terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Para os que ficam, bye, bye - Parte II

Continuação...

Leia a primeira parte


Antes que a secretária Adriana voltasse com todos os papéis, seu Antero, pensativo, se lembrava de sua infância difícil com trabalho na roça colhendo batatas numa fazenda onde seu pai era caseiro. Vida difícil, a escola mais próxima ficava a 20 km de distância e a maioria dos alunos iam de ônibus, antes de amanhecer o dia. Escola precária, onde muitos não concluíram o curso até o final. Seu Antero foi um deles, o que não o impediu de prosperar, com uma inteligência aguçada para os negócios; começou do zero e fez fortuna.
Seus filhos nasceram praticamente em berço de ouro, nunca souberam o que é comer feijão com farinha durante dias, e às vezes uma só vez ao dia. Não queria que passassem por isso, o que fez com que trabalhasse sempre o dia todo e até à noite, bem tarde, todos os dias, inclusive aos sábados.
A decepção com os filhos e a falta de sua amada Dorotéia  fez com que tomasse uma decisão que sabia que não voltaria atrás por nada neste mundo. Isso chocaria todos os funcionários e principalmente seus filhos, que para ele, não passavam de oportunistas e folgados.
Seu Antero era durão quanto a isso. Não tinha pena e nem se importava se os filhos iriam sofrer ou não. Faria o que tinha em mente e pronto.
Entra Adriana em sua sala com todos os papéis separados em pastas cinzas padronizadas, com o slogan verde na capa.
- Aqui está, seu Antero, mais alguma coisa? - perguntou, colocando as pastas sobre a mesa.
- Obrigado, Adriana, gostaria de um café, por favor! - pediu, gentilmente com um leve sorriso, e olhando a secretária.
- Claro, com licença. - saiu, como se caminhasse nas nuvens, sem fazer barulhos.
Antes de abrir as pastas, seu Antero levantou, caminhou até a imensa janela de vidros, colocando os braços para trás, segurando as mãos, olhou, olhou, olhou, fez um movimento afirmativo com a cabeça e murmurou:
- É isso, nada é eterno... tudo um dia acaba. Foi ótimo enquanto durou. - voltou, se sentou e começou a folhear as pastas, uma a uma,  separando cada um para um lado, com um bilhete dentro de cada.
Depois que tomou o café que já estava em sua mesa, chamou novamente a secretária pelo interfone:
- Adriana, convoque uma reunião com todos os gerentes e acionistas. Para hoje ainda, se possível. - disse, com uma voz límpida, mas o coração embargando um choro.
Vinte minutos depois, entra pela sala, Antoine, e vai logo perguntando:
- O que houve, pai? O que o senhor quer com todos? - perguntou em tom um pouco instigante.
- Na reunião você e os demais ficarão sabendo. - disse, num tom seco e sem olhar nos olhos de Antoine.
Logo em seguida, entra Luiz, o filho do meio e Marcos, o caçula.
- Pai, tudo bem aí? O que está acontecendo? - perguntou Marcos, num tom de deboche.
- Podem sair todos, por favor? Eu quero trabalhar, se não for pedir demais para os moços. - olhou um a um,  fuzilando os filhos com os olhos.
Saíram resmungando e rindo, como se quisesse dizer que o pai estaria louco e que não fosse mais capaz de gerenciar sua própria empresa.
Seu Antero, afastou a cadeira para o lado e acessou o computador num site de jogos e ficou a tarde toda jogando, com quem estivesse online, rindo muito, se divertindo.
A reunião seria no começo da noite, então, seu Antero foi o primeiro a chegar na sala com aquela mesa imensa e muitas cadeiras que nunca eram completamente ocupadas.
Um a um foram chegando os gerentes e os acionistas, e seus filhos também, já que eram acionistas.
Adriana, sempre se sentava ao seu lado, com um bloco e uma caneta, anotando tudo que fosse necessário.
- Bem, boa noite a todos! Como estão? Tudo bem? - perguntou, com um sorriso e olhando um por um, cumprimentando com a cabeça.
Todos responderam afirmativamente que tudo bem.
- Vou ser rápido, porque já é noite e todos nós estamos loucos para cair na noite ou cair na cama. - e deu uma risada, sempre soltando seu bom humor. - O motivo da reunião é para avisar a todos que estou colocando a empresa à venda. - calou e só ficou prestando atenção no burburinho dos comentários.
Antoine, não se conteve:
- Pai, o senhor tá louco? Perguntou em tom mais alto que o normal.
- Cala a boca, Antoine, hoje só eu falo! - e voltando para todos sentados, continuou - Já tenho propostas quase irrecusáveis há algum tempo e hoje tomei esta decisão. Em questão de dias, não me verão mais aqui; portanto, desejo a todos, uma boa sorte e um bom entendimento com o novo administrador. É só isso por enquanto; qualquer notícia, dona Adriana encaminhará à vocês! - mais uma vez, olhou um a um sorrindo carinhosamente.
Todos, sem  mais o que fazer, se levantaram e o cumprimentaram, agradecendo por tudo que havia acontecido até aquela data.
Seu Antero voltou para sua sala, pegou suas coisas e se foi.


Continua...


Leia a terceira parte
Leia a quarta parte
Leia a quinta parte

8 comentários:

  1. Hummmmmmmmmmmmmmmmm...

    Está ficando interessante, pois nunca aconteceu isso comigo há dez anos atrás!!

    Se vc quiser que eu continue esse seu conto, eu continuarei.

    Tenho muita experiência.

    Beijuxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

    KK

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  2. Muito interessante,infelizmente,hoje,se dá muita importãncia às coisas materiais! Quero ver o final de tudo,se é reamente o que estou imaginando!Obrigada pelo carinho,gosto muito de ler!Bjos.Nanci Alves

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  3. Bom dia, Nanci Alves!!!

    Seja bem vinda!
    Obrigada por seu comentário, beijos

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  4. Empolgante...Fiquei curiosa! beijos,chica

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  5. Nossa... Que decisão difícil!
    Fico tentando imaginar o que está por vir...

    Espero que seja uma mudança necessária para o bem de todos!

    Um abraço carinhoso para você!

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  6. Clara está muito interessante este conto. Nem faço idéia de como será o final.

    Bjs

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  7. Menina, estou adorando e até vou passar para frente pelo meu Blog e pelo Face. Ahah muita gente precisa aprender a viver ........ Já vi história parecida. Não sei qual vai ser seu final, mas imagino rsrsrs
    Beijos.

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