quarta-feira, 30 de maio de 2012

Tempos modernos demais

   
      - Judith, vamos ao shopping amanhã? - perguntou Leopoldo à sua esposa, que estava passando as roupas da semana.

      - Quê, véio? - perguntou, sem ter prestado atenção, pois ouvia o pequeno rádio que sempre ficava sobre a geladeira, ligado AM, num programa que ela não gostava de perder.

      - No shopping, Judith, vamos no cinema amanhã...

      - Amanhã? Fazer o quê no shopping, véio? - interrompeu o que estava ouvindo e prestou atenção no esposo.

      - Tá passando um filme de umas pessoas azuis, que todo mundo tá falando... Quero ver esse negócio. - respondeu Leopoldo, encostado no sofá, com os pés numa banqueta, que sempre ficava à frente deste.

      - Então tá, vamos! - e continuou Judith a passar roupas e a ouvir o rádio.

      Estavam casados há mais de cinquenta anos, filhos criados, netos crescidos, e agora tinham a liberdade de passear onde tivessem vontade, de fazer o que antes não faziam, pois seus oito filhos vieram logo que se casaram, e não tiveram muita liberdade para aproveitar o casamento. Então agora era a hora.

      Judith era ainda uma adolescente quando foi pedida em casamento por Leopoldo; não sabia nada da vida, mas desde o primeiro instante, se encantara por aquele homem alto, magro, postura ereta, e militar. Logo depois do pedido, Leopoldo foi convocado para lutar na guerra, fora do Brasil, e prometeu que voltaria para se casar com ela, ao qual também se encantara desde o primeiro momento em que a viu.

      Judith então ficou esperando dois longos anos a volta de Leopoldo. Esse tempo foi suficiente para preparar todo o enxoval, bordar os hologramas nos lençóis e toalhas, fazer a camisola, preparar o vestido de noiva e sonhar muito. E sonhou! Até que Leopoldo voltou e logo marcou a data. Tudo muito rápido e nos conformes, como ditava as regras rígidas daquela época.

      Agora, com todo o sossego e silêncio em que viviam, aproveitavam para passear nesses lugares que antes não existiam e nem tinham condições de levar todos os filhos.

      No dia seguinte, Judith desde que acordou, já ficou preparando tudo, para que nada desse errado na hora em que saíssem para o passeio. Ficava tão ansiosa que até diarreia lhe dava; e caminhava feito uma perdida pela casa, para cá, para lá, como se quisesse achar algo, mas não sabia o que era.

      Leopoldo era mais tranquilo, passava o dia como qualquer outro e se aprontava somente meia hora antes de saírem, o que deixava Judith agoniada, com medo de perderem a hora.

      Toda perfumada, maquiada e com um vestido florido feito sob medida para seu corpo já rechonchudo, sapatilhas baixas, lá se foi o casal para o shopping assistir o tal filme dos homens azuis.

      Só não contavam com uma imensa fila, a maioria jovens, conversando, rindo, o que deixou Judith agoniada novamente e até com vontade de desistir. Mas Leopoldo a puxou pelo braço e a colocou na fila junto dele, que andava tão rápido, que até estranharam. Na verdade eram duas filas, e Leopoldo contou vantagem por ter escolhido a fila que andava mais rápido.

      Entraram, sentaram mais na frente e esperaram o famoso filme começar. Começou! Primeiro umas propagandas, uns trailers, depois o filme.

      Dez minutos ali em silêncio prestando atenção, um olhando para a cara do outro sem entenderem nada, mas continuaram em silêncio aguardando o que estaria por vir.

      Leopoldo não se conteve, cutucou o homem do banco da frente e fez a pergunta:

      - Me desculpe, mas esse filme não é aquele dos homens azuis?

      - Não, meu senhor, esse filme é Kung-Fu com Bruce Lee, o último filme dele que estão reprisando. - respondeu educadamente o rapaz.

      - Ah, é mesmo? Obrigada!

      Se encostou, olhou para sua senhora e caiu na risada! E Judith fez a mesma coisa: tapava a boca para não incomodar os outros. O rapaz da frente virou para trás e também riu daquele simpático casal.

      Bem, como já estavam lá dentro, continuaram, mas sem prestarem muito a atenção porque o filme era de luta, e Judith não gostava muito. Então, ela deitou sua cabeça no ombro do esposo e ficou ali, pensando na vida, até que o filme terminasse.

      Mas depois que saíram da sala, caíram na risada mais uma vez, e esse foi o assunto da semana, com todos os filhos, os vizinhos, as comadres e até os netos, que ficaram zombando dos avós que não leram o cartaz antes de entrarem na sala de cinema.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Primeiro ano

 
      Beatriz, Bia como a chamavam, uma garotinha fofa, cabelos loiros, esperta, inteligente e muito, muito criativa.

      Começara o primeiro ano primário e o entusiasmo deixava estampado em sua carinha rechonchuda. Não tinha preguiça de acordar, arrumar a mochila, o uniforme sobre a cama: camiseta branca, saia rodada xadrez, branco com cinza, meias 3/4 brancas e sapatos pretos. Ah, os sapatos... estes eram um problema para a mãe da pequena Bia... Tinham que ser com solado de borracha, mas aquelas borrachas reforçadas, porque nada a segurava quieta durante o intervalo. Corria para cá, para lá, e dois meses os sapatos já eram....

      De lanche levava pão com ovo frito e uma garrafinha de suco, daqueles em pó, que era só colocar água e adoçar. O corante deste era tanto que sua língua sempre ficava com a cor do suco, o que a deixava alegre, porque somente ela tinha a língua colorida.

      Estudiosa e curiosa, suas notas eram sempre as melhores de toda a turma, e numa ocasião, tirou uma nota um pouco abaixo do que tinha costume; o espanto foi em toda a classe, inclusive para a professora, Dona Ermelinda, uma senhora pequenininha, uma bondade em pessoa com paciência de anjo. Todos adoravam Dona Ermelinda.

      Bia não morava longe da escola, mas tinha muitas ruas para atravessar e onde situava a escola era movimentada, e a pequena sempre ficava com medo de atravessar correndo, cair e algum carro lhe passar por cima. Mas como foi orientada a se virar desde pequena, era assim que tinha que ser.

      Quando chegava na escola, ficava olhando os pais levarem os filhos, ou de carro ou a pé, e imaginava seu pai a levando também, dando-lhe um beijo no rosto e acenando até que entrasse pelo portão. Mas essa experiência Bia já havia tido e não foi nada parecido como todos pais faziam com os filhos. Foi um dia muito triste, que a pequena não gostava de ficar se lembrando, pela dor que sentira daquele que deveria cuidar dela e não a deixar solta para atravessar ruas movimentadas, sozinha. Apesar de tão pequena, aos poucos Bia já pressentia que realmente tinha que se virar, andar sozinha pelas ruas e sempre ir atrás do que queria. Ainda não sabia o que era dor, mas uma pontada no pequeno coração a incomodava quando se lembrava daquele dia.

      Bem no começo das aulas, sua mãe, uma pessoa ocupada com os afazeres domésticos, a levaria por uma semana como já havia lhe explicado, mas depois teria que ir sozinha, pois já era uma mocinha, e mocinhas precisam aprender a ir e vir sozinhas e a se cuidarem também. A pequena ouvia tudo da mãe, sem nada entender, pois com tão pouca idade, só entendia de brincar com as bonecas, que eram poucas, mas eram companheiras para todas as horas de solidão que sentia, quando tinha que brincar sozinha e em silêncio num canto da casa.

      No último dia de completar aquela semana, Bia sentia náuseas por tanta responsabilidade que a mãe lhe colocava nas costas, mas não teria como ser diferente; encararia as ruas e os carros, como uma guerreira, uma destemida mocinha, que foge de bandidos que a perseguem pelas ruas esburacadas, e atravessa correndo, ouvindo aquele barulho ensurdecedor de buzinas por todos os lados. Mas, neste último dia, fez um pedido à mãe: queria que seu pai a levasse até à escola. A mãe torceu o nariz, chegou para o marido e contou sobre a vontade de Bia. Ele a olhou, com cara de quem não gostou muito, mas concordou, acenando com a cabeça. Bia, apesar de ter medo do pai, que vivia carrancudo e quieto, soltou um sorriso e saiu correndo para o quarto para pegar sua mochila.

      O pai se despediu da esposa e foi cumprir a vontade de Bia, sua única filha. Mas ao sair na rua não pegou em sua mão; apenas foi andando rápido, como se estivesse com muita pressa de se livrar dessa obrigação de ter que agradar uma criança. Afinal, por que uma criança tem que querer alguma coisa, pensava o pai, andando rápido e com as mãos nos bolsos. Bia com passos mais acelerados, quase que corria para poder alcançar aquele que ela amava, mas não entendia porque era tão distante, e mal lhe falava com. Já se acostumara com o jeito frio do pai e até achava que era normal ele ter essa atitude, pois não conhecia outro pai. Então, para Bia, a imagem de pai era essa: um homem bravo, que não ria, não falava com ela, e tinha um cheiro estranho quando chegava do trabalho, que ela não sabia que cheiro era aquele. Chegando na esquina da escola, antes de atravessar aquela rua movimentada, o pai parou, só fez sinal para que Bia também parasse, olhou, e lhe disse que atravessasse correndo enquanto os carros estavam longe. Bia não entendia o que estava acontecendo, mas obedeceu, por medo, aquele homem enorme que era seu pai. Atravessou correndo, parou, olhou para trás e não mais o viu. Ela ainda chegou mais perto da esquina e o viu, já bem distante, andando mais rápido ainda de volta para casa.

