quarta-feira, 11 de julho de 2012

Estou aqui! - Parte III

Continuação...

      A psicóloga, uma moça simpática e meiga, aconselhou os pais a começarem uma terapia com o pequeno André, e foi atendida prontamente. Começaria na próxima semana.

      De volta para casa, mal entraram e André já correu para seu quarto para pegar os brinquedos e começar a algazarra de criança. Pegou um aviãozinho que era do irmão, e começou a correr elevando o braço e fazendo barulho com a boca; chamava pelo irmão Tiago, pedindo que o seguisse, e corria pela casa, todo alegre, olhando para trás como se procurasse realmente por Tiago. Sônia parou à sua frente e perguntou com quem estava brincando e ele confirmou ser Tiago. Ela arrepiou e saiu de perto.

      A partir desse dia, Sônia ficava de olho no filho brincando e como ele falava com o amigo imaginário. Era assim que definia a psicóloga Rosana: amigo imaginário. Talvez pelo trauma da perda do irmão, daquela confusão toda, o sofrimento dos pais e ele vendo o irmão caído no chão, todo sujo de sangue, tenha desencadeado um trauma psicológico. Sônia comentava com Mateus sobre as brincadeiras do filho e este simplesmente dizia que era besteira de criança. Então ela não tinha muita opção a não ser ficar de olho no que André dizia enquanto brincava, para poder informar a psicóloga.

      Num dia, quando André brincava sozinho no quarto, conversando e rindo, Sônia parou atrás da porta e escutou o diálogo:

      - Por que você não dorme na sua cama? - e passava um tempo e André fazia outra pergunta;

      - Você não come mais nada? Quer que eu busque uma bolacha pra você? A mamãe não vai brigar comigo não... eu falo que é pra você... - e continuava;

      - Como se chama o lugar que você está? Mas eu estou te vendo.... Por que a mamãe não fala mais com você? Ela vive chorando lá na sua cama.... - e Sônia não aguentou, saiu de perto e foi chorar no banheiro.

      À noite, quando o Mateus voltou para casa, Sônia contou tudo o que ouviu do filho e mais uma vez ele não deu atenção à mulher e disse que isso era besteira de criança, com o tal amigo imaginário que a psicóloga disse. Mas Sônia não se conformou e agora ficava prestando mais atenção no filho pequeno, quando ele começava a conversar sozinho.

      Alguns dias depois, Sônia chamou pelo filho e perguntou como queria seu aniversário, já que estava próximo. Ele deu de ombros e disse que qualquer coisa estava bom. Nunca tinha visto uma criança não se empolgar com o aniversário, já que sempre fazia tudo muito bem caprichado e colorido. André completaria sete anos, um menino muito esperto e inteligente e que já sabia escrever perfeitamente. Era um excelente aluno e só ficou abalado com a morte do irmão, durante pouco tempo, mas tudo voltou ao normal. Foi quando Sônia percebeu o amigo imaginário do filho; depois disso que André voltou a ser como era antes.

      Em um outro dia, Sônia ficou escondida de novo, e ouviu de André o seguinte:

      - Você vai vir no meu aniversário? - e ficava calado, como se esperasse uma resposta;

      - Por que ninguém te vê? Eu tô te vendo aqui, ó....

      - Quando é que você vai voltar e ficar morando aqui de novo? - e percebia André olhando para o nada, esperando a provável resposta.

      Sônia arrepiou e saiu de perto, mas não foi chorar no banheiro, pegou o telefone e marcou um horário com a psicóloga para passar toda essa informação.

      No dia marcado, Sônia contou tudo à Rosana, que anotava num pequeno bloco, desses individuais, prestando muita atenção no que a mãe relatava. Algumas vezes franzia a testa com a expressão de dúvida e perguntava de novo, para ter certeza se era isso mesmo. Sônia repetia tudo exatamente igual, com lágrimas nos olhos e com um certo desespero. Na verdade queria ouvir da médica que seu filho morto estava por ali sim, que Tiago estava conversando com o irmão mais novo, ou então que isso não passava realmente de um pesadelo, que logo todos acordariam e ela e o marido poderiam finalmente abraçar o filho.

      Mas o que ouviu da médica a deixou frustrada, pois a ciência tem sempre uma explicação para tudo, uma conclusão científica que tinha como provar o porquê do menino estar tendo essas alucinações.

      Sônia ouvia tudo com pouca atenção, pois não acreditava nessa ciência em que a doutora falava; acreditava sim e estava certa de que seu filho realmente estava por perto, brincando com o irmão mais novo. Só não tinha como provar que isso era verdade, mas tudo o que ouvia o filho conversar, não tinha dúvidas de que não era alucinação e sim uma possível mediunidade. Sônia se despediu e voltou caminhando, de cabeça baixa e com passos lentos, até chegar em casa.

Continua...

2 comentários:

  1. Oi Clara!
    Que maravilha de encaminhamento você está dando a sua linda história. O pragmatismo da ciência ainda é mais evidente quando se depara com a religião, neste caso é frustrante.
    Beijinhos!

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  2. Vejo que a historia ruma para um campo que a ciência nao absorve.
    Vou aguardar o desenrolar dessa história linda dos dois irmaos.

    beijos
    Zizi

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