segunda-feira, 28 de março de 2011

Azul necessário

Dia desses, andando de circular - às vezes circular é pior que salão de beleza - andando de circular fiquei escutando, sem querer, eu juro, o papo do cobrador. Um senhor dos seus 70 anos - eu acho que é mais - bem magro, daquele tipo que fuma cigarro de palha, chapéu na cabeça (não estava de chapéu dentro do ônibus, eu apenas deduzi), óculos quadrado e pouco grosso, os dentes grandes e escuros.
E falava dos forró da vida, das muié da vida, da vida de viúvo, etc.
Silêncio no ônibus enquanto o tal discursava num convencimento que chegava a doer:
- Cê precisa vê, as muié num larga do meu pé, lá no forró... Dá até briga... Porque, uma coisa que sei fazer é dançá forró... É só encaixar na mulher, apertar bem forte a cintura e rodopiá... Homi do céu, só falta elas me beijá...
- Isturdia (outro dia), teve até briga... Rapaz, eu saí foi de fininho...
O ônibus pára e entra uma senhora dos seus também 70 anos - eu acho que é menos. Uma senhora com cara de forró... Tipo azeitona espetada em dois palitos, cabelo um pouco armado, preto, e óculos redondo de sol (made in china).
- Oi, Soizé, cumé que tá? Bão?
E se sentou no banco perto do cobrador.
E papo vai, papo vem, ele contando toda a lorota do forró, que era viúvo, que tinha a mulher que queria a hora que queria e etc...
E ela com aquele zoião de quem tá necessitando soltou:
- Cê não qué namorar comigo não, Soizé? Vai lá em casa hoje de noite...
Uia, não aguentei e disse...
Gente... Não teve um que não olhou pra minha cara e caiu na gargalhada!!!
E eu me levantei e fui sentar lá atrás, onde ninguém sabia da história.
Mas antes, escutei o cobrador dizendo pra 'moça':
- A, mas hoje não dá, eu tenho que i na casa do meu fio, vê meu neto, que deve de tá com saudade...
- Isturdia eu vô.
Sei, Soizé, sei... Aquele quadradinho azul que se compra na farmácia funciona, viu?



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