      Bia não se conteve, abaixou a cabeça e uma lágrima lhe escorreu nas bochechas. Não entendia porque o pai não era como os outros, que davam beijos nos filhos e esperavam que entrassem pelo portão. Uma dor imensa tomou conta de seu coração e não conseguia mais parar de chorar. Mas teria que entrar por aquele portão, porque se voltasse para casa, com certeza levaria bronca da mãe, e quem sabe, uma surra daquele pai que ela sabia como era, mas não entendia porque agia daquele jeito. Culpa! Era esse o sentimento que lhe invadia naquela hora. O que será que tinha feito para que o pai a tratasse assim? E ficava  se lembrando das arteirices do dia, ou do dia anterior, ou então quando era mais criança, e não conseguia se lembrar de nada. Será que falou alguma coisa naquele seu cantinho que sempre ficava brincando em silêncio, e que seu pai passando por ali, ouviu e não gostou? Não tinha como saber.

      As lágrimas ainda escorriam pelo rosto quando entrou na sala de aula, sentou em seu lugar de costume, deitou a cabeça nos braços e ali permaneceu quietinha, com as lágrimas pingando no chão. A dor era tanta que soluçava bem baixinho, temendo que alguém escutasse e lhe desse uma bronca. Sentiu um toque em sua cabeça: era Dona Ermelinda, com todo o carinho, perguntando o que havia acontecido.

      - Nada! - respondeu, passando os braços nas bochechas para enxugar as lágrimas que ainda teimavam em sair de seus olhos.

      - Oh, minha querida, vem aqui comigo, vem.... - e a pegou no colo e ficou abraçada com a pequena Bia, que chorava mais ainda, mas se sentia tão amparada por aquele anjo, que aos poucos as lágrimas foram secando e por fim, começou até a rir.

      Os outros alunos, que nada entendiam, ficavam quietos apenas olhando aquela cena, e algumas amigas daquela pequena fofinha, foram chegando, e quando a professora a colocou no chão, a abraçaram, todas de uma vez.

      Naquela mesma hora, Bia, apesar de sua pouca idade, também tinha a certeza de que era amada de alguma forma, por pessoas estranhas, que sabia apenas os nomes, mas que demonstravam tanto carinho, como nunca havia sentido antes, nesses poucos sete anos de sua vida.

sábado, 26 de maio de 2012

Esmalte e estampa



Meninas, as fotos não têm ficado muito boas.... ainda não arrumei minha máquina fotográfica, aquela super potente que tem vida própria.... mas dá pra ver, não dá? Me desculpem, simmmmmmmmmmm?????

Eu digo que sou uma pessoa lisa, que não sou chegada a estampas, principalmente nas roupas. Acho que por eu ser alta, chamaria muito a atenção, não sei.... talvez não, talvez seja por falta de costume mesmo.

Duas estampas que eu gostei: o edredom que ganhei, que achei super fofo e essa caixa de bolinhas que amei! Dentro da caixa vieram cremes, sabonetes, que também amei!

O esmalte que estou usando é o que mais gostei até hoje: Ludurana antialérgico Rosa Chiclete. E foi o que teve mais durabilidade. Nem um descascadinho durante a semana toda, mesmo eu fazendo todo o serviço de dona de casa. Amei!!!!

Me lembrei de minha avó agora, que sempre dizia quando me via mascando chiclete: "Não pode engolir, porque gruda no estômago, fia!". Saudades.....

Querem ver mais unhas lindas, mulheres poderosas e estampas fofas? Fernanda Reali... é só clicar e admirar...

Um ótimo sábado para vocês!!!


sexta-feira, 25 de maio de 2012

MEME - Mais um....

Recebi esse MEME de uma amiga querida, a Valéria, que gostei e vou fazer.



Conheço muitas pessoas que não gostam, mas acho tão carinhoso ser lembrada para alguma coisa nesse imenso mundo da internet, mais precisamente dos blogs, que gosto de fazer sim.

Então vamos lá...

Regras:

1) Criar um post e responder as questões de quem lhe deu a Tag;

2) Criar onze novas perguntas para passar;

3) Escolher onze blogs para dar a Tag e colocar o link delas no post;

4) Avisar os onze blogs que foram escolhidos.

Perguntas:

1) Quando surgiu a ideia de criar o seu blog?
R - Um amigo blogueiro me incentivou: o Giu. Eu comentava no blog dele e ele dizia que tinha "jeito pra coisa", então criei um, com medo de críticas, com medo de não saber o que escrever, com medo de ninguém ler... mas a surpresa foi imensa, e hoje estou aqui, com meu xodó de blog que adoro!

2) O que lhe dá mais prazer em blogar?
R - As pessoas gostarem do que eu escrevo, comentarem, ou elogiando ou criticando (ainda não tive críticas), ou corrigindo alguma coisa, ou só dando um oi; conhecer pessoas de várias parte do mundo; isso me deixa imensamente feliz!

3) Para você, o que faz seu blog ser encantador?
R - Eu sou muito sincera, muito clara nas minhas colocações, direta até demais e um pouco bocuda. Acho que é isso... autêntica.

4) Qual a coisa que você mais odeia?
R) Hipocrisia, sarcasmo, deboche, ignorância, grosseria, estupidez, e falta de respeito.

5) Qual a coisa que mais lhe encanta?
R) Gentileza, cavalheirismo, educação, humildade e sempre, sempre bom humor.

6) Qual a sua palavra favorita?
R) Favorita tenho muitas, todas aquelas básicas que todos falam, mas tem uma que gosto do som dela: underline. Acho ela chique!

7) Qual a palavra que você menos gosta?
R) Como base na resposta anterior, uma palavra feia, que acho chula, pobre, apesar de seu significado não ser esse, mas o som dela me incomoda muito: fulano.

8) Qual é o seu livro de cabeceira?
R) Bíblia.

9) Qual a música que poderia ser a trilha sonora de sua vida?
R) Começar de novo, de Ivan Lins.

10) Qual o filme que ficou marcado na sua vida?
R) Tem alguns filmes que gosto muito, mas vou citar um que acho que foi o primeiro que assisti, que me lembro até hoje, apesar de tê-lo assistido bem novinha: Marcelino Pão e Vinho, de José Maria Sánchez Silva.

11) Qual o lugar que você mai deseja conhecer?
R) Paris! Eu adoro coisas francesas, pelas fotos acho lindo! Música francesa me envolve, me comove...



Bem, aí estão as minhas respostas.

Agora, criar onze perguntas para quem quiser participar:

1)   O que lhe faz visitar um blog e depois segui-lo?

2)   O que lhe encanta num blog?

3)   O que lhe faz desistir de continuar visitando um blog?

4)   Onde você busca suas inspirações para escrever no blog?

5)   Já recebeu alguma crítica por um post? Como lidou com isso?

6)   Você navega por outras redes sociais? Quais?

7)   Você acredita em amizades virtuais verdadeiras? Já conheceu alguém virtual que se tornou amigo verdadeiro?

8)   Alguém implica com você de ficar muito tempo no computador? Você se acha viciado em internet?

9)   Que tipo de post lhe atrai mais?

10) Que tipo de post que você não gosta de ler?

11) O que lhe faz comentar num blog? O post interessante ou o dono do blog?

Próxima regra teria que indicar onze blogs para participar... mas... ah, gente, não sei fazer isso! Sou totalmente a favor da liberdade. Então, quem gostar e quiser participar, só copiar as perguntas e depois me avisar, que coloco um link no post recente do meu blog. Certo? Vamos, gente, vamos nos conhecer melhor? Participem!

Mais uma vez, obrigada pela paciência de me ler, por virem aqui, comentarem ou não, são todos muito queridos e muito bem vindos!
Podem puxar a cadeira, que tem bolo e café, fresquinhos!



Um ótimo fim de semana para todos!!!


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Futilidades

Hoje eu queria escrever algo sobre o que está acontecendo pelas redes sociais. Um texto chato, coisas que todo mundo já falou, mas eu quero escrever sobre isso sim, então vamos lá:

O ruim da história:
Acho que o pessoal tá tirando como exemplo as torcidas organizadas do futebol, porque vou te contar, viu? Brigar por nada? Com quem nem se conhece direito? Agredir com palavras, xingar, excluir? Mas que coisa mais deselegante essa.

Primeiro apareceu Sandy, toda princesinha - eu também acho ela uma princesinha com cara de boneca, além de ser uma ótima cantora - dando aquele depoimento meio atravessado para aquela revista... sabem qual, não é?


