sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Duas irmãs - A revolta

Continuação...

primeira parte
segunda parte

Os anos se passaram, Laurene continuou trabalhando para o cunhado e Ludmila estava cada vez mais distante do mundo. Sua casa era seu mundo agora.
Laurene, agora mostrando realmente quem era, não conseguiu seu objetivo que era se casar com o cunhado. Mas ainda assim ficava dando em cima dele, seja na frente de quem fosse. Além disso, fazia questão de se relacionar com todos os homens possíveis e impossíveis, não importando se eram solteiros, casados, jovens ou idosos. Olhou para ela de um jeito diferente, já estava em suas mãos. Um horror para quem sabia dessa história; principalmente para a família do ex de Ludmila que a tudo assistia, mas não podia fazer nada. Na verdade o que Laurene realmente queria era que um homem largasse tudo por ela; se casado, largasse a esposa, se namorando; se noivo; todos os comprometidos ela fazia questão de se jogar numa relação furada. Tinha todos e nenhum ao mesmo tempo. Em datas comemorativas sempre aparecia sozinha, mas de olho aqui e ali.
Uma coisa que nunca ninguém conseguiu entender: como esse homem, agora ex, foi aprontar uma dessa com uma pessoa como Ludmila. Ainda hoje, nem ele se conforma com a situação; e desde a separação, não se cansa de dizer aos quatro cantos do mundo que ainda a ama e a quer de volta. Mas isto está totalmente fora de cogitaçao. Ludmila se afastou de todos e não quis nem saber mais de história nenhuma.
Mesmo distante, era inevitável que Ludmila não soubesse tudo o que acontecia com sua irmã. Sempre davam um jeito de contar o que estava acontecendo e com quem. Mesmo ela dizendo não querer ouvir, se trancando em casa, mesmo assim, tudo chegava aos seus ouvidos.
Isso a revoltou muito. Muitas vezes, depois de chorar muito, indagava Deus:
- Senhor, por que eu? O que eu fiz de tão perverso que mereci esse castigo? Por que o Senhor me pune tanto? Eu Lhe peço, Senhor, tire esses pensamentos, essas lembranças de minha cabeça; eu não suporto mais..."
E aos mesmo tempo, a  raiva, o ódio, a vingança eram muito presentes no seu dia-a-dia. Ficava planejando o que fazer caso encontrasse com a irmã. Iria lhe dar na cara, puxar os cabelos, xingar no meio da rua, contando para todos, todos os podres da maldita.
E para o ex-marido, lhe desejava sempre as piores coisas, até a morte! Mas, ao mesmo tempo olhava para os filhos e chorava; era o pai deles, portanto, tinha que respeitar.
Não tinha mais vida social, nem diversão nenhuma. Apenas trabalhava em casa e assistia televisão o dia todo. A família, mesmo assistindo a tudo isto, nada fazia; apenas achava que era normal esta atitude. Ludmila era uma morta viva; um estado de coma. Não se lembrava mais de Deus, não queria saber de Deus, queria ficar sozinha para planejar toda a sua vingança doentia.
Laurene, sem se controlar, além de se envolver com todos os homens, também roubava do cunhado. O salário era pouco, mas tinha tudo do bom e do melhor, como ela sempre quis. Só não tinha se casado com ele.
Um dia, uma notícia chegou até Ludmila: um dos funcionários da empresa do ex havia falecido. Tão jovem, trabalhador, bonito... Faleceu de quê? Era portador do vírus HIV; tinha contraído o vírus por ser viciado em droga injetável.
Ludmila gelou:
- Gente, a maldita também se envolveu com ele! Eu me lembro disso! E agora?
Tudo era verdade, a irmã também, por se achar a toda poderosa, tinha agora, o vírus HIV.
Mesmo com todo o ódio, toda a mágoa, toda a angústia, Ludmila ficou pensativa e inconformada. Como naquele poema: "Maria que amava João, que amava Denise, que amava Roberto, que amava Laís, que amava Tiago, que morreu com AIDS."
À partir de então, algo mudou em sua vida. Depois de tantos anos, aquela amargura toda, a revolta, a vingança, estavam com os dias contados. Começou a agradecer à Deus pela saúde, pelos filhos, pela casa, pelo alimento, pela força que tinha até então, e agradeceu também por ter enxergado todos que lhe fizeram mal, todos que se afastaram, inclusive o ex-marido e principalmente a irmã traidora. Toda aquela vingança perdeu sentido, todo o ódio se transformou em compaixão, e, teve pena da irmã. Uma vida toda desperdiçada com um sentimento tão mesquinho: a inveja. Nunca viveu sua vida, sempre quis a vida do outro para si; não procurou seus valores, colocou todo o seu foco nos valores materiais e, se ninguém tiver piedade, acabaria morrendo sozinha, isolada...
Começou a escalar o poço e subir cada dia um pouco, até finalmente chegar ao topo.
Estava resolvida a não mais pensar em ódio, nem vingança, nem nada. Esqueceria dessas pessoas e continuaria sua vida com seus filhos, da melhor forma possível.
Os anos foram passando e Ludmila voltou a ser aquela pessoa iluminada que sempre foi, agora com novos amigos, novo trabalho, os filhos já crescidos e bem encaminhados; e mesmo que chegasse alguma notícia de sua irmã, ouvia, mas se esquecia imediatamente. Não tinha mais ódio porque não se lembrava mais.
O ex-marido, até hoje, a procurava para quem sabe, reatar o casamento. Ela conversava com ele normalmente, como um amigo, mas sempre dizia a mesma coisa:
- Não!
Laurene, sonsa como sempre foi, ignorou a doença e continuou sua vida mundana, espalhando o vírus por toda a cama que deitava, agora em um outro emprego, longe de tudo e sozinha. Seu filho já moço, por não ter uma base sólida, se envolveu com drogas, foi preso algumas vezes e sempre alimentou a mesma inveja, como sua mãe.
Muitas vezes, em todo esse decorrer da vida, Ludmila desejou ser uma pessoa ruim, de mau caráter, para poder fazer todas as maldades que queria com todos que a traíram e magoaram.
Mas já nasceu iluminada, abençoada por Deus, que apesar de pensar estar longe d'Ele, nunca a abandonou, e a fez seguir a estrada que sempre seguiu: agora com os amigos certos, o lugar certo, a mesma índole, o mesmo caráter, o mesmo amor, a mesma ternura, agora uma nova mulher, livre do passado e pronta para o futuro.


