sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A casa desmoronada



      Durante praticamente toda a minha infância, morei numa casa bem simples, antiga, com um quintal enorme onde tinham várias plantas, árvores, tipo fazenda. Aquele quintal imenso era meu mundo. Pegava meus brinquedos, minhas panelinhas e brincava de fazer bolo de terra, colocando musgo por cima, como se fosse a cobertura. Uma espiga de milho, ainda verde, fazia as vezes da boneca, e era a aniversariante do dia. Geralmente brincava sozinha, conversava, corria, cantava, inventava...

      Mas nem sempre eu era essa doçura toda; digamos que meu lado perverso às vezes aparecia e uma maldadezinha se aflorava naquela menininha rechonchuda e bochechuda. Coitados dos bichinhos!

      Taturanas e mandruvás eram meus preferidos. O que eu fazia? Escondida de minha mãe, pegava o álcool, o fósforo, pegava a folha com esse bichinho curioso, colocava no chão, jogava um pouco de álcool e tirava este de perto para não fazer um estrago e levar bronca ou surra da mãe, e de longe, acendia o fósforo e.... jogava no bichinho inocente. Não sei que prazer eu tinha em ver aqueles verdinhos ou peludos, e alguns até zebrados, coloridos, com chifres, se contorcerem até ficarem inertes, mas eu prestava atenção e sentia aquele cheiro de queimado, de certa forma, admirada e curiosa.

      Olha, eu já pedi perdão e isso eu não faço mais, tá bom? Era uma criança e tinha minhas arteirices escondidas. Acho que minha mãe nunca ficou sabendo dessa minha proeza, ainda bem.

      Então, dias desses passei naquela rua e a casa não estava mais lá. Desmancharam aquela casa feia, velha, antiga onde passei minha infância. Senti um vazio, como se parte de minha vida tivesse sido apagada, mas sabendo que tudo está em minha memória. Muitas lembranças vieram na minha mente e não tive como não me lembrar desses inocentes bichinhos cruelmente mortos por mim. Aquele abacateiro enorme, que nunca consegui subir em seus galhos, por pavor de altura, também não estava mais lá. Não prestei atenção no que fizeram no local, acho que um espaço aberto para futuros eventos, não sei.

      Uma outra lembrança me veio... um dia, passando da sala para um dos quartos, uma cobra verde saiu da parede, de um pequeno buraco, e quase pega meu pé! Dei um salto para trás e minha mãe veio ver o que era; e a danadinha, acho que por medo dessa assassina de verdinhos, deu ré e voltou para o buraco. Minha mãe, com um pauzinho, ficou cutucando o buraco, na esperança de espetar a peçonhenta e acabar com sua vida. Mas nada aconteceu. Dali para frente, todas as noites, quando me deitava, ficava olhando as paredes, imaginando que aquela rastejante estivesse andando por dentro dela, na espreita, para um dia quem sabe, sair dali e me pegar, por vingança de tanta maldade que eu cometera com aqueles inocentes seres, também filhos de Deus.

      A casa não está mais lá, mas as histórias, as imaginações, o medo dos bichos, as brincadeiras, todas permanecem carimbadas na minha memória.

      Bons tempos, onde os gravetos, a terra, as plantas, os legumes, as flores, tudo se transformava em brinquedos, com histórias com começo, meio e fim.


Um ótimo fim de semana!!!




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11 comentários:

  1. Ah, Clara!!

    Que conto bacana!Relembrar os momentos bons da infância é sempre um prazer!Eu lembro que tinha a mania de entrar no meio do mato pra pegar as joaninhas!O meu prazer era o de pegar as joaninhas, colocá-las dentro de um vidro, e depois soltá-las!!rsrsrsr

    O seu livro deve tá repleto de contos maravilhosos!!:)Quero o seu livro, com certeza!

    Beijo!E um lindo findi pra vc!

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  2. Oi Clara,
    Andei sumida,mas como nesse final de semana consegui um tempo para visitar alguns blogs voltei,desculpa a demora.
    Infância é sempre bom de lembrar não é mesmo?!Eu pelo ou menso,lembro da minha com carinho,das brincadeiras que criava,da simplicidade das coisas,enfim.
    Sempre bom passar por aqui!
    Um ótimo final de semana,abraço,=)

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  3. Oieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!

    Eu pegava marimbondo, tirava o ferrão, amarrava uma linha de máquina nº 50 e colocava uma fita de papel em "V" e soltava o bicho. O "V" ficava rodando e parecia uma hélice. As pás de hélice agem como asas e produzem força obedecendo ao princípio de Bernoulli e à 3ª lei de Newton, criando uma diferença de pressões entre ambas as superfícies das pás.

    KK tb é cultura!!

    beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

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  4. Acho que isso é curiosidade de criança, querer testar limites dos outros seres vivos. Eu não me lembro de pegar nenhum bicho, aliás fugia de todos eles.
    Mas gostava de fazer desenhos nas folhas das plantas da minha mãe, com as unhas. Ia perfurando, aqui e ali, até fazer um padrão. Aí a folha amarelecia, acabava por secar. A minha mãe ficava furiosa comigo...

    A casa desapareceu mas os momentos vc poderá guardá-los para sempre no coração.
    Um doce domingo
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  5. Olá Clara,
    Relembrar esses momentos de infância é maravilhoso.Todos nós temos alguns momentos especial que fica na memória guardadinho.

    Parabéns pelo livro.Vou dar uma olhadinha depois no link.

    Depois de um tempinho ausente aqui estou pra matar a saudades...
    Deixo um grande abraço, com desejo de uma ótima semana!
    Beijos!

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  6. Clara,parabéns pelo livro!Já está lá no Recanto dos autores e qualquer hora quero te pedir uma coisa!Adorei a sua narrativa e criança faz essas coisas mesmo,acho que é uma curiosidade cientifica!Eu apertava os cachorrinhos da minha avó tanto,tanto que nem sei como sobreviveram!...rss...muito comovente a casa de sua infancia! bjs,

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  7. Oi Clara!
    Ah, estas lembranças de infância são muito boas! Também morei em um sítio e lá não faltava brincadeiras, adorava subir em árvores e brincar com estes artefatos da natureza, graveto, espiga de milho.rsss
    Beijinhos e uma linda semana!

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  8. BOM DIA CLARA !!!
    OI TUDO BEM !! , OLHA ESTOU PARTICIPANDO DO TOP BLOG 2012 PASSEI PARA O SEGUNDO TURNO ,CATEGORIA VARIEDADES ,QUE TAL ME DAR UMA FORÇA !!!!!.
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  9. Clarinha,hoje passei para agradecer o beijo na bochecha que deixou pra mim pelo meu aniversario!...rss...morri de rir!Brigaduuuu...bjs e minha amizade!

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  10. Oi Clara, este conto é real?
    Lembro-me que quando moleque algumas vezes caçava vaga-lumes e os colocava em vidros ou sacos plásticos transparentes, imaginando fazer uma espécie de lanterna, rsrsrsrs.
    A propósito falando em bichinhos, como está sua cachorrinha Mia e os filhotes?
    Abraços, saúde, inspiração e paz interior.

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  11. Belo texto, Clara! Coincidentemente estou começando hoje a leitura de um livro chamado "A casa que amei".
    Dá pra imaginar o vazio diante do desmoronamento... =(

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