E quanta polêmica em torno disso, meu Deus! Cada um que cuide de seu fiofó, não é?

E não adianta! Ela tem carinha de princesa mesmo e não vai mudar nunca!

Mas o que temos a ver com isso? Ah, mas ela é famosa! E daí, que é famosa? Ela nos dá a voz dela, as músicas; agora, a vida particular é dela!

Depois, esses dias mesmo, aparece Carolina, toda nua, mas não naquela revista...  sabem qual, não é?

Algum hacker entrou em seu PC e roubou tudo, e publicou! O que seria isso? Para mim é invasão de privacidade. Ninguém tem o direito de invadir o território do outro, não é? Independente de ser famosa ou não, isso é crime.

E o povo, polemizando, criticando, rindo, fazendo piadinhas sem-graça nenhuma...


Mas, gente, acho que ela tem o direito de fazer o que lhe der vontade; o PC é dela, o corpo é dela, o marido é dela.... Os invasores é que estão errados, não ela! É assim que penso.

Agora, muitos falando que por ser famosa, a polícia agiu rápido... é isso mesmo, por ser famosa, agiu rápido, porque causa polêmica, porque aparece, e se ela aparece, é claro que a polícia vai querer aparecer também!

Eu acho ela chatinha, mas o que ela faz é emprestar sua imagem para os que assistem novelas, não é?

O que muda na vida de alguém, ela ser assim ou "assado"?

Agora a rainha Xuxa....

Mas que coisa mais chata esses comentários todos! Que cansativo! Que inútil! Que perda de tempo!

E eu aqui perdendo o tempo também, porque hoje quero falar futilidades....


O que ela falou, se é verdadeiro ou não, ninguém sabe além dela, não é? Ela está pedindo para alguém acreditar? O Fantástico propôs uma entrevista e ela aceitou! Só isso!

E todos que a odeiam, que não a suportam, que a acham falsa, que a chamam de ultrapassada... todos, falando dela, todos assistiram para poder comentar depois. Quer dizer: odeiam, mas não perdem nada do que ela fala. Tá bom! Senta lá, Cláudia!

E uma guerra absurda, onde uns defendem, outros criticam, outros zombam, outros fingem que não gostaram mas se emocionaram, outros amam, mas como o que aparece nas redes são críticas, então critica também, só para seguir algum bocudo que-não-tem-mais-o-que-fazer-da-vida.

Será que ela precisa provar alguma coisa para alguém? Quanta hipocrisia isso!

É o preço da fama, mas eu prefiro acreditar que tudo isso é uma falta de respeito com o próximo.

Julgar é muito fácil, apontar o dedo é um gesto automático, mas quando você aponta o dedo para uma pessoa, outros três dedos estão apontados para você....

Pronto! Meu momento futilidade está terminado!


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um pouco de Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis

Bons Amigos

Abençoados os que possuem amigos, os que têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!




sexta-feira, 18 de maio de 2012

Palavra mal dita



Será que alguém se lembra da primeira palavra de carinho que ouviu de alguém? Difícil, não é? E a primeira ofensiva? Piorou não é?

E agora pensando rapidinho, a primeira fase da vida que lhe marcou: de uma conversa, de um papo, uma agressão, uma ofensa? Fiquei pensando e acho que me lembro sim, mas de palavras mal ditas por pessoas que deveriam me dizer palavras de carinho.

Por que essas palavras mal ditas marcam muito mais do que palavras doces? Por que machucam? Deveriam ficar registradas com a mesma intensidade, tanto palavras de ofensas como palavras de carinho.

É engraçado como as coisas que nos machucam ficam encravadas em nossa mente,  num lugar bem escondidinho, bem lá no íntimo, que mais cedo ou mais tarde, vai explodir, de uma forma ou de outra.

Já me lembrei de tantas coisas ruins, bem mais do que coisas boas. Será normal?

O poder de uma palavra lançada é como uma lança em chamas que chega até nós e nos crava o peito, e aquela brasa na ponta da lança se quebra dentro de nós e fica ali para sempre, que vez ou outra inflama e dói. E não adianta remédios, nem terapias, nem muito amor depois disso: o que está dito, dito está.

Aí, amadurecemos, aprendemos a lidar com situações, aprendemos a filtrar o que ouvimos, aprendemos a nos amar, a nos respeitar, a saber escolher e nunca, nunca pegar para si, o que os outros nos falam, se nada nos acrescentar. Mas até chegarmos neste estágio, muitos machucados abertos, muitas feridas inflamadas, muita dor... todos expostos e sem cura.

Na verdade aprendemos a conviver com a dor de um passado... todos nós temos um passado; todos nós ouvimos coisas boas e coisas negativas; mas o que mais nos marca é ouvir palavras mal ditas na infância, humilhações, maus tratos, agressões de alguma forma, por aqueles que deveriam nos cuidar, nos educar, nos acarinhar. Tudo isso pode ser destruidor; e é destruidor.

Quantas vezes perdemos a autoestima, o amor próprio, o respeito, por simplesmente acreditarmos por anos e anos naqueles que só tinham isso para nos passar? Nem todos, claro, mas para muitas pessoas isso acontece sim.

Uma vida desperdiçada, talvez uma vida de talentos, de descobertas, que ficou escondida numa concha, por ter ouvido durante um tempo da vida, mentiras de adultos sem o mínimo de respeito pelo próximo.

Você que é mãe ou pai, o que tem dito ou disse ao seu filho? Elogios? Demonstração de amor, de carinho? Incentivos? Ou você joga na criança toda aquela raiva passada em sua infância, e como você não teve amor e carinho, ninguém mais poderá ter?

Isso é muito grave e é bom repensar em certas atitudes. Erramos sim, claro, mas podemos corrigir os erros, pedindo perdão e reconhecendo o erro. Não estou dizendo pais permissivos, mas pais cuidadores, amáveis, responsáveis e educadores.

É bom parar para pensar sempre, durante toda a vida, o que estamos lançando ao ar em forma de palavras.

A vida é como um espelho, e o modo como você o encara, ele lhe devolve exatamente como foi encarado. É só uma questão de tempo.

Um ótimo fim de semana para todos!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Amor aos Pedaços - Esperança

Hoje é dia de BC da Rosélia, Luma, Rute.... essas queridas iluminadas que me dão o prazer de escrever sobre coisas maravilhosas, do dia-a-dia.


O assunto hoje é Esperança.

Fiquei pensando em alguma passagem de minha vida que tem a ver com esperança e não achei nada específico, mas digo que esperança é necessária sempre.

Nunca somos totalmente sofredores ou totalmente felizes. Que entre um e outro, existe a esperança, o sonho, e consequentemente a realização dele.

Às vezes ficamos tempos, anos, lamentando uma perda, uma decepção, e não conseguimos enxergar o que poderia estar por vir. Se acabou algo, se nos machucamos, é porque não tinha que ser.

Deus é perfeito, e não nos dá o que pedimos; como bom Pai, ele nos dá sempre o que necessitamos e sabe como ninguém o que é melhor para nós.

É necessário sofrer, chorar, lastimar, padecer, mas tudo na hora certa e com tempo determinado. Perdas acontecem, traições idem... Mas outros dias virão, bons ou iguais, ou ruins, quem sabe?

Na verdade o que sempre queremos é o que todos querem: paz, felicidade, amor, fartura....

Se temos essas esperanças, com certeza elas virão, não todas de uma vez, mas virão, cada uma a seu tempo.

Esperanças são como sonhos, que desejamos tanto, que atraímos tanto, que mais cedo ou mais tarde acabam acontecendo. É a lei da atração. Já ouviram falar? É super interessante: você deseja algo, mentaliza realizando tal coisa, e o Universo conspira a seu favor, e Deus, se for para seu bem, abençoa; e se você não desistir, não se esquecer, não desanimar, o sonho acaba se realizando. É assustador, mas a mente humana é fantástica e atrai para si coisas que talvez achamos impossíveis; e não são! Acreditem nesse potencial!

Esse livre arbítrio que temos chega a ser medonho; escolhas.... mudanças.... tudo isso nos dá um certo medo de errarmos. Mas se fizermos errado, qual o problema de começarmos tudo de novo? E de novo, e de novo? E quantas vezes for necessário?

Nossa vida está sempre em reciclagem, em mudanças, e só não muda quem não se atreve a esperar sempre mais, a querer sempre mais, melhor, mais feliz, mais prudente. Nada é eterno, para sempre. Mudanças sempre são necessárias para que não nos estacionemos numa situação cômoda, e toda essa mudança vem com a esperança. Esperança de uma vida melhor...

Deus sabe o que faz conosco, e sabe o que é bom para nós, e nos ama como um Pai amoroso que quer sempre o melhor para seus filhos.

Que todos tenham paz, amor e esperanças, ao longo de toda a vida!
Amém!


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Meu dia de Dia das Mães

Como trabalho em casa, trabalho quando preciso, não importa se é feriado ou fim de semana. E hoje era um dia em que tinha muito trabalho. Estava feliz porque gosto de trabalhar, e os planos eram: me levantar cedo e mandar ver.... Mas..... Mudanças de planos: um piripaque se alojou nesse meu corpo e não consegui fazer nada!