FIM

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7 comentários:

  1. Bom dia,Clara!!

    Puxa...ainda bem que ela seguiu por outro caminho.Raiva, vingança só faz mal a quem mantem estes sentimentos.Nunca é bom.Só aumenta os piores sentimentos atraindo assim cada vez mais tudo de ruim...
    Cada um colhe o que planta.|Cedo ou tarde volta pra nós...
    Façamos o bem.Sem esperar retorno.
    Apenas porque é o certo.
    beijos querida!!Tudo de bom!
    Bom final de semana!!!
    **Obrigada!!!

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  2. clap, clap ,clap .....(palmas)
    Parabéns.
    Sorte a Ludmila e muita luz.
    Bjus
    Bx.

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  3. Uma saga familiar que causa feridas, mas tbém produz a resiliência salvadora.Ludmila encarnou bem este fenômeno e deu um bonito desfecho á história.
    Gostei muito, Clara.
    Bjos mil,
    Calu

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  4. Desejo-lhe bom fim de semana.

    Saudações poéticas

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  5. Clara,a inveja, a mágoa e o desejo de vingança não levam a lugar algum!Ficou super legal o final do seu conto!Ela retomou sua vida,apesar de tudo que sofreu!Bjs e bom fds!

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  6. Tem sentimentos que precisamos esperar passar para depois ter atitude...beijo Lisette.

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  7. Clara querida,

    Demorei um pouquinho... mas vim. Ainda bem que Ludmila escolheu a compaixão... conseguiu escapar do veneno que colocaram no seu caminho. Laurene, pobre, escolheu não viver. Mas há muita gente que prefere isso... vai entender. Belo trabalho o seu. Girassóis nos seus dias. Beijos.

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