quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Não mexe que estraga

   
      Catarina tomou um banho rápido, colocou um tubinho básico, preto, sapatos baixos também pretos, sem  maquiagem e sem perfume; afinal, velório não é lugar para desfile de moda. Não tinha muito convívio com a tia Do Carmo, que era prima de seu pai, por isso sabia que não haveria choro. Apenas desejaria os profundos sentimentos e ficaria quieta num canto. Bem, isso se o marido José André não resolvesse ir junto com a mulher. Aí qualquer coisa poderia acontecer.

      José André era o tipo de homem que animava as festas, que brincava com todos e que não conseguia ficar quieto sem aprontar alguma palhaçada. Esse era o medo de Catarina: o que será que José André aprontaria num velório? Nada! Era o que ela esperava, mas ficava com o pé atrás quando o lugar não permitia e nem era conveniente à palhaçadas.

      Ele já estava esperando por Catarina, no carro, e gritava chamando-a de vez em quando, para deleite dos vizinhos que se divertiam com aquele ser completamente aloprado.

      No caminho, Catarina fez milhões de recomendações ao marido, para que, pelo amor de Deus, ele ficasse quieto num canto ou então do lado de fora, longe dos olhos da família. Ele apenas concordou acenando com a cabeça e disse para ela não se preocupar, porque ele sabia se comportar em todos os lugares. Esse era o medo de Catarina.

      Chegando lá, completamente sem noção, José André começou a abraçar as pessoas que estavam fora da sala, sem se informar se era o velório de tia Do Carmo, já que naquele lugar haviam várias salas e no momento, muitos velórios. É claro que as pessoas que ele abraçou nada tinham a ver com a tia Do Carmo, já que a sala onde ela estava, ficava bem no final do corredor. Bem, Catarina apenas puxou o marido e disse para ele apenas repetir seus gestos. - Tá bom, amor, deixa comigo! 

      Chegando à sala, encontrou sua família chorando e foi logo abraçar os outros tios e tias, e lamentou com eles essa perda. José André, sempre atrás da mulher, repetiu os gestos, obediente. Depois se sentaram num canto e ali permaneceram por algum tempo. Até que José André não se conteve, pois já estava tendo o tique nervoso de balançar as pernas, pois não era de ficar muito tempo parado. Se levantou e saiu andando sem rumo. Catarina apenas ficou observando o marido feito uma barata voadora, sem plano de voo.

      Ele chegou perto das velas e claro que colocou o dedo em uma delas e apagou... Disfarçou e saiu dali como se nada tivesse acontecido. Catarina só observando tudo, já com uma mão na boca, com medo do que estaria por vir.

     Perto do caixão não estava ninguém, e José André, comovido em olhar aquele corpo, passou a mão no rosto da tia defunta, de modo assim, vamos dizer, mais carinhoso do que o normal, e a boca dela abriu.... Ele olhou para aquele rosto branco e duro, empurrou o queixo para fechar a boca, tirou a mão, mas o queixo teimou em ficar aberto. Tentou mais uma vez mas nada da boca ficar fechada. Então ele apoiou um dedo no queixo e começou a olhar para Catarina, que estava sem entender o que o marido estava aprontando.

     José André começou a chamar a mulher com os olhos, fazendo sinais, piscando, mexendo a cabeça, na esperança de que ela se levantasse e fosse acudi-lo. E foi o que ela fez! E ela teve vontade de estapear o marido quando viu a arte que ele havia feito. Mas, em respeito ao momento, chamou um outro tio que disfarçadamente foi até o caixão e deu um jeito de encaixar o maxilar no lugar e fechar a boca da defunta.

      Não restou outra alternativa para Catarina do que arrastar o marido pelo braço e sair dali à francesa, sem que ninguém percebesse.

      Mas, entrando no carro, disparou a rir daquele homem, aquele ser que parecia viver em outro planeta. E ficava lhe perguntando como tinha conseguido abrir a boca da tia. Ele deu de ombros e disse que não sabia, apenas fez um carinho naquele rosto gelado e deve ter desencaixado alguma coisa "na cara dela".

      É, não tinha jeito! Não podia mais arriscar levar José André em todos os lugares. Quem sempre passava vergonha era ela e não ele, porque achava que o que fazia era a coisa mais normal do mundo.

15 comentários:

  1. Muito "sem noção" esse Zé André, viu????

    Será que conheço alguém assim???
    É... Acho que não!

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...

    KK

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Acho que todo velório tem que ter um "José André" prá uma arrumação dessas kkkk
    Gente, a pobre da esposa ficou passada! kkkkk
    Adorei Clara, muito legal!

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  3. Oi Clara!
    rsssss
    Menina, esse José André não é fácil heim?
    A esposa é que paga o pato.rsss
    Muito legal!!
    Beijinhos!

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  4. Toda a gente conhece um "José André" nessa vida, mas estar casada com um não deve ser fácil :)

    Beijinho da Ruthia d'O Berço do Mundo
    http://bercodomundo.blogspot.pt/

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  5. Que barato kkk... Adorei! Fiquei imaginando a situação. Seria hilário! kkk...
    Beijinho...

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  6. São pessoas como o"marido de Catarina" que aliviam a tensão nas mais difíceis situações.
    Bem espirituoso este conto-verdade, Clara.
    Bjkas,
    Calu

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  7. Olá, querida Clara
    Passo pra agradecer-lhe a sua carinhosa presença na Série Comemorativa do meu Blog...
    Que conto engraçado!!!
    Hoje estive lendo sobre o bom humor como a alma do saber viver...
    Deus te cubra de bênçãos e te faça feliz!!!
    Bjs festivos de paz

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  8. Oi Clara,
    Adorei a história,me diverti aqui...engraçado que tem muita gente assim que não vê problema em nada,que vive de fazer graça e ri de tudo.
    Abraço,=)

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  9. Clara, visualizei a situação!! :D Por que já presenciei algumas coisas em velório e até comigo aconteceu, mas não pude deixar de me desdobrar de rir da situação - imaginei a tia de boca aberta e o José André chamando a esposa com os olhos - hilário!! "Não mexe que estraga" - Ah, garota! Traz mais contos pra gente!! Me diverti muito com esse :=)) Beijus,

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  10. hahahaha, sério eu tive que rir. Eu conheço um "José André" também, a sorte é que não passo mais vergonha. A maneira como você narra faz a cena toda passar pela cabeça, meus parabéns!

    http://circadianoinverso.blogspot.com.br/

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  11. Maridos assim são mais comuns do que se pensa, rsrs

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  12. Que situação passou o José André!...
    No final tudo deu certo.
    Conto muito criativo.
    Beijos.

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  13. kkkkk boa isso mas eu conheço gente assim e o pior que nao sei se num momento como esse a gente enche a pessoa de tapas ou cai na rizada. bjus boa história

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  14. Olá Clara!
    Que situação mais embaraçosa. kkkkk... Gostei do texto.

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  15. Olá, queria
    Torno a passar pra agradecer a sua participação fiel e carinhosa na Série Comemorativa do meu Blog no dia de hoje...
    DEUS te abençoe e te faça feliz!!!
    Bjs fraternos e festivos de paz

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