Fiquei praticamente o dia todo deitada....

Definitivamente, não nasci para repouso, nem ficar doente, nem tomar remédios, nem nada....

Mas não sou eu que decido; essas coisas acontecem... Então, como não tinha jeito, fiquei deitada, dormindo, acordando, dormindo, acordando....

E meus lindinhos, minhas preciosidades, fazendo o almoço!

Eles demoraram umas cinco horas para preparar um escondidinho de frango e.... só!

Também teve sobremesa: mousse de limão e de chocolate, desses comprados prontos, que é só bater e colocar na geladeira.

Minha filha disse que teve que ficar pesquisando no tio Google, como fazia isso ou aquilo.... "por isso demorou, mãe!".

Mas que besteira.... Não importa! Estava ótimo, de verdade! Um capricho!

Na hora que me levantei, para dar uma espiada no que estava acontecendo, os dois, aliás, os quatro: Amanda e Leo, sentados no chão, em frente ao forno, e este de luz acesa, para verem se iria demorar grelhar o queijo. Achei tão engraçado! Eles sentados, e os cachorros atrás, deitados, olhando também! Pena que nem me dei conta de tirar uma foto e mostrar....

Coisas da vida, simples, mas que dinheiro nenhum paga!

Ah, e depois lavaram tudo, arrumaram tudo!

Filhos, minhas jóias preciosas, que amo tanto!



sábado, 12 de maio de 2012

Blogagem Coletiva - Esmalte e Maternidade



Gente, a foto ficou péssima, mas minha lindíssima e poderosa máquina fotográfica tem vida própria e deve estar de TPM, porque não quis funcionar de jeito nenhum! Então usei o celular.

Mas acho que dá para ver a cor do esmalte Ludurana, Lindeza, e as figuras dos meus filhos: Amanda, de 17 anos e Leonardo, de 16. Lindos e loiros e... a cara da mãe, né, gente?

Maternidade: não tive experiência maior em minha vida do que ser mãe. Nasci para ser mãe, amo filhos e teria mais alguns... quem sabe, né? Não meus, porque não tenho mais idade, mas tantas crianças por aí, carentes de família.... Bem, o futuro é um mistério, que pode mudar à qualquer momento.

Quando tive minha filha, a sensação foi de um milagre de Deus. Como pode nascer do nosso ventre, um serzinho tão frágil e ao mesmo tempo tão forte? Não tem como não se emocionar, vendo aquela carinha sujinha, olhos arregalados procurando entender o que acontece do lado de cá...

Depois, quando cheguei em casa com aquele embrulhinho rosado e branquinho, coloquei-a no berço e perguntei? - E agora? O que eu faço? - Vai fazendo o que o bebê precisar.... ele avisa do que precisa.

Mãe tem o sexto sentido e adivinha o que o bebê precisa, qual choro é para quê, quando é birra e quando é carência... um elo que se forma e que nunca mais é desligado. Nunca mais dormimos sossegadas, nunca mais nos importamos conosco primeiro, nunca mais somos as mesmas. Deixamos de ser mulheres e nascemos mãe.

Depois, quando meu filho nasceu, já estava mais sossegada e já sabia como fazer. Só que agora eram dois, com pouquíssima diferença de idade um do outro.

Bem, só sei que o amor foi tanto, que abri mão de carreira profissional para cuidar de minhas crias. E fiz o que tinha que ser feito.

Agora....

O outro lado da moeda...

Filho cresce, e tudo o que nós mães cansamos de repetir, ensinar, encaminhar, de certa forma (não todos), vai por ralo abaixo. Mas que coisa! Mesmo depois de grandes, ainda temos que ficar lembrando do que precisam fazer... isso é um saco!

O que mais me irrita: quando vou acordá-los de manhã e ficam enrolando, voltam a dormir e tenho que ficar chamando-os toda hora, para não perderem o horário.

E quando vão a algum lugar de ônibus? Acham que o ônibus circular vai chegar no ponto e esperar por eles.... Isso me irrita profundamente, ter que ficar lembrando a hora que o ônibus passa.

O pior: a bagunça de filho. Minha filha é baguncenta demais, o quarto dela parece que passou um tornado e tirou tudo do lugar. Para caminhar lá, tenho que ficar pulando todos os sapatos, que ficam jogados por todo o quarto, e o guarda-roupa se muda de mala e cuia para a cama dela. E para dormir? Ou ela empurra num canto, nos pés da cama, ou coloca tudo uma em cima da outra e sobre uma banqueta que tem lá. E a roupa fica equilibrando para não tombar. Isso é caso de morte!

Agora, meu filho é organizado, mas calado demais. Pergunto algo a ele, e acho que ele responde mentalmente, pois não ouço. Então tenho que ficar perguntando de novo, num tom mais alto, só para ele sair falando depois, que eu fico gritando com ele. Affffff... isso cansa demais...

Bilhetes: já espalhei milhares pela casa, lembrando deles o que pode e o que não pode, já que vivemos aqui, então quem arruma tudo sou eu, e quem dita as regras da organização também sou eu! Mas que nada! Onde Amanda passa, deixa uma lembrança dela no lugar....

Bem, acho que hoje já está de bom tamanho, mas aproveitei a carona da Blogagem da Fernanda, que convido vocês a visitarem, para falar do dia das mães e desabafar um pouco.

Feliz Dia das Mães!
Saúde, Paz, Paciência, Persistência, Perseverança, Amor, muito Amor pelos filhos nossos de cada dia!


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Agora Inês é morta - Parte V - Final

Continua...



      O gesto de acariciar o rosto da mãe, fez com que Eustáquio sentisse um alívio imenso, uma paz como jamais sentira antes. Queria voltar no tempo, quando ainda estava no ventre da mãe, nascer de novo e ter uma nova chance com essa mesma família, para poder ter essa sensação de carinho e afeto, como estava tendo agora. Mas já era tarde... mais um pouco e seu corpo será enterrado... e devorado por aqueles bichinhos sedentos de carne humana putrefada, deixando-lhe apenas os ossos e os cabelos. Será que presenciaria tudo isto também? - Sim, - respondeu a mãe - até o sétimo dia, sentirá tudo o que acontece por aqui; somente depois da missa de sétimo dia, com a oração em união com todos, conhecidos e desconhecidos, e com a benção e o pedido de misericórdia do padre, as preces serão ouvidas e um degrau subirá, e aí por diante, um degrau por vez, até estar preparado para a reencarnação, e tentar mais uma vez viver na Terra e receber o perdão de todos que o odeiam.

      Já recuperado, Eustáquio se levantou do colo da mãe e viu o filho mais novo, "a rapa do tacho", como ele costumava chamá-lo, ao lado da mãe, que permanecia imóvel olhando para o nada. Pedro, assim como os outros, não chorou, mas Eustáquio ao firmar nele viu uma luz brilhante ao seu redor, como se o corpo do filho tivesse luz própria e iluminasse por onde andasse.

      - Por que ele brilha desse jeito, mãe? - perguntou à mãe, sem entender porque não sentia o ódio dele, como sentiu com os outros filhos e com a esposa.

      - Pedro é uma alma iluminada, que veio pela misericórdia de Deus ajudar a família, transmitindo amor, compreensão e quem sabe, fazendo-os perdoá-lo, meu filho. - respondeu a mãe, ainda com a mão na cabeça dele. - Se todos os que o odeiam entenderem o recado do Pai, essa será a última geração de sofrimento, de ódio, de revolta. Os filhos de Pedro serão abençoados como ele, e levarão alegrias e paz, nas casas da avó, sua mãe, e na dos tios, seus irmãos. - respondeu a mãe, agora olhando bem nos olhos de Eustáquio, e finalmente sentindo um alívio daquela alma sofredora.

      Eustáquio, ainda firmando no caçula, viu um breve filme, numa outra parede daquele cômodo, que começava a encher um pouco mais de pessoas, já que estava praticamente na hora de dar adeus àquele homem odioso. Desde o nascimento, Pedro sempre foi muito carinhoso com todos, principalmente com a mãe, que vivia abraçando e beijando; e esta fazia isto escondida do marido Eustáquio, para não levar bronca, achando que estava mimando demais o filho caçula. E era o único que dizia "eu te amo" naquela família. Apenas a mãe ouvia, e se emocionava; mesmo não podendo demonstrar, ainda assim, lhe devolvia a frase, repetindo-a naquele ouvido minúsculo, completando com um forte abraço.

      Eustáquio não prestava atenção no filho, quando ainda era vivo, mas agora vendo os gestos carinhosos, se emocionou e mais uma vez sentiu paz no peito sem coração. Ainda vendo as cenas, viu seu pequeno fazendo desenhos: o pai e o filho de mãos dadas, o pai e o filho brincando de bola... sempre o pai e o filho. E escondia todos numa pasta que colocava debaixo do colchão, para ninguém nunca achar. Somente a mãe sabia desse esconderijo.

