segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Para os que ficam, bye, bye - Parte I


Antero Ferreira da Silva, sessenta e cinco anos, empresário bem sucedido, casado, quer dizer, acabara de ficar viúvo.
E isto mudou completamente o rumo de sua linda trajetória de homem feliz e bem sucedido.
Ainda no enterro da amada Dorotéia, que o acompanhou durante os quarenta anos em que estiveram casados, os filhos, todos sofrendo, mas já brigando por aquilo que já achavam de direito: repartir os bens, mesmo o pai ainda estando vivo.
Os três filhos ficavam num canto, durante o velório, discutindo o que seria de quem, tanto os bens imóveis quanto as ações de sua mãe, que estava ali, no caixão. Todos ouviam e ficavam horrorizados com a cena.
Isto magoou profundamente seu Antero, que, a partir daí,  ficou acamado com depressão. Não tinha quem o levantasse, quem o animasse. Nem mesmo os netos que tanto amava.
Moravam numa casa confortável, com cinco quartos/suíte, tecnologia mais avançada em todos os cômodos, segurança vinte e quatro horas, e cachorros bravos. Além disso, dois carros importados, com chofer e tudo, tudo do bom e melhor que o dinheiro podia comprar.
Tudo perdeu o sentido, não tinha mais aquele apoio, aquele pé quentinho na noite, aquele abraço acolhedor, sorriso estonteante desde sempre. Acabou!
Nessas primeiras semanas, os filhos, três ao todo, todos homens bem formados, casados e que trabalhavam junto com o pai, o visitavam, tentando preencher a lacuna deixada por dona Dorotéia. Mas seu Antero percebia que essa atitude era só compromisso, como fazer uma obrigação. Nenhum carinho demonstrado. Isso fez com que seu Antero, apesar da dor do luto, relembrasse desde que seus filhos nasceram e como foram criados: bons estudos, abundância em tudo, mas sempre com limites, regras, condições e muitos "nãos". E também muito carinho por parte dele e de sua esposa. Será que não foi o suficiente para ter uma consideração com ele agora, que tanto sofria?
Seu Antero aos poucos foi deixando de administrar a empresa, deixando tudo por conta deles.
Um belo dia, se levantou da cama, abriu as cortinas do seu imenso quarto, viu o sol brilhar e resolveu sair do luto. Se preparou e chamou o chofer:
- Ruan, prepara o carro que vou trabalhar - falou secamente e de cabeça baixa.
- Sim, senhor - respondeu Ruan, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça.
Chegando à empresa, se surpreendeu quando entrou em sua sala e encontrou um de seus filhos sentado à sua  mesa:
- O que foi, Antoine? O que faz aqui? - perguntou ao filho, que era o mais velho, com um certo estranhamento.
- Pai, que bom que voltou! - se levantou eufórico, e foi abraçar o pai.
- Por que? Achou que eu não voltaria? - abraçou Antoine com indiferença e sentou-se em sua cadeira.
- Claro que não, pai, é que... - nem deu tempo de terminar a frase.
- Me deixe sozinho e peça a Adriana para vir aqui agora, por favor! - e foi abrindo as gavetas, revirando os papéis.
Por um momento, ficou pensando nesse tempo em que estivera sofrendo, chorando e que seus filhos, noras, netos, mal iam visitá-lo. E quando iam, era para perguntar sobre algum bem a eles de direito. E nunca, em nenhum momento, o levaram ao médico, o levaram para passear, o convidaram para um almoço... nada!
Isso foi o motivo ao qual seu Antero se levantou e, sozinho, decidiu voltar.
Antes de sair de casa, se ajoelhou no pequeno oratório que tinha em um canto especial, orou, pediu forças para  a amada Dorotéia, que onde quer que ela estivesse, que o apoiasse, e que o perdoasse para o que estivesse por vir a partir daquele dia. Chorou, chorou, chorou, se levantou e foi.
Adriana, a secretária, estava parada ali na sua frente, e seu Antero, longe em seus pensamentos, nem havia percebido.
- Seu Antero, posso lhe ajudar? - perguntou, curvando o corpo para frente, para assim seu Antero perceber sua presença.
- Adriana, traga para mim, por gentileza, todos os relatórios da empresa: balanço, finanças, almoxarife, tudo! - ordenou, com o cotovelo apoiado na mesa e a mão no queixo.
- Sim, senhor, é para já! Com licença. - saiu, discretamente, sem fazer barulho, apesar do salto fino que usava.
Seu Antero, recostou-se na cadeira, cruzou as mãos sobre o abdome e ficou pensativo. Já havia calculado tudo o que faria à partir de então.
Começou a conversar sozinho, com dona Dorotéia, certo de que ela estava ali, ouvindo-o.

Continua...


Leia a segunda parte 
Leia a terceira parte
Leia a quarta parte
Leia a quinta parte

7 comentários:

  1. Legal e pelo jeito vem muiiiiiiiiiitas surpresas por aí!beijos,chica

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  2. Pô, e agora?
    Quando teremos a segunda partw?
    Amanhã?
    Quero saber, quero saber...
    Giu

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  3. O Giu é muito afobado, imagine se você escrevesse em umas 20 partes, ele morreria de ansiedade!

    Clarinha, tão querendo passar a perna no velho, já pensam que ele passou da hora!

    Não estou conseguindo te seguir, assim que chegar em casa farei isso minha cara.

    Abração! Emerson

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  4. A história está muio boa e nos deixa ansioso para ver a continuação.

    Beijos

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  5. Já estou sentindo o cheirinho do final da história rsrsrs será o que estou pensando?
    Veremos. No próximo capítulo ........
    Beijos.

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  6. Nossa! Agora que vi as artes da Clara. Os personagens do Neo... no PC que eu acesso só dá pra ler... Muito boas as de Jesus e do Gordo e o Magro. Incríveis Clara. Demais!

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  7. Clara,adorei o começo do conto!Vamos esperar a segunda parte!...rsss...vc está cada vez com melhores ideias!bjs,

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