! Quando Lara viu os dois no carro, não pensou duas vezes e se jogou em cima do capô e começou a gritar desesperada. Aos poucos uns curiosos começaram a aglomerar o local, deixando Carlos e a prima perplexos. Depois Lara saiu de cima do capô, viu uma pedra no chão, pegou-a e jogou-a no para-brisas, estilhaçando o vidro. Isto assustou todo mundo, e alguns rapazes que por ali passavam, seguraram Lara por trás até que alguém chamasse a polícia ou a ambulância. Carlos não pensou duas vezes e chamou a polícia e fez a denúncia. Depois ligou para os pais da moça e contou toda a situação e disse que se ela aparecesse na frente dele, faria outra denúncia e a processaria por danos morais. Os pais só concordaram mas também nada fizeram. Simplesmente entregaram a situação para Deus.

      As próximas semanas foram mais que tortura para Carlos, pois em todos os lugares que ia, estava Lara para aterrorizar e ameaçá-lo com suicídio. Na última tentativa de Lara, Carlos pegou-a pelos braços, sacudiu-a e disse que nunca mais ela o veria. Ela só olhava na cara dele e ria com um deboche que o irritava mais ainda. "Se você não ficar comigo, não fica com mais ninguém!", repetia várias vezes para o namorado.

      Depois disso, Carlos pediu transferência de onde trabalhava e mudou-se de cidade, para um lugar desconhecido de todos. Mas quem o conhecia dava informações de que Lara continuava nas ruas, como uma doce moça de família, linda, inteligente e sempre à procura de mais uma presa para devorar. E os pais da moça achando isso tudo a coisa mais normal do mundo.

Fim.

25 comentários:

  1. Deus nos livre disso, menina!
    Giu

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    1. Deus nos livre, Giu... ninguém merece e ninguém aguenta!

      Beijos

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  2. Olá Clara, bom dia. Quatro personagens muito bem desenhadas. Parabéns sinceros. Um abraço.

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  3. Ninguém merece um(a) companheiro(a) neurótico(a) como essa Lara... Mas que eles existem, existem e andam por aí entre nós.
    Uma caracterização crua mas, infelizmente, tão verdadeira e real! Muito bem escrito.

    Beijinho e um doce restinho de semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    1. Gente que acha que é dono de outra pessoa. Um horror! Um tormento!
      Impossível viver assim, Ruthia!!!

      Beijos, querida!

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  4. Credo in cruiz,rs...Lindo conto,mas...Vá aguentar!!! beijos praianos,chica

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    1. Cruzcredo, Chica!
      Ninguém aguenta e ninguém merece!

      Beijos

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  5. Que loucura! E como acontece! Mulheres e homens desequilibrados, egoístas...
    Eu tenho medo disso. Dessa carência aguda, desse desespero, desse egoímos.

    Que Deus proteja todos!

    Beijos

    Selma

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    1. É de da medo sim, Selma.
      Só quem já teve uma experiência dessa sabe o quanto é ruim e desgastante.

      Amém!

      Beijos

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  6. OI CLARA LUCIA!
    PESSOAS DESEQUILIBRADAS PODEM DESTRUIR A VIDA DE OUTROS QUE NA MAIORIA DAS VEZES SUCUMBEM AOS SEUS ENCANTOS.
    MUITO BEM ESCRITO E HISTÓRIA QUE PRENDE ATÉ O FINAL.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/ClickAQUI

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    1. Pessoas doentes... destroem tudo que acham pela frente. Um horro, Zilani!

      Beijos

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  7. Esse cara sou eu!!!!

    ahahhhhhahhahhhahahhahahhahahhahaha...
    Tel smatfone tem senha....PC de casa tem senha.....bloqueio em todas as redes.....enfim....um horror!!!

    Mas, por enquanto ainda estou aqui com o pára-brisa do carro quebrado11

    beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx... Luv u!!!

    KK

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    1. Um horror, KK...
      Não sei como vc aguenta!
      Mas, cada um sabe de si e de sua vida.

      Boa sorte!
      Beijos

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  8. Uma história que consegue ser real de tão real que é...
    Beijo
    Lita

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    1. Muito comum... e os homens vão permitindo a mulher ser assim... e elas continuam com suas loucuras. Aceitam e depois reclamam.

      Beijos

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  9. Deus nos livre de pessoas assim, homens ou mulheres, pois o excesso de ciúme é um adoença mesmo. Engraçado que sempre nos deparamos com homens violentos e quando aparece uma louca assim, fica até esquisito. rs Mas elas existem, sim, infelizmente.
    Tomara que ele seja mais feliz em outra escolha. Por que, além de tudo, há pessoas que parecem atrair esse tipo de gente!
    Beijo!

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    1. Extamente, Lúcia!
      Existem os que gostam de mulheres ciumentas. Talvez uma autoestima baixa e uma pessoa ciumenta aumenta sua certeza de ser bom e desejado. Ilusão que nunca dá certo.
      Um horror isso!

      beijos

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  10. Nossa que aflitiva essa desesperada. Adoro seus contos, curtos e densos. Interessante como as pessoas interagem. A loucura de um se entrelaça a loucura do outro. Ate que alguem resolva se libertar.... Que bom que Carlos se mandou. Bjos e parabens. Quem sabe um livro vem vindo por ai? Torcida.

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    1. A vontade de lançar um livro é grande... mas acho que tudo tem sua hora. Ainda não. Mas em breve, sim!

      beijos

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  11. Uma bela construção Clara,que faz reflexão e ficamos a pedir que nso livre desta coisa.
    Parabens pela inspiração e que o final de semana seja lindo.
    Um abração.
    Bjo.

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  12. Nossa,que neura!Sabe que eu conheci uma moça que fazia isso com o noivo?E ele casou com ela,coitado!Ela engravidou.Não sei se estão juntos até hoje mas, com certeza isso não é amor!Ótimo conto!bjs,

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    1. Eu conheço algumas, Anne, e ficam tão cegas que não enxergam mais nada na vida!
      Muito triste e ruim!

      Beijos

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  13. Amor não é posse, mas muita gente confunde...
    Como gato escaldado até de água fria tem medo... vou ficando com minha própria companhia e respiro aliviada! rs

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