      - Por que ele não chorou com minha morte, mãe? - Ficou curioso.

      - Ele não te amava, filho, apenas o respeitava. Por ele ser o menor de todos, você nunca o repreendeu, porque ele nunca ficava perto de você, com medo de levar bronca. Olha pra você ver, ele sempre ficava pelos cantos, sozinho, olhando de rabo de olho pra você, e se escondendo de novo. Um dia, filho, ele perguntou à mãe se podia te dar um abraço, mas ela respondeu-lhe que ainda não, que você podia não gostar, e com isso acabar brigando com ele.

      Eustáquio chorou, mas a paz no peito aumentava à medida que ia vendo o filme daquele pequeno caçula. Queria muito ir até ele agora e lhe dar o abraço, um aperto, um beijo e um "eu te amo, filho". Mas já era tarde, nada podia ser feito. Ele não sentia o amor, mas sentia paz. Eustáquio queria passar por todo o processo necessário e poder voltar, para resgatar a família e todo o amor perdido pelo caminho, por gerações e gerações.

      Olhando em outra parede, Eustáquio teve um calafrio quando viu seu "do meio", Augusto, dentro de um caixão.

      - O que é isso, mãe? - Pegou a mão da mãe, apertou, ficando assustado com a visão.

      - Infelizmente, seu filho terá uma breve vida, e desencarnará de forma trágica, violenta, na rua, mas antes agonizará por um tempo, jogado ao chão, sem ninguém o encontrá-lo. Todos nós temos o livre arbítrio, e Augusto fez sua escolha, uma escolha errada, devido ao ódio por você; traçou seu próprio caminho, andou por onde não devia, por isso a vida breve e morte violenta. - respondeu a mãe de Eustáquio, com uma voz dura, mas ao mesmo tempo doce e terna, tentando consolar o filho.

      Eustáquio chorou, chorou, chorou e pediu para sair dali agora. Mas ainda não podia se retirar: teria que assistir seu próprio enterro, e ver todas aquelas pessoas somente o olharem sem uma lágrima cair, sem nenhum pesar, sem nenhuma saudade. E somente depois, seguiria com a mãe, ao primeiro degrau de uma vida espiritual, como se tivesse nascido nesse momento, primeiro engatinhando, depois aprendendo dia-a-dia, até estar preparado para reencarnar e quem sabe assim, resgatar o amor perdido.

      Na verdade, Eustáquio não sabia, pois sua mãe não contara por não ter autorização, mas ele viria em uma família, em que sua mãe seria seu filho do meio, Augusto; e seu pai seria José, seu filho mais velho. Seria uma gestação muito difícil, com risco de aborto durante os nove meses, e nasceria debilitado, precisando de muitos cuidados. Mas os pais queriam muito essa criança, e fariam de tudo para segurá-lo no ventre da mãe, e cuidariam dele, como se fosse um tesouro; e o amariam com tanta ternura, que esse bebê teria sofrimento somente se, por seu livre arbítrio, fizesse escolhas ruins. E seu pai, o coronel que maltratou tanto sua mãe, também voltaria, e num dado momento da vida, se encontrariam; e esse pai, como amigo, tentaria de todas as formas levá-lo ao caminho ruim. Caberá ao amor e a educação dos pais, não permitir que isso aconteça.

      Mas isso é uma outra história.

      FIM!

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Um ótimo fim de semana para todos!

Agradeço a todos que me visitaram esta semana, que leram, e agradeço aos que comentaram carinhosamente.
Assim que possível retribuo a visita. Demoro, mas vou!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Agora Inês é morta - parte IV

Continuação...

Este texto contém cenas fortes, impróprias para menores de dezoito anos.



      Eustáquio, em estado de choque, questionava a mãe que ali permanecia calada, esperando o momento do enterro para poder seguir pelo caminho espiritual:

      - Mãe, a senhora nunca me deu um abraço sequer... nem o pai... por que está aqui agora, do meu lado? Acho que não preciso de ninguém agora, já que não fui capaz de transmitir nada, de não dar amor, carinho, atenção àqueles que mais amei na vida. Onde está o pai numa hora dessa? Por que não está aqui com a senhora, pra me mostrar toda essa culpa que carrego agora, e que não adianta fazer mais nada, já que a vida eu não tenho mais?- perguntou, em tom de arrogância, como sempre foi.

      - Ele está em outro plano, ainda evoluindo. Não nos encontramos mais, não sei mais dele. Você sempre foi muito parecido com ele, sempre seguiu seus passos, sempre foi seu espelho. Não podia ser diferente agora. A diferença é que o tempo muda, e os valores que antes eram impostos, hoje não são mais. Essa rigidez toda que  você carregou durante a vida, você ainda vai carregar, até que consiga o perdão de todos eles. Enquanto isso não acontecer, viverá em agonia e todas as dores que sentiu até agora, sentirá até que o último herdeiro o perdoe. Se isso não foi feito em vida deles, vocês terão uma nova chance, voltando à vida, numa outra oportunidade, e se encontrarão, para se amarem e se perdoarem. Nascerão de novo,  mas ainda não posso revelar, pois não tenho autorização. - respondeu a mãe, calmamente, passando a mão em sua cabeça, como que para tranquilizá-lo e não ser interrompida enquanto falasse.

      - E quanto tempo isso vai demorar? - um resquício de esperança invadiu Eustáquio, por saber que logo poderia ficar em paz, sem essa agonia no peito, essa dor numa alma que não tem coração, mas sente todas as dores que seus filhos e esposa sentiram.

      - No tempo terrestre: por volta de 300 anos. - respondeu a mãe.

      - Por que a senhora está me acarinhando agora que não preciso mais disso, não preciso transmitir mais afeto e amor pra ninguém. E mesmo que o faça agora, não sentiriam e não saberiam.. - Eustáquio abaixou a cabeça e completou: - olha só pra eles, dá pra sentir o alívio por minha morte! Nunca senti dor maior que essa. Não sabia que almas sofriam, mãe... Me diz por que nunca sequer me abraçou?

      A mãe apontou em outra parede, onde começou um filme com Eustáquio ainda criança. Brincava sozinho mas era sempre repreendido pelo pai. Não podia rir e muito menos chorar, que era logo repreendido. Essa fase ele já havia esquecido; aliás, boa parte da infância foi esquecida com o tempo, com um treino que ele fez quando era mais velho, para não se lembrar do descaso como era tratado por seus pais. Vendo essas imagens, Eustáquio chorou como uma criança. Tantas lembranças doloridas, tantas vontades de comer doces, ou algo que algum coleguinha comia e não lhe oferecia, e quando pedia à mãe, esta apenas dizia que aquilo era coisa de gente rica, que era ruim, que não tinha dinheiro para esbanjar com porcarias. Isso lhe doía tanto que não conseguiu continuar olhando aquelas cenas. Mas logo depois mudaram as cenas para a intimidade do pai e da mãe. O que viu fez com que tivesse ânsia, apesar de não ter mais como colocar para fora todo aquele nojo que via, que era obrigado a ver, tamanha crueldade que o pai praticava  com a mãe. O pai, considerado um coronel  dos mais agressivos da região, obrigava sua esposa a ficar imóvel e nua, deitada na cama, enquanto ele, munido de vários objetos nada comuns, como armas de fogo e facas, lhe enfiava em todos os orifícios possíveis, com ameaça de que se ela mexesse, puxaria o gatilho ou afundava a faca até lhe sangrar. E qualquer ameaça de contar a alguém, puxaria o gatilho, matando-a e se mataria em seguida. Não lhe restava outra atitude a não ser ficar em silêncio, aguentando e obedecendo o esposo. O amor pelos filhos era tanto que a mãe se sujeitava às dores de tortura, por medo que o esposo fizesse alguma maldade com as crianças. Essas dores, a destruíram pouco a pouco, em silêncio, mas não era maior do que a dor de imaginar aquele monstro colocando as mãos em suas crianças. Não suportaria, e por esse motivo, todos os dias pedia forças aos céus para aguentar firme toda a dor corporal, mas que a dor da alma, ela entregaria a Deus, que saberia como cuidar quando ela finalmente desencarnasse. Eustáquio também deixava bem claro que não queria filhos mimados. Ele gerara homens, portanto homem que é homem tinha que ser rude, severo, e o mandante da casa.

      Eustáquio não se conteve e desfaleceu no colo da mãe. O sofrimento o atingira em cheio, como se estivesse num circo, onde era amarrado à uma roda, e cujo atirador de facas lhe acertava uma a uma, mas não o matava. Continuava vivo, sentindo o sangue lhe jorrar do corpo e formar uma poça no chão, até a última gota, para finalmente fechar os olhos e morrer. Morreu de novo ao ver e sentir tudo aquilo. Naquele momento, um ódio lhe tomou por completo, por seu pai que não estava ali, mas que se ele pudesse lhe atacaria o colarinho e o lançaria longe, e praticaria todo o terror naquele corpo macho, em todos os orifícios, e olharia bem nos olhos daquele que nunca sequer lhe passou a mão na cabeça, e por fim, puxaria o gatilho; mas não para matá-lo, mas para vê-lo sofrer, agonizando até lhe secar todo o sangue, formando aquela mesma poça que viu formando, quando o atirador de facas fez o mesmo, lançando uma a uma, em seu corpo.

