segunda-feira, 2 de maio de 2011

Deusa



Todos os anos, uma vizinha minha faz excursão pra Thermas dos Laranjais, um parque aquático que fica na cidade de Olímpia.
E esse ano fui. E Dona Deusa também. Deusarina o nome dela.
Uma senhora de 62 anos, muito bem apessoada, que, segundo ela mesma se define, ainda dá um bom caldo. Sem contar que seu estado civil é viúva, desquitada, viúva, viúva e à procura. Sim, ela não desiste, está à procura.
E nessa excursão ela fez questão de ir, porque o cunhado da vizinha, o Seu Adalberto Ribeiro, que também é viúvo, também ia.
Ah, há muito tempo já se olhavam, se paqueravam, já até conversavam. Mas o véio não desatola a coitada.
No dia anterior, arrumar a pequena mala: maiô novinho, preto com bordô - lindo, rasteirinha de saltinho, porque chinelinho não ia pegar bem, saída de banho toda de crochê bege, um chapelão de palha, com um lenço de seda amarrado. Fez as unhas enormes, pintando-as de vermelho paixão, pintou os cabelos de acaju e comprou um batom cor-de-boca pra combinar com a cor dos cabelos.
Mal conseguiu dormir durante a noite. O despertador a acordou às 4, tomou café, pegou a malinha e foi pra frente da casa da vizinha. Nossa, Dona Deusa estava simplesmente... uma Deusa.
Entrou, tomou o seu lugar, como todos, e partiram.
Levantou a cabeça, olhou prum lado, pro outro e cadê o Seu Adalberto Ribeiro? Não viu...
Correu pra vizinha e perguntou.
- Ah, Dona Deusa, ele não pode vir, a gota o atacou e ele não estava conseguindo colocar os pés no chão.
Voltou pro seu lugar e começou a resmungar e a xingar tanto o véio, que por telepatia, a gota deve ter piorado muito.
Chegou, empinou o nariz e foi desfilar com seu maiô novinho.  Seu corpo parecia, digamos, uma azeitona, com as pernas bem finas, e os seios quase no umbigo. Mas xingando o tempo todo o Seu Adalberto Ribeiro.
Andando devagar, por causa do saltinho, chegou até a um escorregador, onde todos estavam se divertindo muito.
- Quer saber, eu vou! Foi, escorregou – plaft , toing - caiu como uma jaca podre. Levantou, meio zonza, todos a olhando e rindo, principalmente as crianças (criança é cruel). Sentiu um ventinho no peito e, ao olhar pra baixo – o toing - um dos seus seios de fora.
Arrumou o danado e continuou xingando o Seu Adalberto Ribeiro.
Andou por todos os lados, tirou fotos, comeu, bebeu, xingou muito e foi visitar o mini-bosque.
Na entrada a placa: Não entrar com óculos, nem bonés, nem blusas com botões. Por que será, pensou ela. Entrou.
Ah, não deu outra – vruuummm -  uma arara azul com amarelo a pegou de jeito, tomou-lhe até o chapéu.
E ela desesperada, gritou por socorro... e apareceu o socorro de nome Seu Devair - que também estava na excursão e de olho nela.
Seu Devair a tirou de lá, convidou pra um refrigerante e quando ela se deu por conta, tinha esquecido o Seu Adalberto Ribeiro.
Chegaram da viagem já como namorados.
A primeira atitude de Dona Deusa?
- O Devinha, vamos ali na casa do Seu Adalberto Ribeiro, coitado, tá com gota...
- Ô, Seu Adalberto Ribeiro, eu vim ver como o sr. está... Ah! Esse aqui é o meu namorado: o Devinha!
Mulheres, mulheres, mulheres...



2 comentários:

  1. Clara....não sei se isso é verdade ou fruto da sua imaginação, que eu sei que é super fértil, mas a história é muito boa......

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  2. Camila, eu tenho até medo de ficar imaginando coisas... não é real!

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