       Nesse momento, a mãe de Eustáquio colocou as duas mãos em sua cabeça, tentando acalmá-lo, mesmo ele estando desfalecido em seu colo. E disse que todas essas dores que permanecia por gerações e gerações era por consequência de uma vida sem perdão. As pessoas morriam odiadas e seus herdeiros se sentiam aliviados por terem ficado livres de tal presença.

      Aos poucos Eustáquio foi abrindo os olhos, olhou para a mãe e pela primeira vez, passou a mão em seu rosto, carinhosamente.


Continua...


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Agora Inês é morta - Parte III

Continuação...


      Depois de um tempo em que Eustáquio estava sem forças, tempo este diferente do nosso, agora já restabelecido e amparado pela mãe, ele firmou no seu filho do meio, Augusto, o mais calado de todos. Começou a visualizar desde sua infância, no tempo de primário, ao qual era um excelente aluno, sempre tirava boas notas e nunca dera trabalho aos pais e aos professores. Era um anjo em forma de gente. Bem, era isso o que todos pensavam, quando olhavam e conheciam Augusto. Mas agora toda a verdade mostrada ali, numa das paredes daquele fétido velório; sem choros, sem lamúrias.

      Eustáquio via seu "do meio" com os olhos da alma, nua e crua, e não gostou nada do que viu. Primeiro, na infância, Augusto furtava de seus amigos, qualquer objeto disponível, quando seu dono não estava de olho. E guardava na cueca, sem que ninguém visse, e em casa, guardava numa caixa que era trancada à chave. Segredo seu e somente seu, que agora era desvendado pela alma do pai. "Mas por que ele roubava, se tinha tudo o que precisava?" - perguntava à mãe, que apenas o olhava e continuava calada. Na verdade, os furtos de coisas banais, baratas e sem nenhum significado para ninguém, era uma forma de suprir a falta de carinho e de atenção que Augusto tivera durante toda uma vida. Não tinha o amor do pai, mas tinha o que quisesse, mesmo pertencendo aos outros.

      Já adolescente, Augusto, com sua inteligência, incomodava os demais no ginásio, e com isso sofria agressões morais, torturas corporais que não apareciam, e que o faziam ficar sempre isolado em um canto. Era um menino que tinha ódio das pessoas, apesar de ser dócil com todos. Cultivava a vingança, planejando torturas, assassinatos, roubos cinematográficos, tudo por conta de uma vida totalmente de indiferença, de falta de atenção, em sua casa.

      Não tinha ódio do pai, admirava-o por sua severidade, por seu pulso forte, voz firme e dizia que tinha que ser assim mesmo, para se conseguir o respeito de todos. Eustáquio assistindo tudo aquilo conseguiu sorrir e se orgulhar do sentimento que seu Augusto tinha por ele. Mas não entendia porque praticava os furtos e forjava culpa nos outros alunos, além de programar mortes imaginárias, no banheiro do colégio em que estudava. Uma das mortes programadas: Augusto chamaria um de seus desafetos ao banheiro, e lá, de surpresa, tapava-lhe o nariz com um tecido embebido de éter ou álcool, até que desmaiasse, depois enfiava sua cabeça no vaso sanitário, até que morresse afogado. Fechava a porta, saía dali e muito tempo depois, voltava ao banheiro e por coincidência achava o corpo do jovem. Aí chamava todos e pronto! A culpa era tirada de suas costas. Ninguém via e ninguém sabia. Isso assustou muito Eustáquio que assistia as cenas, deixando-o com a boca aberta e uma lágrima escorrendo pelo rosto. Como podia um ser tão doce, tão inteligente, ser completamente louco?

      Pior ainda foi saber que o filho era homossexual, que tinha atração por homens desde sempre. Mas tudo escondido à sete chaves. Isso foi a pior visão que Eustáquio estava tendo até então: seu filho doce, inteligente, beijando outro homem na boca e tendo relações amorosas, em qualquer beco escuro que encontrasse pelo caminho. Pior ainda... Augusto fazia programas sexuais, num bairro longe de sua casa, transvestido de mulher, para não correr o risco de ninguém o reconhecer nunca. Eustáquio, que pensava ter o total controle de todos os seus protegidos, não acreditava no que via. Sentiu nojo de si mesmo, por nunca ter prestado atenção na demasiada bondade de seu "do meio", e com isso tê-lo corrigido enquanto era criança. Mas quem poderia imaginar uma coisa dessa? Augusto quase não abria a boca para nada, não reclamava de nada. Apenas seguia as ordens do pai. Não tinha feições no rosto de alegria ou tristeza ou preocupação; era sempre a mesma cara, todos os dias, todas as horas.

      A última cena de Augusto, vista por Eustáquio, foi dele chorando pela morte do pai, escondido, no banheiro. Até agora o único que realmente sentiu sua morte, pois não tinha mais em quem se inspirar para calcular bem todas as vinganças que um dia faria, com todos que um dia o humilharam ou o trataram com indiferença. Eustáquio chorou mais uma vez e pediu perdão a Deus, por sua falha com uma criatura ao qual chamava de filho "do meio". E uma angústia lhe atingia o peito por pensar que fora exemplo para o filho, mas um exemplo para o mal, para a vingança, para o ódio.  Exemplo este que Eustáquio sentia quando era criança, por seus pais, que sempre o trataram um tanto pior, como ele tratava sua família. Começou a encarar a mãe, que permanecia do lado, de cabeça baixa e o tempo todo segurando sua mão e vez ou outra, passando-a em sua cabeça, como uma forma de lhe aliviar as dores por todas as revelações nesse momento em que passara para o lado dos mortos.

Continua...

terça-feira, 8 de maio de 2012

Agora Inês é morta - Parte II

Continuação...

  
      Naquele momento de dor, de tortura e sofrimento em que Eustáquio via sua esposa, naquelas cenas de sua vida, passadas em uma das paredes daquele cômodo frio, onde estava sendo velado, não se conformava por não ser idolatrado como imaginaria. Muitas vezes comentava isso com Maria Isadora: - "Como será quando eu morrer? Será que vai caber todo mundo aqui? Todos os meus amigos, conhecidos e parentes? Tem  os amigos da cidade aqui perto, que com certeza também virão. É, não vai caber todos aqui não." - e ficava imaginado a cara de tristeza e a dor de cada um, que ele achava que lhe seria grato, por uma ajuda ou conselho que havia prestado. Pensava que a gratidão de todos, por ele existir, seria eterna.

      Mas o que via agora, eram poucas pessoas, poucos parentes e ninguém da cidade vizinha. Isso o deixou sem entender, já que esperava o desespero de muitos, por sua partida.

      Seu filho mais velho, chegou até sua mãe, colocou uma cadeira perto da sua, segurou sua mão e ali permaneceu, em silêncio, também olhando para o nada. Eustáquio firmou nesse filho e teve calafrios quando as cenas de sua relação com o primogênito apareceram em uma das paredes daquele lugar frio e quase vazio: sempre que José, o filho mais velho, entrava em seu quarto - o único filho que tinha um quarto minúsculo só dele - maldizia seu pai, desejando-lhe uma breve vida, e que quando morresse, iria tarde demais, e que fazia questão de cultivar todos os dias que não o amava. Apenas o suportava e o respeitava como pai.

      Voltando o filme uns anos, quando José entrou na faculdade, todo feliz a contar ao pai que com o salário de seu trabalho, daria conta de pagar por seus estudos, apenas ouviu de seu pai que não fazia nada mais do que a obrigação de estudar, já que o colocara no mundo para trabalhar, estudar e se virar dali para frente. E viu quando José entrou em seu quarto e rogou todas as pragas possíveis ao pai, desejando-lhe a morte naquele dia mesmo. Eustáquio quis morrer de novo, vendo a raiva e o descaso do filho. Não aceitava que fora um pai somente no papel e que o tratara sempre com muita indiferença. Tinha perfeita convicção de que fizera o melhor, dando a melhor educação que estava ao seu alcance e chamou o filho José de ingrato por sua atitude revoltada.

      Voltando mais um pouco, quando José participou de um concurso de redação em sua escola e ganhou o prêmio. Não contou nada ao pai, por medo de lhe estragar a alegria de ter conseguido disputar com outros oitocentos alunos e ficar em primeiro lugar. Queria curtir a felicidade sozinho, e com sua mãe, que tanto carinho e atenção lhe dava. Mas não adiantou esconder, pois num belo dia, um professor de sua escola foi até sua casa lhe levar o prêmio, já que estavam em férias escolares: uma caderneta de poupança com um depósito de cinquenta cruzeiros. Nunca havia ganho dinheiro nenhum, e com inteligência, ganhou no concurso da escola. Eustáquio foi quem atendeu o professor, ficou feliz, arrepiou, mas isso lá fora, pois quando entrou para dar a notícia à esposa e ao filho, foi totalmente indiferente, como sempre foi, apenas dizendo que não fazia nada mais do que a obrigação em ser o primeiro da turma. José entrou em seu quarto e chorou, e a dor era tão forte que fez com que Eustáquio, agora vendo tudo isso, sentisse um punhal a lhe transpassar o peito, atingindo o coração em cheio. Mas ainda assim,  não entendia como podia um filho odiar o pai como José o odiava. Pais são sempre pais, e o amor por eles existe automaticamente. Era assim que pensava Eustáquio, com toda a arrogância que tinha e que ainda cultivava, mesmo já não estando mais vivo.

       Numa ocasião, José que completava cinco anos, sua mãe, dona Maria Isadora, lhe preparou uma festa, convidando muitas pessoas. Ele adorava festas, pois se encontrava com os amigos, que podiam vir à sua casa, sem que ficasse vendo  a cara carrancuda do pai, que ficava incomodado com seus amigos. Na hora de cantar parabéns e soprar as velinhas, José soprava, elas acendiam, ele soprava e elas acendiam; até que seu pai, com toda a imponência, começou a criticar o filho, dizendo que não prestava nem para apagar uma vela. José não suportou, apesar de seus cinco anos, e chorou ali mesmo, na frente de todos, e o ódio por ele era tanto, que fez com que Eustáquio, vendo tudo agora, perdesse forças, e sua mãe que o acompanhava, o segurasse, pois havia ainda muito para ser visto.

      Enquanto Eustáquio assistia todas as cenas com o filho José, não suportou a dor, e um pequeno arrependimento lhe bateu naquela hora. A dor imensa de ver um filho apenas o suportar e não o amar era tamanha, que Eustáquio começou a implorar a Deus, uma nova chance, uma forma de voltar no tempo e mudar aquela sua atitude grosseira. Queria pegar aquela criança no colo, abraçar e dizer que o amava, que era muito querido, que era uma joia que tinha em casa. Mas como nunca, durante toda a vida, Eustáquio ouviu a palavra amor, era praticamente impossível passar este sentimento, demonstrar em forma de palavras e gestos. Apenas transmitiu o que sempre aprendeu.

      E agora, morto, chorava. Não chorou enquanto estava vivo, mas agora, vendo o filho o odiar tanto, também nunca havia sentido tamanha dor. Chorou... e chorou, descontroladamente. Depois fechou os olhos, e pediu perdão ao filho, e a Deus, por sua rigidez e sua frieza. Será que valeria agora, pedir perdão? Deus aceitaria? Seu filho ouviria, sentiria? Como chegar ao coração do filho, um arrependimento de uma pessoa que o amava muito, mas que não soube como demonstrar o amor necessário? Eustáquio se viu frágil, como nunca imaginaria ser; e de certa forma agradeceu por estar morto, pois a vergonha de saber de um sentimento ruim quando ainda esta vivo, o mataria de outra forma, aos poucos, como se o coração fosse necrosando aos poucos, até a morte do órgão por completo.


Continua...

   

 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Agora Inês é morta - Parte I

 
      O dia amanheceu brilhante, sem nenhuma nuvem no céu, outono, um friozinho gostoso, tempo seco, com as folhas das árvores caindo e se aconchegando nas calçadas e ruas, esperando uma ventania que as leve a algum lugar desconhecido.

      Apesar dessa frieza toda, a família Oliento permanecia unida; todos de cabeça baixa e em silêncio a velar o querido Eustáquio, que falecera na noite anterior, vítima de enfarte fulminante no miocárdio. Todos em silêncio e nenhum choro, inclusive de sua viúva, que vez ou outra, se sentava numa cadeira solitária, ao lado de seu caixão. Ela olhava, acariciava seu rosto gelado e petrificado, voltava a mão ao colo e ali permanecia, olhando para o nada, com um certo desprezo e ao mesmo tempo um alívio. A sensação de liberdade que a viúva sentia nesse momento, transparecia em suas feições, e quem a conhecia sabia muito bem ler o que seus olhos, que olhavam para o nada, diziam. Seus filhos, num total de três, todos homens, ficavam de olho na mãe, caso ela precisasse de alguma coisa, ou algum apoio. Mas estava tranquila, Maria Isadora era mulher forte, guerreira, e talvez por este motivo não tenha sentido dor com a morte do marido. Eustáquio era um homem sério, severo, defensor dos bons costumes, da obediência, dos valores do século passado, e não aceitava nada menos do que ser obedecido com suas ordens. Nenhuma lágrima...

     Tanto a viúva quanto os filhos sabiam que a vida continuaria como sempre foi, agora com menos ordens, menos rancores, menos regras impostas que eram obrigados a seguir. Não sofriam com o final trágico do sargento Oliento, o que para muitos, era considerado como uma atitude fria e totalmente carente de amor e agradecimento. Mas sabiam como era a vida desde sempre, com uma pessoa rude, autoritária, arrogante e que se achava o centro do universo e o dono da palavra.

      Enquanto todos ficavam em silêncio no velório, Eustáquio, acompanhado de sua mãe, também falecida, assistia a tudo, estupefato e pasmo. Ficavam de certa forma flutuando, num canto da sala, de modo que pudessem ver todos, mas ao firmarem em uma pessoa, viam apenas aquela pessoa, como se todo o restante  sumisse. Não entendia como a família que ele cuidou, educou, sustentou, não tinham a sensibilidade de chorar por sua morte:

      - Mãe, - dizia à sua mãe - eu cuidei deles, por que não conseguem chorar minha partida? Nunca deixei que nada faltasse, sempre tiveram tudo do bom e do melhor, tudo com meu trabalho e esforço, eduquei todos com o melhor método que aprendi! - resmungava com sua mãe, insatisfeito e querendo mudar essa situação.

      - Filho, você colocou pedra no coração e passou pedra para eles... - respondia sua mãe, tentando explicar o motivo de tanta frieza - Você nunca demonstrou amor e nunca sequer ouviu o que tinham para dizer. Somente você falava e nada ouvia.

      Eustáquio ficou observando sua esposa Maria Isadora e um filme veio à sua frente, desde quando se conheceram. Como era linda a menina dos olhos cor de mel, que caminhava cabisbaixa pelas ruas de terra, num dos bairros mais pobres daquela pequena cidade. Foi amor à primeira vista. Logo foi pedir sua mão  ao pai, que o aconselhou a respeitá-la e a tratá-la com carinho. E foi o que pensava ter feito desde aquele dia.

      Agora morto, podia sentir toda a dor e tudo o que passaram, enquanto estiveram juntos. E lances rápidos, como um filme, começaram a aparecer na sua frente, desde que se casaram. O que via e o que sentia vendo sua esposa, era choro, dor, revolta, nojo e humilhação. Agora ele enxergava o quanto arrogante ele fora esse tempo todo com aquela que o desposara. Numa ocasião, Maria Isadora com dores pelo corpo, devido aos trabalhos domésticos, se deitou e queria apenas dormir. E Eustáquio, com toda a imponência de sargento, começou a provocá-la, querendo sexo, e que ela devia obrigações matrimoniais a ele; como esposa; ela entendia e obedecia sempre, mas depois virava para o lado e chorava quietinha, escondida, com nojo daquela situação. E lamentava por sua infelicidade ao lado do homem que havia prometido ao seu pai, tratá-la com carinho.

      Eustáquio, ainda chocado por não ser tão amado quando imaginara enquanto ainda era vivo, continuava a assistir cenas de sua vida, projetadas na fria sala do velório municipal, simples, mas limpo, organizado. "Por que velório municipal e não em minha casa, como deixei bem claro para todos?" - indagava inconformado por ter uma ordem sua desobedecida. Maria Isadora chorava, em muitas cenas, e a que mais a fazia infeliz era quando o marido chegava da rua, todo suado, e deitava ao seu lado para dormir, sem ao menos se lavar. O nojo era tanto que às vezes ela precisava se levantar e ir até o quintal, na fria noite, às vezes chovendo, só para vomitar, em silêncio, com a desculpa de ver se o cachorro da família estava se alimentando. Isso fez com que Eustáquio sentisse todo aquele sofrimento, mesmo que passado, mas agora vendo toda a cena, toda a dor voltava à tona.

      Numa outra ocasião, de muito choro e desespero por parte de Maria Isadora: Eustáquio se vê todo embriagado, se esfregando com uma mulher vadia, dessas que se oferecem nos bares da vida, em troca de uma dose de alguma bebida barata. Maria Isadora sabia de tudo, pois contavam à ela e além disso, sentia o cheiro horrível de perfume barato na roupa do marido. "Mas eu sou homem! Tenho minhas necessidades, precisava de novidades, de satisfazer meus desejos" - questionava sua mãe, que apenas o acompanhava nessa hora de despedida de sua família, para poder seguir o caminho espiritual. Mesmo com toda essa teimosia, sofria, pois à medida que as cenas iam passando, sua esposa chorando, toda a dor que ela sentia naquele momento, ele sentia agora. Na verdade nunca imaginaria o quanto sua amada sofria. Foi educado assim, na rigidez, e sempre achou esse a melhor forma de tratar todos seus protegidos. Achava que não poderia vacilar, nem ficar com carinho, com atenção demais, pois assim acabaria todo o respeito que tinham   por ele.

      Uma dor imensa tomou conta de sua alma quando viu várias cenas, uma atrás da outra, em que ele xingava e humilhava sua esposa, na frente de todos, e também seus filhos, na frente dos amigos e de quem quer que estivesse por perto. Toda a mágoa carregada por anos por sua esposa e a indiferença de seus filhos, agora Eustáquio sentia tudo, de uma vez só. Não se conteve e pediu para sair dali, pois não aguentava saber que não era amado e muito menos admirado. Ficara sabendo que o que havia entre a família e ele era tão somente respeito e medo. E ficou muito mais decepcionado quando todos souberam de sua morte e respiraram aliviados, porque agora, finalmente, teriam uma vida mais leve, sem ordens a todo o momento.

      Não poderia sair dali agora, ainda havia muito o que ver, explicou sua mãe desencarnada.


Continua...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Por que os bebês são tão fofos?


Quais os poderes dos bebês?

Simplesmente eles tomam conta, mudam toda a rotina de uma casa, têm toda a atenção de todos e reinam absolutos. Mas não são fofos mesmo?

Um ser tão frágil, que é tão forte a ponto de nascer, seja qual for o método, se adaptar nesse mundo em questão de segundos, organismo ainda em formação com efeitos colaterais, como: cólicas, otites, febres.... e fome! Bateu a fome, chorou, ganhou! Não tem o que discutir!


Um verdadeiro elo de ligação entre as pessoas: são mães que nascem junto com ele; são pais que aprendem  a cuidar, sem deixar "quebrar"; são avós babões; madrinhas disputando o posto de melhor "dinda" do planeta; são tias corujas que querem levar para passear... enfim....

Além disso, esse elo aproxima as pessoas afastadas. Quantas histórias sabemos de um simples bebê que uniu pai e filho?

E citando um fato hoje não muito comum, mas que ainda existe: pais que expulsam filhas de casa por elas ficarem grávidas, solteiras.

Mas bastou olhar aquela carinha rechonchuda e a paixão é imediata... Ninguém resiste!


Deus realmente é perfeito em tudo! Todos nós já fomos uns fofos assim, fomos amados, cuidados, educados, paparicados... e crescemos.... como o tempo passa rápido demais, não é mesmo?

Crescemos, e nem sempre a convivência com a família é fácil. Às vezes nos afastamos, nos magoamos, vamos cuidar da vida, bem longe de todos... mas até gerarmos uma criaturinha fofa dessa.

Isto está acontecendo com uma amiga minha, cujo pai de seu filho, quando se separou dela, se separou do filho também. Este foi criado pelos avós, porque ela trabalhava em outra cidade e via o filho só nos finais de semana. Hoje ele está casado e é pai de uma belezinha dessa, bochechuda, linda.... e adivinhem?

O pai dele apareceu e está babando pela neta. Muitos devem achar estranho eles aceitarem o pai, depois de tanto tempo sem sequer querer saber se o filho está vivo ou não.


A mágoa do filho abandonado deve ser grande, eu entendo; mas creio eu que estamos nesta vida para aprendermos e também para perdoarmos. Por que não então? Esquecer um passado ninguém esquece; mas ainda dá para tentar conviver, começar de novo, conversar, se entender, pedir desculpas e claro, perdoar. Carregar uma dor, uma mágoa pela vida toda é a pior coisa que existe dentro da gente.

Se quem cometeu o erro, reconhece que errou e está disposto a recomeçar, por que não tentar? Afinal é pai e filho... e agora uma neta, uma fofa bochechuda, que está mandando no ambiente, mudando toda a rotina de uma família, reinando absoluta, querendo suas vontades a hora que bem entende, querendo atenção e principalmente: necessitando de amor, gritando por amor.

Deus e toda Sua sabedoria, agindo através de nós, homens de bem, que somos carregados de defeitos, mas sempre olhamos primeiro os defeitos e os erros dos outros.


Agora vamos cuidar da vida porque hoje é sexta-feira, e quem trabalha são os adultos, e o bebê faz o que bem entender, a hora que quiser e como quiser.... pelo menos enquanto é bebê, né?


Ótimo Fim de Semana!!!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O triste fim


Perdas, partidas, términos, mortes... desapegos... como é difícil essa fase....

A morte ainda é a pior delas, mais dolorida, menos conformada, menos aceita, menos suportada...

Filhos que partem, ou para formarem uma família, ou para outra cidade, por conta de estudos, ou seja o que for: que saem debaixo de nossas asas e vão ganhar o mundo. Que difícil!

Agora, términos de sonhos, de vidas em comum, de famílias formadas... independente de como tenha sido a convivência, é muito sofrido, muito difícil. Apesar de hoje em dia isto ser comum, é uma corrente que se rompe, um laço que se desfaz, um sofrimento e um vazio que fica. São planos não realizados, acordos desfeitos, desacordos formados, dores, derrotas, fracassos...

Muitos ainda resistem e conseguem manter um relação duradoura, mesmo não existindo mais o amor. Bem, cada um sabe de sua vida e só quem convive entre quatro paredes é que sabe o que acontece.

Quando me separei passei pelo maior transtorno em que poderia imaginar. Foi sofrido, dolorido e me deixou sequelas irreparáveis que nem o tempo vai apagar. Muitos traumas, muitas dores, muitas brigas... e medo, muito medo de tudo. No meu caso, só eu queria a separação; meu ex não aceitava de jeito nenhum, e lutou, enrolou, chantageou, brigou o quanto pode para que isso não acontecesse. Mas estava decidida e não voltei atrás. Era isso ou acabaria doente ou até morreria.

Coisas de relacionamentos doentes, que apenas uma parte quer ter razão e a outra parte se cala para evitar brigas ou discussões. É claro que não daria certo. Acabou, mas ainda continua... na mente.

No momento em que fiz as malas dele e coloquei num canto... esta foi a pior hora. Não que tivesse vontade de voltar atrás na decisão, mas um sonho de uma romântica, que acabava de ser acordado. Não realizaria mais. Fim.

É inevitável uma frustração, um sentimento oco que não sabemos explicar, uma dor boa por causa da liberdade, mas uma dor imensa por desfazer uma família. Quem errou? Ninguém! Simplesmente acabou! Como tudo que é vivo um dia morre. Se acabou é porque não havia mais o amor. Acabou e pronto!

Depois de um tempo, quando fui assinar a separação judicial, outro transtorno: o ex marido me encarando, rindo, jeito sarcástico, ameaçador.... e eu praticamente me escondendo atrás do advogado, rezando para que tudo terminasse o mais rápido possível.

Muitos conselhos de todos em relação aos bens, mas que para mim não faziam muita diferença. Apenas queria acabar com aquela tortura do fim. "Mas você vai se arrepender depois", era o que me diziam. "Não tem problema, quero acabar logo com isso!", respondia, completamente apavorada pelo que estaria por vir.

Depois de algumas discussões, advogados entrando num acordo e assinamos a papelada. Pronto! Agora acabou mesmo!

Saí aliviada? Sim e não! Na verdade não sabia o que fazer com tanta liberdade daquele momento em diante.

Isso já faz quatorze anos... mas parece que foi ontem.

O que aconteceu é que não adianta apenas um papel assinado. Por que temos que assinar tantos papéis? Para uma segurança, talvez por um prêmio, um brinde, um presente? Que situação difícil. Mas lei é lei, e se existe, é melhor cumprirmos como está escrito.

Muitas pessoas que passaram por uma separação vão entender o que eu digo: uma separação é muito mais do que assinar os papéis. Não basta somente isto, e acho que os laços não se rompem assim. Pelo menos no meu caso e em muitos casos, não!

Ficam lembranças, fotos, vídeos, filhos, móveis, louças, cachorros.... tudo vai lembrar para sempre que um dia você sonhou, planejou, investiu, encarou, uniu e, acabou!

É a vida nos reciclando, abrindo espaço para o novo: para começar de novo, para sonhar de novo, planejar de novo, investir de novo, encarar de novo e unir de novo...

É a vida nos dizendo que somos capazes de amar muitas vezes, que se não tivemos a sorte de encontrar um amor duradouro, temos a chance de amar de novo, e de novo, e de novo. E recomeçar de novo, caso queira.

No fundo o que procuramos é isso: um companheiro, um parceiro, um amor que tenha todos os defeitos do mundo, mas que aceite todos os nossos defeitos e que queira compartilhar um recomeço, um novo recomeço.

É isso então...

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Para quem segue o blog da Camille, o Camélia de Pedra, está aí o novo link dela. O blog que vocês seguiam, foi cancelado e ela fez esse outro com este link.
E para quem não conhece a Camille, vamos lá fazer uma visita e conhecer um pouco de uma pessoa que tem opinião própria, e escreve textos ótimos. Clica ali, vamos.... é rapidinho. O blog está novinho, está recomeçando, mas com o tempo vocês verão que delícia ler seus textos.